Mostrando postagens com marcador Conto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Conto. Mostrar todas as postagens

sábado, 20 de outubro de 2018

Conheça a Editora Itacaiúnas



A Editora Itacaiúnas, fundada no ano de 2014, é voltada principalmente para publicação de livros, prestação de serviços editoriais e gráficos. Nosso foco editorial prioriza publicações de autores que tenham como base teórica uma abordagem interdisciplinar, voltada para as questões das áreas das ciências humanas, tecnológicas e ambientais. 
Missão
Prestar serviços e oferecer produtos destinados a atender às demandas de seus clientes com qualidade, comprometimento, respeito, confiabilidade e agilidade para sanar dúvidas. Além de promover eventos que valorizem a cultura e a arte nacional através de seletivas e concursos para compor a publicação de títulos inéditos.
VisãoSer uma opção viável, inovadora e acessível a todas as pessoas que desejam publicar, divulgar e comercializar os seus trabalhos acadêmicos, literários, técnicos e etc com suporte impresso e/ou virtual.
ValoresCompromisso, ética, dedicação, confiabilidade, inovação e respeito.
Conselho editorial
Contamos com Conselho Editorial formado por doutores e mestres atuantes em diferentes Instituições de Ensino Superior do Brasil e do mundo.
Sobre a palavra/ nome itacaiúnas
Itacaiúnas é um rio brasileiro, que nasce no estado do Pará na Serra da Seringa no município de Água Azul do Norte, e é formado pela junção de dois rios, o Rio da Água Preta e o Rio Azul. Desemboca na margem esquerda do Rio Tocantins, na sede da cidade de Marabá.


Para conhecer nosso trabalho basta acessar:
http://www.editoraitacaiunas.com.br


sexta-feira, 1 de abril de 2016

Era mais uma daquelas tarde de chuva na cidade



Era mais uma daquelas tardes de chuva na cidade. O trânsito intenso e lento fazia com que as horas em contra gotas passassem. Tudo era uma mescla de apatia e resignação. Os ônibus passando lotado para os municípios de entorno a Belém. Seguíamos para Ananindeua, Marituba, Santa Bárbara, Benevides, Benfica... Era assim cotidianamente na Região Metropolitana de Belém. Um vai-e-vem enfadonho e banalizado.  Restava-nos olhar pela janela ou nos espremermos entre bundas, pernas e sovacos fedorentos nos ônibus lotados e abafados.  O olhar das pessoas era um deserto profundo de solidão, cansaço e conformidade. Havia apenas um desejo latente: chegar em casa.
Foi quando um senhor de meia idade sentou-se ao meu lado. Eu havia conseguido a sorte grande de pegar um ônibus quase vazio.
- Vou sentar aqui do seu lado, mas não vou incomodar seus estudos – falou-me o senhor sentando-se e arrumando suas sacolas de compras entre suas pernas.
Assenti com a cabeça e continuei rabiscando um texto que jamais conseguiria finalizar ali.
- Posso te fazer uma pergunta? – virou-se para o meu lado o senhor com gestos imperativos.
Novamente assenti com a cabeça e tentei batalhar mais algumas palavras no meu caderno de anotação.
- Acho isso que está acontecendo muito injusto! – enfatizava ele com profundo sentimento na entonação de sua voz arrastada. Ali comecei acreditar que aquele autêntico senhor estava um tanto quanto embriagado.  
Fechei meu caderno e olhei para ele com profunda compaixão e interesse na sua dor pessoal. Eu ainda continuava a ser uma maldita esponja de sentimentos alheios.
- Depois de tudo que o presidente Lula fez e toda essa coisa que tão falando dele ai. Não é justo. Minha filha vai se forma em Geologia esse ano e viajou pra fora do país graças ao governo dele. Nunca um filho de pobre teve essa chance que teve agora... Não é justo!
Ele realmente estava muito abalado com o cenário político do Brasil naquele momento. E tinha na figura do governo algo bastante positivo, paternalista e sua insatisfação era muito grande.
- Eu sou operário, ganho menos de um salário por mês – continuou ele agora aos berros – e mesmo assim minha filha vai se forma! O Fernando Henrique que é estudado não é chamado pra dar palestras na Europa, mas o Lula que é um quase analfabeto é convidado pelas melhores universidades do mundo pra falar. Isso que é a raiva deles! Isso que eles não engolem!
A situação era bastante inusitada. Meu caderno já estava fechado fazia alguns minutos. Eu sabia que ele não pararia de falar.
Apanhar esses ônibus que vem da Universidade Federal é bastante complicado. As pessoas pensam que porque estamos com o caderno aberto ou com um livro aberto ou com mochila somos um acadêmico de merda.  E o pior é quando passamos a viagem inteira ouvindo estudantes empolgados a falar rasteiramente o que leram em suas apostilas tiradas na cópia como se fossem coisas mais importantes do mundo e fruto de um intenso estudo sobre.
- Qual é o seu nome, rapaz – perguntou-me ele.
No que eu rapidamente respondi: - Álvares, senhor...
- Pois bem, Álvares. Você não concorda comigo? – fuzilou-me ele com essa pergunta e com o seu olhar bastante vidrado e cheio de certezas absolutas sobre o que falava.
Apenas olhei para ele e baixei a cabeça. Eu odiava todo o sistema político nacional e acreditava que somente uma radical estruturação desse sistema de governar poderia de fato dar em alguma mudança. Mas naquele momento eu só queria escrever sobre a lógica realista descritas pelas putas do centro da cidade de Belém e sobre a calmaria que é beber uma gelada às margens da Baía do Guajará na orla do Ver-o-Peso às 5:30 horas da tarde.
- Você nem parece que é da Universidade! – esbravejou ele – Não sabe discuti política! Qual é o seu problema, rapaz? Que olhar triste é esse? Você não é um derrotado.
- Acho que eu não estou em uma competição. Eu não busco ganhar algo, ser um vencedor na vida. Deixo isso para os outros. O senhor não acha que tem gente demais querendo vencer na vida?
- Você faz que curso na Universidade?
- Nenhum. Não confio no conhecimento universitário. Pois tudo que forma, forma alguma coisa num molde. Definir o que as pessoas são é nojento, injusto e imoral. Eu me recuso ser rotulado como produto e vendido no mercado de trabalho como peça para alavancar todo esse sistema podre que estamos vivendo hoje.
- Você não diz coisa com coisa. Eu até que tava meio que porre, mas já até fiquei bom. Você, Álvares, precisa de umas boas doses de cachaça e principalmente de uma boa trepada com uma boa boceta. Vou descer aqui antes que eu dei um pau nessa tua cara de lua cheia, seu doido.

