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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Por uma visão holística


Fazendo minha estreia como colaborador do Versos Rascunhos, posto este texto de 2008. Será um prazer doravante contribuir com a construção deste blog.           

                                                                                                                                                                                            Daniel Sombra


            O Brasil foi a última nação do planeta a abolir a escravidão negra, o que só ocorreu devido à extrema pressão dos ingleses, ansiosos pela expansão do recém-criado mercado consumidor brasileiro. As conseqüências dos quatrocentos anos escravocratas, embora camuflados, ainda estão presentes no cotidiano nacional.
            Nossa nação, devido à colonização, possui uma raiz multi-racial, todos nós sabemos. Nem todos sabem, porém, que a população negra do Brasil é a segunda maior do planeta – perdendo em termos percentuais apenas para a Nigéria, e vencendo todas em termos absolutos. Contrastando com esta realidade, os negros são rotineiramente chamados de “minoria” no contexto nacional. Em números absolutos essa expressão é equivocada, pois eles são majoritários. Entretanto, na participação efetiva da vida política, econômica e social do país, eles, de fato, são minoritários.
            O preconceito não é exatamente a razão disto. Este problema, na verdade, começou com os ex-escravos excluídos da sociedade capitalista, cujos filhos também não foram inseridos na estrutura do sistema, repassando o caos social para as gerações posteriores. O fato é que na mentalidade da elite urbano-industrial, e, por conseguinte, das massas alienadas, o preconceito racial e alguns outros persistem guardados de modo passivo. Mas, uma vez estimulados, provocam explosões de fúria.
            Tais explosões manifestam-se em qualquer situação cotidiana, como em uma disputa por uma vaga no mercado de trabalho, por exemplo. O negro que conquista uma vaga é tratado como alguém que usurpou o lugar de um branco – ainda que brancos legítimos sejam raros no Brasil – e, fatalmente, ouvirá ofensas racistas. São ações pequenas, como piadas nos colégios ou em humorísticos televisivos, que continuam alimentando não só o racismo, mas também o machismo, o homofobismo e o preconceito regional.
            Os diversos preconceitos, as mazelas sociais, os conflitos étnicos e a destruição do meio ambiente são fatos presentes e interligados. Avançamos muito em relação ao século passado – tanto o Brasil, como o mundo – mas estamos longe de uma sociedade harmônica que respeite os contrastes naturais de cada pessoa, pois a nossa lógica de pensamento ainda é lucrar com a segregação e a destruição. É necessária, portanto, uma visão holística sobre a humanidade e o planeta, que é conseqüente de um primoroso sistema educacional, para que enfim possamos conviver em paz com nossas diferenças.

(Originalmente publicado em 27/08/2008).