sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O PÁSSARO TRANSPARENTE de Osman Lins (Ensaio)



Pode até parecer coincidência, mas entrar em contato com a obra de Osman Lins quase um ano depois de ler pela primeira vez o nome do grande autor pernambucano em uma crítica feita pelo jornalista Oswaldo Coimbra “O desafio de falar da aldeia e ser universal” a respeito do meu primeiro romance “Correndo atrás” Ed. Multifoco, Rio de Janeiro, 2009 no site GarulhosWeb, é sem dúvida, além de emocionante, uma ótima oportunidade de ler, pela primeira vez, algo de Osman Lins, e assim, nessa ocasião oportuna, me atrever a ensaiar algumas considerações decorrente da leitura do conto “O pássaro transparente”.   
Escrita executada com perfeição, o texto “O pássaro transparente” de Osman Lins, nos prende por sua singular harmonia e construção. Um texto para ser degustado lentamente como se não quiséssemos que ele chegasse ao fim. Frases curtas, pontuações exatas, alternância entre o externo e o interno, passado e presente e as mudanças de focos narrativos nos permitem ler o conto tanto pela visão indireta do narrador como pela visão direta da personagem. Como se fosse um jogo de imagens sobrepostas num mapa sem deformação mostrando sempre a mesma face. A face do menino e do homem que obstaculizando sua altivez desenfreada, uma resignação intransponível. Daí o fascínio por esse menino, que observa o gato sobre muro, com uma “colérica e abafada” vontade de ultrapassá-lo, mas sem a firmeza para o tal; por esse homem que observa a vida numa mescla de resignação e altivez sem firmeza. Vencedor segundo os moldes de sua sociedade, fracassado pessoalmente. Um homem que aceita a vida que lhe é imposta pelo pai autoritário, não sem tentar fazer frente ao mesmo em seus ímpetos juvenis, mas que de algum modo acaba por tornar-se à imagem e semelhança de seu progenitor. Embora detestando tudo isso, o homem, depois se percebe envolvido e conformado, até mesmo gostando da vida que ele detestava.
Ontem, sua amiga de adolescência e ele junto ao cais, dois paradoxos sob as luzes febris dos postes filtradas pelos ramos do fícus, aguardando o tempo em que ambos vão atravessar a barreira de seus sonhos… 
Hoje é o navio que aguarda enquanto a nitidez dos rumos dado às suas vidas se torna mais e mais evidente. Ela havia conseguido apossar-se de sua juventude, a amestrou e agora conquistaria o mundo de seus sonhos; todavia, ele, o homem, não sabia em que armário do tempo, em que espessa noite  de interrogações ele perdeu a dele.
Não há razão para lutar mais, pois ele já não é ele, e sim o pai, que agora trás dentro dele. Um pássaro transparente, sem cores, sem vida própria trazendo dentro de si um coração que não é o dele, que o apagou deixando apenas os traços do que ele foi e os olhos assustadoramente humanos. Um ser humano forjado, criado para ser alguém, um ser fictício, inexistente na realidade.
- Isso mesmo. Era assustador. 
- Existe, aquele pássaro?
- Não.


(Walter Luiz  Jardim Rodrigues)


MAS QUEM FOI OSMAN LINS?


Osman Lins

Osman Lins nasceu em Vitória do Santo Antão, filho de um alfaiate e de uma dona de casa, que morreu logo depois de seu nascimento. A ausência da mãe foi compensada por um círculo familiar de grande afetividade, liderado por sua avó paterna. Aos 16 anos de idade mudou-se para o Recife, onde ingressou no curso de finanças. Nesta época começou a trabalhar no Banco do Brasil. Posteriormente estudou dramaturgia na Universidade do Recife.

Em fins dos anos 1940, Osman Lins casou-se com Maria do Carmo, com quem teria três filhas. Em 1950 ganhou um concurso literário com o conto "O Eco", mas sua estréia na ficção se deu com a publicação de seu primeiro romance, "O Visitante", em 1955. Dois anos depois publicou "Os Gestos" e em seguida "O Fiel e a Pedra".

Sua primeira peça teatral a ser encenada foi "Lisbela e o prisioneiro", adaptada com sucesso para o cinema em 2003.

No início dos anos 1960, Osman Lins viveu na Europa, como bolsista da Aliança Francesa. De volta ao Brasil, transferiu-se para São Paulo. Em 1964, já separado de sua primeira mulher, casou-se com a escritora Julieta de Godoy Ladeira. Publicou, em 1966, "Nove, Novena" (contos), "Um Mundo Estagnado" (ensaios) e mais uma peça de teatro, "Guerra do Cansa-Cavalo".

Em 1970 tornou-se professor universitário, ensinando literatura brasileira. Obteve também o grau de doutor em Letras, com uma tese sobre o escritor Lima Barreto. Em 1973 Lins publicou o enigmático romance "Avalovara", considerado uma de suas principais obras e traduzido para diversas línguas. Poucos anos depois, pediu exoneração da Universidade, desencantado com a qualidade do ensino brasileiro.

É também autor de "Guerras sem Testemunhas", livro-tese, onde discorre sobre as atividades e os problemas enfrentados pelo escritor.

Seu último romance foi "A Rainha dos Cárceres da Grécia", publicado em 1976. Osman Lins colaborou com diversos órgãos de imprensa e escreveu roteiros para televisão. Autor de uma vasta obra reconhecida pela crítica, recebeu diversos prêmios, entre eles o prêmio Monteiro Lobato e o prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras. 

(FONTE: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u593.jhtm)

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