E assim aquele nobre senhor desceu o coletivo sem olhar pra trás. Suas palavras finais mexeram comigo e eu só pensava seriamente que talvez eu estivesse realmente precisando de uma boa trepada...

(Walter Rodrigues)

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Quando os mortos saem para se embriagar



Era mais um daqueles dias de pensamentos pastosos. Para onde seguir em situações semelhantes? Não havia para onde escapar. O vento que vinha do Rio Guamá caía sobre minha face eternamente fadigada me levando para bem longe daquele ambiente academicista. Foi quando Luiz encontrou-me sentando sobre o muro de arrimo que tentava em vão conter a fúria daquele gigantesco rio. O sol já começava a declinar e a brisa da noite já se mostrava apetitosa e cheia de segundas intenções.
- Álvares, parceiro – falou-me ele. – Que bebes aí?
- Uma garrafa de cachaça – respondi passando um gole pra ele.
- Puta-que-pariu! Não sei como tu consegues beber isso sem nem mesmo fazer cara feia.
- Minha cara já é feia naturalmente.
Assim aquela garrafa começou a secar mais rápido do que refrigerante em copo de criança. Sabíamos que as coisas não estavam fácies para nenhum de nós dois e para quase todo o mundo. Por que se insisti tanto em vencer na vida? Por que as coisas que não precisamos precisam ser alcançadas? Um carro do ano, um mestrado, uma viagem para Europa, um celular de última geração, um computador porrada... Alguma coisa me fazia senti tanta raiva disso tudo que, não diferente do meu amigo Luiz, eu também gostaria que tivesse um novo começo e que essa sociedade na qual vivemos jamais tivesse acontecido.
- Nós já não somos mais nós e talvez nunca venhamos a ser nós mesmos, cara – falou-me Luiz depois de longos goles com seus olhos perdidos no verde rubro daquele crepúsculo sensacional.
Parecia que as coisas caminhavam para uma irremediável destruição. Os conceitos estabelecidos, as verdades que nos enfiavam goela abaixo pareciam desprovidas de autenticidade. Tudo soava estranhamente falso e as coisas não estavam caminhando para lugar algum aparentemente agradável. Era como se alguém tivesse derramado vinho sobre o script recém-impresso em uma impressora de jato de tinta. Tudo estava borrado e as cenas seguintes se mesclavam numa macha indecifrável.
- Luiz – retruquei – vai tomar no cu, camarada.
E rimos feitos dois dementes.
Estava havendo uma feira anarquista na Praça do Carmo e Luiz me lançou o convite para irmos lá enquanto ainda restava aqueles goles de cachaça vagabunda no fundo da garrafa. Aceitei de pronto, afinal, pensei que deveria ser algo bastante interessante uma feira do livro anarquista.
Chegando lá o que vi foram diversos jovens, quase todos tão barbudos quanto eu. Diferente do que eu imaginei, os livros estavam sendo comercializados. A feira anarquista não era diferente de qualquer outra feira regida pelo sistema capitalista. Os livros mais procurados eram os que custavam mais, obviamente. Aquilo me deixou frustrado e senti vontade de beber mais ainda. Assim fiz e comprei um imenso copo de cerveja. Luiz bebeu comigo e seguimos para tomarmos umas no Ver-o-Peso.
A noite já ia alta e as putas e bandidinhos de merdas que ocupam quase todo centro histórico de Belém vinham se chegando e nos pedindo dinheiro ou, no caso das putas, nos propondo sexo. Queríamos apenas beber, mas numa esquina qualquer com a Presidente Vargas, alguém nos levou o dinheiro e os cartões de meia passagem. Estamos fodidos e não havia como voltar para nossas casas e o pior de tudo, não havia mais dinheiro para bebidas.
Mesmo assim, subimos em um ônibus. Ao notar nossa situação embriagada, o cobrador mandou que nós pagássemos a passagem. E como estávamos totalmente duros, Luiz resolveu pagar nossas passagens oferecendo um mouse para o irritadíssimo cobrador. O cobrador não aceito a proposta e mandou o motorista parar o ônibus. Recusamo-nos a descer, estão fomos empurrados até a porta de saída e lá ficamos no meio da viagem.
Sem dinheiro e humilhados em público, resolvemos voltar andando. Nossas casas eram longe demais dali para que fossemos bem sucedidos nessa empreitada. Caminhamos por quase uma hora e ainda ali na Avenida Nazaré, despencamos numa calçada e lá nos rendemos. Não havia como seguir e nem como voltar. Era como se fosse nossas vidas aquela situação. Não havia como seguir em frente e não havia como retornar. Toda a nossa vida se resumia aquele instante.
Então eu apalpei meus bolsos e para minha surpresa meu celular ainda estava lá. Liguei para um amigo e expliquei a história. Eram quase duas horas da madrugada quando consegui falar com ele. Então ele veio nos resgatar. Luiz, jogado na sarjeta, não conseguia nem se erguer sozinho. Fui até ele, cambaleando e o ajudei a se por de pé e a entrar no carro.
Seguimos para casa do Naldo. Nosso salvador.
- Álvares que porra de cachaça foi essa que vocês beberam – falou-me Naldo com ar de risos.
- Foiii aaaa daaas meeelhores, caaara! – tentou responder Luiz.
Eu resolvi ficar calado, pois minha memória não conseguia esquecer aquela cena da expulsão do ônibus e de toda aquela arrogância daquele cobrador. Ele não era apenas um simples cobrador, ele era todo um sistema de governo sustentado na coesão, na exploração e na humilhação dos que não possuem dinheiro suficiente para passar a roleta. Eu estava terrivelmente puto e angustiado. 

