quinta-feira, 19 de agosto de 2010

DEPOIS DE RUY MOREIRA, A ILHA DE COTIJUBA

No céu azul salpicado de nuvens brancas, o sol furioso do mês de julho. Verão amazônico. A cidade inteira dava um jeito de escapar. Os destinos eram variados e logicamente dependeria do bolso de cada um. Só o que não valia era ficar em Belém torrando. É claro que haveria algumas pessoas que não teriam outra opção, mas escapariam nos finais de semana. Acontece que naquelas férias de julho eu estaria esgotado mental e fisicamente. Vida de calouro não é fácil, cabôco. Textos sem sal e trabalhos por cima de trabalhos; pressão, ônibus lotados, trânsito congestionado e os centavos contados. E ainda por cima a antipatia pelo curso. Naquele 1° semestre, eu rezava pelo Edital de Mobilidade Acadêmica. Enquanto o edital não vinha, eu precisaria tirar notas convincentes e aprender a suportar. Por sorte eu era um cara muito determinado, e não estava mal nestes quesitos.
E eu caminhava com uma enorme mochila em direção ao trapiche de Icoaraci. Na cabeça ainda martelava os conceitos de Reclus, La Blache, Brunhes, Sorre, George, Tricart entre outros clássicos das matrizes originárias da Geografia. “O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes clássicas originárias”, Editora Contexto – São Paulo, 2008, do autor Ruy Moreira, certamente, era um texto de alta realização. Um texto claro, direto e bem pontuado, períodos curtos que não nos perdiam, mas antes nos levavam para uma leitura prazerosa, sem ser superficial. Ruy Moreira sabia como usar as palavras e havia nele quase paixão e ardor. Isso me fora um descoberta agradável. A Geografia parecia ter bons escritores. (E eu ainda estava por conhecer Milton Santos).
Embarco em um pequeno pô-pô-pô lotado. Desatracamos do trapiche de Icoaraci e navegamos pelas águas calmas daquela manhã de sol a pino, em direção a Ilha de Cotijuba. Eu precisava de descanso e algumas ressacas.

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