sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Conhecendo-nos a partir do outro



O presente texto foi retirado dos rascunhos de minhas considerações finais do artigo “Conhecendo-me a partir do outro”, referente à avaliação final da disciplina Antropologia cultural do curso de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará, baseado nas bibliografias propostas pela professora e a partir do documentário “Diário de bordo” do DVD “Leoni &Ashaninkas – Outro Futuro Ao Vivo em Paris”.

Pareceu-me interessante narrar nestas considerações finais um episódio ocorrido há alguns dias atrás em que em companhia de minha mãe, irmã e meu sobrinho de um pouco mais de um ano fomos a um shopping da cidade. Muitas crianças na faixa etária de meu sobrinho e outras um pouco mais velhas aguardavam numa fila para sentar-se junto a um homem vestido de papai-noel para tirar uma simples foto que após vinte segundos estaria pronta e entregue no valor de dez reais para o interessado.
O movimento no ambiente era intenso, muito embora estivéssemos a três semanas do Natal.  Uma “árvore” imensa estava posta no meio do hall de entrada e ao redor da mesma fora montada um cenário com duendes, outras “árvores” menores, um trenzinho em verde e vermelho, com algumas crianças dentro, movimentando-se circularmente ao redor da dita “árvore” agigantada. Enquanto isso, muitos tiravam fotos de suas câmeras digitais e celulares, encantados tais como às crianças, com as pequenas lâmpadas coloridas, que piscavam em um jogo de luz programado e ritmado.
O papai-noel estava dentro de um cercado branco, sentado em uma imensa poltrona vermelha, auxiliado por belas assistentes, enquanto pais e filhos se acotovelando numa fila por uma foto de sua criança junto a um símbolo. O fotografo se posicionava da melhor forma possível para enquadrar a criança, que geralmente estava aos berros ou muito assustadas com tudo aquilo, numa fotografia que valesse os dez reais pagos e que de alguma forma perpetuasse aquela determinada cultura.
Aquilo tudo não era natural como as pessoas supunham. Não mesmo! Éramos de fato um amontoado de conceitos de culturas absorvidas no decorrer de nossa existência em determinada sociedade. Ah, como Laplantine estava correto!
Ninguém nasce consciente do significado do Natal, compras nas lojas enfeitadas de coisas aparentemente ilógicas, mas que só adquire lógica a partir do momento em que damos significados as mesmas. Esses significados são resultados de uma bagagem cultural que reproduzimos sem sequer nos questionarmos o porquê da coisa em si, incondicionalmente. As crianças pareciam saber disso, mas os pais não. Na essência não existe diferença entre os homens. O que existe são diferentes formas de cultura. 


“Ou seja, aquilo que os seres humanos têm em comum é sua capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos profundamente diversos; pois se há algo natural nessa espécie particular que é a espécie humana, é sua aptidão à variação cultural”. (LAPLANTINE, 2003, p.13).

Leoni demonstra ter entendido a si mesmo a partir do momento em que começa a entender a cultura, as diferentes concepções de mundo dos índios Ashaninkas em relação às suas. “De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas míopes quando se trata da nossa”. (LAPLANTINE, 2003).
O documentário nos leva a um questionamento quanto à maneira de como nossa sociedade (dita civilizada) estar tratando o homem relacionado à natureza. Dentre os pontos de vistas distintos das duas culturas apresentadas no documentário, qual melhor conseguiu estabelecer uma humana relação entre o homem X homem e o homem X natureza?

Ora, Lévi-Strauss considera que o estágio da partida jogada pelas sociedades ocidentais é hoje desastroso, enquanto que as que foram jogadas pelas sociedades que se insiste em qualificai de "primitivas" são infinitamente mais humanas (LAPLANTINE, 2003, p. 111-112).

Diante do catastrófico quadro atual do planeta decorrente dessas relações entre o homem-civilizado e a natureza, somos levados a nos perguntar: quem de fato era o “bárbaro”, “primitivo”, “atrasado”? Mais do que nunca, precisamos corrigir a cegueira de nossa “sociedade-civilizada” ocidental para enxergar e tentar reverter o esse quadro.


Referência

LAPLANTINE, François. “Aprender antropologia”. São Paulo: Brasiliense, 2003.
DVD “Leoni&Ashaninkas – Outro Futuro Ao Vivo em Paris”. Warner Music, 2006.

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