(Walter Rodrigues).

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O dia do meu "desaniversário"




Dia 29 de setembro. Levanto da cama. Abro a janela do quarto. Vejo que o dia está cinzento e chuvoso. Hoje é meu aniversário, lembro-me então dos anos anteriores de lugares onde morei e passei essa data, ou pelo menos tento, pois, como diria Renato Russo – “já morei em tanta casa que nem me lembro mais, eu moro com meus pais”... Então é meu “desaniversário”. Recordo também das pessoas que passaram pela minha vida e que hoje se as visse na rua nem as reconheceria e vice-versa, amigos, amigas namoradas, parentes e etc. Olho a hora no celular e também vejo algumas mensagens dando-me os parabéns, todas com quase as mesmas palavras – feliz aniversário!... E todas essas bobagens que dizem para quem está completando mais um ano de vida e um a menos também. Dentre as mensagens tinha uma que valia a pena – feliz aniversário e muitos anos de cachaça! E convidando-me para beber... Era um colega dos tempos rasos e sem profundidade do cursinho, Marcio era o nome dele. Não respondi naquele momento, pensei em manter-me sóbrio nesse dia, queria ir  ver um filme no cinema, claro que não qualquer filme e nem em um cinema comercial, onde só se passa filmes comerciais feitos somente para serem vendidos, tendo como resultado filmes sem conteúdo que nada acrescentarão na minha vida. Tudo bem que há algumas exceções que sempre acabam poucos dias em cartaz. 
E enquanto as lembranças vinham em minha mente com intensidade sem que eu pudesse escolhê-las, eu entrava e saia do banho, tomava meu café e voltava para o quarto. Deitado novamente eu tinha nas mãos um livro que não demorou a ser posto de lado (Já faltavam poucas páginas). O livro era uma leitura de um escritor bem reconhecido no meio acadêmico, falo de Marques de Carvalho que tinha uma linguagem defasada e valores sociais da época ultrapassados também, de difícil compressão a um primeiro contato. Tendo como objetivo um auxílio ao leitor iniciante, que na maioria dos casos era quem estava estudando para o vestibular da UFPA (Universidade Federal do Pará), onde o candidato tinha que ser treinado para passar. Sempre me perguntava o porquê de não colocar leituras de livros que, mostrassem a sociedade atual, a resposta era simples: a consciência do povo é o medo do governo.
Decido então assistir a um filme no qual os personagens viviam em uma realidade alternativa ou futura, em que eram postos numa espécie de jogo voraz de sobrevivência, baseado num Best-seller, não demora muito para se notar a infantilidade do roteiro e conjunto ruim de atores na tela. Dou-me o luxo de ser crítico, pois, para quem já viu filmes com a direção de diretores como: Copola, Hitchcock, Ingmar Bergman, Felini, Chaplin... Com certeza tem um censo crítico para sétima arte. Mas continuo assistindo, então subitamente começo a pensar,  que grande filho da puta que sou? Não vou mesmo beber nada nesse dia? Porra é meu aniversário! (Que mais parece meu desaniversário).
Antes vou almoçar, tento sentar-me a mesa nela estão meus velhos, olho para meu pai, não consigo passar um minuto no mesmo lugar que ele. Às vezes não consigo acreditar que somos parentes, o cara jamais leu um livro. E ainda por cima é alienado pela televisão. Quando assisti um jornal, é só falando sobre crimes na cidade, o mesmo acontecendo no jornal impresso que ao folheá-lo só falta esguichar sangue no leitor.
Saio da mesa levando meu pequeno almoço, depois de acabar, marco pelo telefone com Marcio para tomar umas. Me visto e saio. No ônibus olhando pela janela vejo como um manto cinza de nuvens cobrindo a cidade, pois, em Belém é assim: não existe verão ou inverno, aqui se não chove o dia todo, chove todo dia.
Então cai a chuva. Quase que simultaneamente, vem-me a vontade de chorar, mas seguro, pois, falta pouco para que eu possa sentir como diria Bukowski o gosto do suco misturado com vida (álcool).
Ao saltar do ônibus a chuva não parece tão forte, decido então atravessar a rua. Todos correm dos pingos d’agua, e esquecem-se do quanto é bom sentir as gotas de chuva cair sobre o corpo. Chegando à praça da república o lugar parece sem vida e devastado diferente dos dias de domingo pela manhã aonde os pais de família vão com seus filhos sendo que, o sol e a criançada enche de alegria, aquela singela praça. Lugar onde se encontrava de todo tipo de pessoa, muitas do submundo, moradores de rua, hippies, roqueiros, góticos, homossexuais. Cada tipo deveria ter seu dia na praça, pois, parecia que esse era o dia do homo. Não tenho preconceito então sigo e encontro Marcio em um coreto rodeado. Ele fala ao telefone com Bruno que eu também conhecia das aulas de cursinho.
Não demora e Bruno aparece moreno mais forte fisicamente do que Marcio que, aliás, não dava para perceber pelas grandes camisas de roqueiro se Marcio era magro ou mais forte, o certo era sua cabeleira era escura e de estilo macarrão instantâneo.
- Bora pro bar tomar umas cachaças! – Diz Bruno ao chegar.
- Só se for agora! – responde Marcio
- Vamo então!
O bar era localizado perto da praça. Na rua... De esquina... De nome “meu garoto”. Faltavam poucos metros e já dava para ver que o bar estava fechado (lá se ia à oportunidade de tomar uma cachaça de jambu), mas ainda tinha outros bares, Marcio entra em um. Bruno e eu ficamos na calçada conversando.
 - E qual as novidades? – perguntou-me.
- Nada de mais! Só que faz uns dias que eu não bebo nada.
Essa reunião era só de amigos de copo. Então com certeza após uns goles o papo iria fluir... Marcio volta do bar com uma dose para o “teste”. Era uma cachaça de jenipapo com mel que ao descer pela minha garganta foi purificando a alma. Resolvemos experimentar outra, dessa vez nós três entramos no bar, o dono do bar nos deu então um gole de outra de jenipapo também, só que essa não tinha mel em sua mistura. Bruno bebeu a primeira dose, Marcio a segunda e eu logo em seguida. Nós já erámos experientes no quesito bebida, mas todos nós sentimos a cachaça descer com força goela abaixo fervilhando os órgãos internos, e como um acordo dos três optou por essa. Enquanto estávamos na degustação do álcool, um velho que estava bebendo no balcão se aproxima de nós. Era baixo de chapéu vermelho e camisa do fluminense, ao lado do chapéu percebia-se que os cabelos brancos já o abandonavam e não podendo faltar um bigode estilo português. Nem percebi quando ele já estava falando de sua vida para nós.
- Tenho sessenta anos já, dois filhos formados, trinta anos de casado, uma amante e ainda dou no coro. Quando não levantar mais e ainda tenho minha língua e meus dedos.
Enquanto fingíamos ouvir ele vinha e apertava nossas mãos. Eu não via a hora de saltar fora daquele bar decadente com a cachaça.
Depois de pagarmos quinze reais pela garrafa, nos puxamos de volta para a praça da república, no caminho pela rua estreita, senti que com aquela garrafa nós iriámos ter um bom papo e eu conseguiria dispersar a catarse que se encontrava no meu subconsciente.
A chuva já tocava o solo e dessa vez parecia que seria forte o suficiente para encharcar nossas roupas. Voltamos ao coreto. Onde se encontravam os casais... Olhei em volta e vi duas gatinhas se beijando, eram morenas de uns dezesseis anos no máximo e exalavam sexo, enquanto que na direção oposta havia duas digo dois meninos adolescentes se... Brincando cheguei com as mãos na costa de Marcio quase que num abraço, tirei e nós três começamos a rir, eu ainda rindo, disse que era a influencia do meio. Com certeza todos ao redor ouviram. Márcio e Bruno começaram um papo, os dois já se conheciam de longa data, os dois moravam em Viseu...
Fiquei no lado, olhando para as gatinhas moreninhas do lado, uma delas não parava de olhar, a garrafa já ia mais da metade. Bruno então começou a fazer planos:
- Cara! To querendo ver se arrumo uma grana pro meu aniversário e fazer uma barca doida!
- Vai ter muita mulher lá? – Perguntei.
- Com certeza, mano!
- Mas não colando o velcro?
- Não lá, não!
Foi aí então que percebi que, os olhares se voltaram pra mim. Não disse por mal não, não sou um sujeito preconceituoso. Já me livrei disso quando quebrei as correntes e arranquei o que me cegava nos tempos obscuros e duvidosos de igreja. Falei só de brincadeira mesmo.
- Mas primeiro preciso fazer um arroz, bacana lá onde eu trabalho. – continuou Bruno -.
- E como é o esquema? – perguntou Marcio.
- A parada é o seguinte: lá onde eu trabalho é uma empresa fornecedora de materiais de construção. Eu fico na conferência, depois, por exemplo, que um caminhão de uma estancia qualquer faz o pedido, eu pego e coloco uma quantidade a menos do que está sendo vendida, sendo assim, o cliente paga pela mercadoria inteira, mas, na nota vai uma quantidade menor, então a diferença vai pro meu bolso. Que geralmente varia em torno de duzentos, trezentos reais, que eu divido com um camarada meu lá. Se não for dividido eu tenho que pelo menos fazer a cobertura pra ele fazer o esquema dele. Só que gente tem que tomar cuidado, que lá tem um “culhão” (todo lugar de trabalho tem essas porras!) que é doido pra alcaguetar quem tiver fazendo esquema, mas sei que ele também rouba lá.
Enquanto ouvia esse relato, fiquei analisando a situação, não só dele, mas do brasileiro que já tem a corrupção nas entranhas. Não querendo ser moralista, pois, quem garante que no lugar dele eu poderia fazer o mesmo? (mas eu mesmo não faria, eu tenho princípios) Mas é assim, no Brasil. Por exemplo, quando um cidadão pobre devolve uma maleta com dinheiro achada pelo mesmo, todo mundo xinga o cara dizendo que ele é burro e coisa tal... umas das heranças deixadas pelos nobres,  corruptos e literalmente filhos da puta estrangeiros que vieram foder com o Brasil colônia. E hoje só vemos os frutos dessa foda ruim para a plebe que ainda por cima é rude.
Marcio achou legal o esquema. E nossa garrafa já ia pelo fim, enchi o último copo, e traguei com decisão, e lembrei-me de quando acordei ensandecido para sentir aquele maravilhoso sabor, o sabor da vida!  Márcio pegou a garrafa já vazia e jogou, com o efeito do álcool em minha mente, vi a garrafa sem vida girando várias vezes em câmera lenta antes de cair sobre a grama. Enquanto no meu celular Guns N’ Roses tocava...
Acabou o álcool, acabou o encontro. Descendo pelas escadas rumando em direção à parada de ônibus, na direção contrária vinham duas bibas e ficaram encarando Bruno.
Tomei um susto, quando vi falando alto:
- Que foi veado escroto? Nunca viu não?
- Tão bonito, não!
- Vai-te fuder sua bicha!
Acelerei o passo e perguntei o que tinha sido aquilo. Bruno respondeu-me num tom colérico:
- Não gosto de veado me olhando.
Falei pra ele relaxar... Márcio só ria da situação. Era o fim do encontro.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Marilia estava naquele aniversário...




Ela estava naquele aniversário. Com aquela sua linda face de expressões suaves e fortes. Ela estava vestindo seus curtos trajes apertados. Ela já não estava na sua forma magra de ser. Mas continuava muito gostosa. Sua bunda era enorme e seus seios volumosos, no entanto, seus olhos tão negros estavam tão tristes naquela noite nublada que me senti como apanhado pelo uma irresistível vontade de tê-la em meus braços, para possuí-la como sua alma estava necessitando. Seu nome era Marilia.
- Álvares! Pensei que tu não viesses para o aniversário do teu tio – falou-me ela dirigindo-se até onde eu estava sentado mais meu amigo Daniel e meu tio João.
- Oi, Marilia – respondi levantando-me de minha cadeira, dando um lindo gole na minha cerveja que estava no copo e a envolvendo em um forte abraço para muito além de caloroso. – Saudades de ti, minha querida.
Na noite anterior, Marilia havia levado uma bela surra de seu marido, que era sargento da polícia quando este soube de alguns casos envolvendo sua mulher em relações sexuais com amigos de seus amigos. Isso deu a maior merda e Marilia ainda tentou se justificar, mas quanto mais ela falava mais seu marido se enfurecia e a enchia de porrada. Seus dois filhos, uma menina de oito e um menino de dez, assistiam todo o quebra-pau assustados, porém aquela rotina já lhes eram estranhamente familiar. E agora eles estavam separados. Marilia estava sofrendo, e muito revoltada ficou quando uma grande amiga sua pediu para ela ir denunciar o sargento para a justiça. Até parece que ela teria coragem de fazer uma palhaçada dessas com o pai de seus filhos “que nem estava em seu juízo perfeito”.  Afirmou-me ela depois. E claro que eu concordei com ela.
- Você parece tão triste, Marilia – reparei – Por que você está tão triste?
- Me separei do Nelsão, o meu marido... – respondeu-me ela.
- Uma pena...
- Pois é... mas não quero ficar pensando nisso agora, Álvares. O que passou-passou. Por isso vim pra esse aniversário, pra esquecer aquele filho-da-puta.
E assim a noite seguiu em frente, como sempre acontece.  Marilia estava bebendo demais e as cervejas logo se esgotaram. Daniel havia sido apresentado para uma amiga de Marilia e estava a ponto de se mandar com a garota quando resolvemos comprar mais uma grade de cervejas. Todos ficaram muitos felizes e bebemos e bebemos até ficarmos embriagados. Meus abraços logo viraram beijos calorosos e minhas mãos exploravam toda a extensão daquele corpo. Foi quando tio João me chamou de canto:
- Já estou querendo dormir, Álvares – falou-me ao ouvido. – Leva a Marilia para a tua casa.
- Tudo bem – eu disse.
E assim, deixamos o aniversário de tio João. Éramos um grupo de quatro.
A noite foi intensa, ainda tomamos mais algumas cervejas antes de eu levar Marilia para minha cama e Daniel levar Isadora para o surrado sofá da minha minúscula sala. Marilia sabia como tocar em um homem. E transamos durante a noite toda. Seu corpo, estava com alguns hematomas, resultados da briga com seu marido. Seus olhos negros e tão vivos estavam roxos ao redor, e seu rosto estava levemente enxado. Ela estava dramaticamente linda. E ela me olhava dentro dos olhos e acariciava-me rosto. Logo depois, o sol subiu e Marilia precisava ir embora, pois havia deixado seus dois filhos na casa de sua mãe.
- Até mais, Álvares – falou-me Marilia a se despedi a porta de casa.
- Até mais, Marilia – respondi.
- Vamos Isadora? – chamou Marilia.
- Até outro dia, Daniel – falou Isadora.
          - Até outro dia, Isadora – respondeu o outro.

Ainda havia três cervejas na geladeira. Abrimos uma, enchemos os copos e bebemos.
(Walter Rodrigues)

____________________________

Imagem: oléo em tela. Miró
Originalmente publicado no blog Cachaça na Xícara

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Noite de natal I



texto de Deividy Edson


R$ 69,90. Esse era um dos preços dos presentes. Todo mundo sorridente exibindo roupas, perfumes, sapatos e etc... Naqueles comerciais de televisão todos atuavam, e eram sempre pessoas belas. Sempre dizendo: "neste natal, compre presentes na loja... ou no shopping I... ou C..."
Isso porque eu não assisto muito televisão. Como diria Cazuza: “A televisão sem som já é um bonito quadro.” Para não dizer que não vejo. Embora, eu raramente assista os telejornais. Onde sempre têm noticias (quase sempre manipuladoras) sobre a inflação, corrupção e a eleição... No Brasil como têm ladrões...
Mas então era natal. Festa que pra mim já tinha perdido o significado, se é que tem significado. Comemorar o “nascimento” (data pagã aderida pelos cristãos) de Jesus que supostamente tinha feito milagres e ajudado muitas pessoas com cura. E em troca foi crucificado e humilhado pelos próprios a quem tinha “ajudado”.
Tinha marcado com um amigo de adolescência, dos tempos nublados de igreja. Victor era o nome dele. Íamos à casa de outro amigo também de adolescência pra mim, de infância para ele. Chamava-se Ezequiel.
Em casa tudo normal. Não era tradição ceia de natal, mas sim de ano novo. Aliás, nesta data o único convidado que recebíamos era uma tia e família por parte de pai.
Então cheguei por volta dás 23h30min na casa de Victor. Que morava nos altos em baixo morava sua vó Maria. Subi a escada de madeira de sua casa de alvenaria.
- Fala Victor.
- Fala Davi – respondeu-me ele.
- Vamos lá então.
No caminho estávamos combinando em beber em um bar qualquer. Depois que saíssemos da casa de Ezequiel.
Andando pelas ruas do Jurunas era comum vermos as pessoas nos pátios de suas casas. Algumas bebendo e comemorando não sei o que. Conversando e rindo. Bem vestidas, não tão belas quanto às dos comerciais de televisão, mas também estavam atuando, sem se dar conta.
Rua dos Mundurucus com a Roberto Camelier. Esse era o endereço de Ezequiel. Morava em uma vila, mas digamos de pessoas meio nobres. Não como as vilas perto de onde eu e Victor morávamos... com os pais e três irmãs que aliás, duas eram gatinhas loucas para arrumar um bom partido (preferencialmente da igreja) e casar.
Chegando então ficamos do lado de fora, achamos melhor não entrar. Estava cheio de "atores" quero dizer pessoas, parentes de Ezequiel. Não me lembro dele ter convidado para entrar, mas mesmo que convidasse, não estávamos a fim.
Foi quando ele disse que ia nos trazer uma bebida. Foi aí que começamos a achar que a ida para casa dele não tinha sido em vão.
Trouxe vinho. Símbolo do sangue de Jesus.
Ficamos conversando... E foi aí que apareceu uma tia de Ezequiel. Antes de sermos apresentados, já sabíamos que era parente de nosso amigo devido a grande semelhança física com o pai de Ezequiel Filho, que era gordo cabelos meio ralos na frente olhos meio puxados ou pequenos e ainda por cima uma barriga meio caída, resumindo o cara era feio, mas era feio mesmo.
Já era visível que ela já estava meio assanhada em circunstância de uns goles de cerveja. Não demorou e ela começou a dar em cima. Já tínhamos acabado com o vinho, tinha cerveja, mas Ezequiel não nos ofereceu. Mas sua tia percebendo que queríamos beber, e ela tava muito afim do Victor, mandou ele trazer para nós. Não lembro exatamente, pois os dois começavam a falar baixo. E eu conversando com uma das irmãs de Ezequiel. Mas pude ouvir ela falar meio alto:
- É ASSIM QUE EU GOSTO DE HOMEM! DIRETO.
E ela mandando cerveja.
- Vou ao banheiro - disse Sônia.
Então chamei Victor:
- E aí qual é a parada?
- Porra! Tu és louco? Ficar essa noite com ela vai ser um desastre. Quando eu olhar pra ela, vai parecer que eu to comendo o pai do Ezequiel.
- Então vamos sair fora procurar um bar – disse eu a ele.
Vamos falar com o Ezequiel.
Ezequiel que tinha ido trocar de roupa. Chegou à frente da porta onde estávamos e disse:
- Vamos sair daqui a pouco. Vocês num tão a fim de ir também.
- Quem vai? - perguntei.
- Minhas irmãs, meus primos. Vamos na Kombi do meu tio.
- Hum. Pra mim num vai dar. To querendo ir pra um bar.
- Onde vai ser? – perguntou Victor.
- Numa casa de shows La na...
Fui ao banheiro. Depois que Sônia tinha saído de lá.
Quando voltei. Victor me chamou para um canto e disse:
- Vamos sair fora e procurar um bar. O Ezequiel me convidou eu dei uma desculpa, que tava com pouca grana. Aí ele falou pra eu emprestar de ti.
- Que filho da puta esse cara! Então vamos. Já acabou a bebida por aqui mesmo.
Victor disse que num dava pra ir com Ezequiel. E nos despedimos.
- Feliz natal – ele disse.
Não respondi. 
E formos embora. Ganhando as ruas a procura de um bar...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ATRAVESSANDO A BAÍA DO MARAJÓ


Foto: panoramio.com

por Walter Luiz Jardim Rodrigues

Atravessar a baía do Marajó além de ser demorado em embarcações de madeiras conhecidas na região como “navio-gaiolas”, era também um teste para o estômago do caboclo. O barco jogava para todos os lados e não raras vezes as águas invadiam o convés obrigando os passageiros a se levantar para acudir suas bolsas, que viajam ao chão, abaixo de suas redes. Algumas senhoras e até mesmo alguns senhores, às vezes, entram em pânico. Muitos choram e rezam para o divertimento dos demais passageiros acostumados com aquelas “pavulagens” da baía.
Naquela mesma embarcação viajavam dois primos. Uma nunca tinha encarado a travessia; já o outro, era macaco-velho. Felipe e Rogério, assim eram os nomes dos dois rapazes. Felipe, muito nervoso, estava prestes a se cagar nas calças.
- Rogério! – dizia Felipe ao outro. – Tu ainda tens aquela garrafa de cachaça?
- Tenho sim, primo! – respondeu o outro. – Tá lá dentro da minha valise.
- Vamos abrir pra tomar um pouco? Pra passar o frio, esquentar o corpo... hehe.
- Vou pegar lá e já volto.
- Valeu, primo!
A noite se fazia mais escura quando se atravessava a baía do Marajó, e os ventos não eram de brincadeira. Mas após alguns goles, Felipe já até estava se divertindo com todo aquele balanço e estrondo de ondas que faziam as estruturas do barco ranger.
Algum tempo depois, surgiu uma garota magra de cabelos lisos e louros. Todos os passageiros estavam em suas redes naquele horário da noite. Somente Felipe e seu primo Rogério estavam sentados naquela pequena área do barco, uma espécie de salão de festa, localizada na parte da popa da embarcação, reservada a lanchonete e ao bar simultaneamente. Só que naquele horário da noite já estava fechado. Bem, agora eles não estavam mais sozinhos. A garota parecia chateada com alguma coisa.
- Se um cara aparecer por aqui – disse a garota aos rapazes com gestos afobados - perguntando por mim, diga que eu já desci. Vou me esconder aqui no banheiro.
Logo em seguida um rapaz baixo e entroncado apareceu olhando ao redor.
- Passou alguma garota por aqui? – perguntou ele.
- Passou sim, cara – respondeu Rogério. – Mas ela desceu ainda pouco.
- Valeu, cara. Ela deve ter ido se deitar na rede dela. Boa noite.
- Boa – responderam os dois.
Assim que o rapaz desceu, a garota saiu de fininho de dentro do banheiro.
- Porra! – disse ela aos rapazes em seguida. – Pensei que aquele otário não fosse descer. Ele tava querendo ficar comigo. Tava insistindo, se humilhando... Eu não gosto dessas palhaçadas! Parece que o cara não tem orgulho próprio.
- Sente-se e beba com a gente – sugeriu Rogério.
- O que vocês estão bebendo? – perguntou ela.
- Cachaça – respondeu naturalmente Felipe, que estava deitado em um banco com os braços cruzados sobre sua face.
- Forte demais! – comentou ela a Rogério. - Que dizer que vocês são machões, então? Mas aquele ali já estar desbundado.
- Eu tô com muito sono… E minha cabeça tá doendo - se lamentou Felipe.
- Esse cara é um mala! Me passa logo um gole aí, seu veadinho! – respondeu ela, mas Felipe apenas ficou ali deitado, então Rogério pegou a garrafa e passou imediatamente a ela.
Ela deu dois goles dignos de um cachaceiro de esquina e passou a garrafa para Rogério, que deu os seus goles também sem tirar os olhos de cima daquela garota incomum como que querendo se convencer de que ela era real.
- Porra lá vem o cara de novo! – observou a garota indignada. - O fodido já me viu!
O rapaz estava sem camisa, apenas de bermuda. Era robusto e de expressões melancólicas. Um cara que nasceu com todos os atributos físicos e psicológicos para ser um corno manso. Ele a chamou de canto. Ela foi até ele irritadíssima. Sentaram-se num banco, um do lado do outro. Ele passava a mão sutilmente nos cabelos dourados e acariciava com as pontas dos dedos a face fina da garota dizendo suavemente a ela, quase que num sussurro: “Vamos descer, gata. Pare de beber essa bebida forte. Pode fazer mal pra ti.  Esses caras aí são uns cachaceiros. Não se misture com eles...”
- Eu vou ficar aqui! – respondeu ela quase gritando. – Estou bebendo e vou continuar bebendo com eles. Tu não mandas em mim!
O rapaz abaixou e coçou a cabeça. No entanto, os dois permaneciam sentados. Nenhum se ergueu. Rogério e Felipe observavam a certa distância.
- É cara – sussurrou Felipe a seu primo. – E lá se vai a nossa puta. Eu vou é procurar minha rede e dormir o que é.
Mas Rogério não compartilhava da mesma opinião. Talvez, por isso, ele achou de se aproximar dos dois e parar quase em cima deles. O rapaz olhou para Rogério com receio e manteve-se alerta. Porém, Rogério simplesmente ofereceu sua garrafa de cachaça, no que o outro recusou imediatamente.
- Se ele não quer, eu quero!  - disse a garota tomando a garrafa das mãos de Rogério e a levando com paixão até seus lábios finos e vermelhos, sugando aquele líquido transparente como se fosse água de nascente.
Então Rogério tomou uma atitude instintiva, quase brutal. Puxou a garota pelo braço a colocando de pé para imediatamente envolver sua estreita cintura num abraço para lá de colado. E para finalizar sua abordagem cinematográfica: um belo beijo chupado de língua! O rapaz que assistiu o desenrolar da cena numa mescla de surpresa e vergonha, se levantou muito atordoado e sem dizer uma palavra, resolveu se retirar por fim.
Felipe estava sentado observando aquilo tudo com um ar de incredulidade e fascínio. Quem diria que Rogério com todo aquele seu jeitão tímido e calado fosse capaz de chegar numa mulher daquela maneira.
- Beija um pouco o meu primo – disse Rogério de repente para garota.
- O quê? – perguntou ela olhando na direção de Felipe.
- Quero que tu fiques também com ele – respondeu ele.
- Então eu quero que vocês me mostrem as picas – sentenciou ela.
- Por que tu queres ver nossos paus? – perguntou Felipe.
- Quero ver o tamanho deles – respondeu ela dando mais um gole na boca da garrafa, que já estava quase no final. – Quero ver se vale a pena.
Felipe se ergueu rapidamente do banco e quando já começava desabotoar a calça jeans, parou e a abotoou novamente dizendo:
- Tu és uma doida!
E deitou-se novamente com os braços cruzados sobre a sua face larga.  
      - Bom – respondeu ela, maliciosamente -, quando um cara tem medo de mostrar o pau é porque o pau é pequeno. O dele – e apontou na direção de Rogério - é médio. Sabe, a gente conhece o tamanho pelo monte que forma na frente da calça. E o teu é pequeninho mesmo. Nem precisa me mostrar.
- Não é que seja pequeno, sua puta! – reagiu Felipe bastante indignado – É que tá muito frio aqui!
Rogério e a garota sorriram bastante. Felipe ficou muito encabulado.
- Vou te mostrar o meu pau então! – disse ele avançando pra cima dela a abraçando e a beijando até seu pau ficar duro. Coisa que não demorou muito a acontecer.
Rogério estava esfregando seu pau mediano na bunda da garota e beijando seu pescoço, enquanto Felipe esfregava seu pau pequeno na parte da frente da garota a beijando na boca. Era um sanduíche de bêbados, sem dúvida.
- Chupa a minha pica! – ordenou Felipe no calor do momento.
- E a minha também, caralho! – disse Rogério.
Mas a garota queria algo em troca dos dois. Ela queria que eles se beijassem na boca.
- Bem que tu disseste que essa vagabunda era doida, Felipe – se irritou Rogério deixando se pau mediano amolecer na hora.
- Vocês dois estavam juntos desde que entraram no barco – continuou a garota se sentindo cheia de razões e visivelmente irritada por ver sua mísera vontade negada de maneira tão áspera. – Só pode ser um casal! Eu pensei. E não tem nada haver vocês se beijarem aí pra eu ver. Isso me dá muito tesão, sabiam?
- Foda-se, puta-escrota! A gente é primo!– gritou Rogério apontando o dedo na face da garota.  
- Primos também se casam e constituem até família, seu jegue. Um beijo não vai matar e nem fazer de vocês menos homens. Depois vocês podem me comer até enjoar.
Felipe que estava calado desde o início daquela negociação, talvez pensando no assunto de forma mais aberta e tranquila do que seu primo, resolveu finalmente opinar:
 - Que frescura é essa, Rogério – começou Felipe com um sorriso incomum. – A garota não tá pedindo nada demais, cara. Esse negócio de ficar bancando o machão já não tá com nada. Tu não te lembras de quando a gente era moleque?
- Primo, que papo de veado é esse? Tô começando a te estranhar?
- Temos que ter a mente aberta. Viver a vida louca! Beber em todas as fontes e cheirar todas as rosas! Tens que ser moderno, seu caboclo do mato! Sei que tu tens vontade de liberar o outro lado da moeda. Todo mundo tem pelo menos curiosidade.
- Eu já fiquei com várias primas e primos – ajuntou a garota. – E gostei muito.
Depois se fez um silêncio. Para deixar Rogério se decidir. Mas ele apenas olhava para o seu primo de forma assustada e decepcionada. Olhava para a garota e a odiava com todas as forças. Entretanto, Felipe acreditou que Rogério estivesse apenas sem coragem para se decidir, e por isso, se aproximou dele com muito ardor:
- Vem cá e vamos acabar logo com isso! – disse Felipe envolvendo Rogério pela cintura com a mão direita, e com a mão esquerda segurando com força a nuca de seu primo, enquanto seus lábios lançavam-se aos lábios do outro com uma velocidade voraz impressionante.

Seus familiares não acreditavam que Rogério fosse capaz de tomar uma atitude daquelas. Quebrar a cabeça do próprio primo com uma garrafa de vidro e ainda por cima ter o sangue frio para atirá-lo no meio da baía. Por sorte a garota havia corrido até a cabine do capitão para avisar que uma briga entre dois jovens alcoolizados estava ocorrendo na parte de trás do barco por sua causa. Briga por ciúmes. Mas ela garantiu que não tinha dado confiança para nenhum dos dois. Apenas parou para pedir uma informação, mas foi obrigada a aceitar um gole da bebida que eles muito forçadamente haviam lhe oferecido. Mais por medo do que por outra coisa ela ficou por ali, fingindo que bebia. Depois veio a confusão.
- Mas até eu faria a maior confusão pra ficar contigo, minha filha – gracejou o capital dando um leve beliscão na perna da garota após terem embarcado o pobre Felipe e trancafiado Rogério, muito custosamente, dentro de um camarote.
- Te enxergar, velho tarado! – respondeu ela com desprezo. – Tens idade pra ser meu avô. Vou é dormir o que é antes que me estuprem! Nessa viajem só embarcou maníacos!
 O capitão apenas sorriu observando a bela bunda da garota que se distanciava num requebrado excitante, provocativo. Depois voltou para o seu timão. A viagem atrasaria em uma hora.