Daniel aparece por volta da cinco horas da tarde. Vou até a porta com meu copo cheio.
- Tu já estás bêbado, caralho? – perguntou-me ele a entrar.
- Um pouco, afinal, hoje é Carnaval! – respondi animado.
- Isso aí é verdade... Me dá um copo, aí!
O vinho terminou. Daniel comprou outro. E seguimos conversando e bebendo. Daniel me falou do seu novo emprego. De como não conseguia assimilar a ideia de ser um trabalhador. Trabalhador era um adjetivo que não casava bem com sua pessoa. E ele contou a respeito das funcionárias da loja. Só gostosas. Ele estava muito atraído por uma delas. Uma garota de longos cabelos dourados e uma bunda de respeito com uma tatuagem gravada bem acima. E ele tinha quase certeza de que ela também estava a fim. O problema era que a jovem estava atravessando uma crise com o namorado. Namorado que era muito influente dentro da loja. E que se quisesse queimá-lo o queimaria com certeza. Ele me falou também que já estava com o projeto de um romance. Ele também queria ser escritor. Pelo menos eu não era o único porra-louca da cidade. Enquanto isso, ele continuava no depósito de uma loja no Comércio, e eu numa infernal feira-livre.
Quando demos por nós, três garrafas de litro e meio de vinho já tinham se despedido. Eram onze horas da noite. Daniel foi dá um telefonema para sua casa.
- Mãe – falou ele no inevitável idioma “cachacês”. – Vou dormir na casa de um amigo. Já tá muito tarde pra eu ir pra casa.
...
- N-ão! Eeeeeu n-ão tô porre.
Condenou-se.
Voltamos para o setor. Estávamos sem vinho e saímos atrás de mais. Um grupo de jovens sem camisas e mal-encarados estava em pé na esquina. Passamos por eles. Eles não falaram nada. Compramos a bebida e resolvemos beber na casa de Tio João. Tio João tinha uma casa enorme e cheia de quartos. Entretanto, Daniel percebeu que precisávamos de algumas bocetas ali. Não havia viva alma na rua e uma fina garoa prometia até de manhã. Lembrei-me do Entroncamento. Lá havia o Bar do Ruy. Se déssemos sorte ainda poderíamos assistir alguns shows de strip-tease e comer alguma puta de quinze reais. E assim deixamos a casa de Tio João e seguimos no rumo da Augusto Montenegro. A cidade de fato estava morta. Nem Kombis, vans ou ônibus na rua. Pegamos um táxi. Daniel estava estribado. Havia saído vale para os empregados no final de semana.
Chegando em frente ao Bar do Ruy, a decepção: fechado. Um silêncio gritante na rua da Feira da Prainha. Resolvemos descer um pouco mais. Com certeza, estávamos brincando com a sorte.
Então encontramos um cafetão parado em frente a uma boate fechada. Um homem de meia idade, alto e gordo. Os óculos que ele trazia na cara lhes davam a impressão de gente inofensiva.
- Como é o esquema aí dentro? – adiantou-se Daniel.
- A boate não está funcionando hoje. Só os quartos – respondeu categoricamente o cafetão. - O esquema é escolher a puta e ir direto para o quarto.
Olhei para o lado e vi algumas garotas em frente de uma loja fechada. Ao lado dessa loja havia uma estreita entrada delimitada com um muro oposto e uma grade de ferro adjacente.
- E quanto é o serviço? – continuou Daniel. Ele realmente estava a fim de foder.
- Falem com as meninas – disse o cafetão se retirando em seguida para junto da estreita entrada enquanto uma puta estacionava junto a nós.
Daniel seguiu na negociação. Daniel falava demais quando bêbado. Eu observava calado. Percebi um movimento estranho ao nosso redor. Um homem muito mal encarado nos observava indiscretamente do outro lado da rua. Depois o tal homem se aproximou e sentou-se na frente da loja. Ele tentava disfarçar, embora já tivesse notado que eu o tirava. Depois apareceram mais putas. O cafetão andava de um lado para o outro. Daniel queria marca um programa a três. A puta não quis. Então Daniel propôs um swing. Ela também não quis. Queria ir apenas com um de nós dois. Daniel mandou ela escolher. Ela me olhou e apontou. “Ele”. Daniel tentou me convencer a ir com a puta. Mas eu não estava disposto a foder naquela noite. O lugar estava por demais carregado e não me inspirava a menor confiança. Eu pedi licença e sair para mijar. Daniel continuou com sua negociação enjoada.
E quando eu guardava o pirulito na cueca, vi uma jovem puta conhecida. Ela era a puta titular de um dos feirantes do Entroncamento. E todos nós, da feira, a conhecíamos. Conhecíamos no sentindo de saber quem ela era vestida, somente.
- Oi, sobrinho do João – ela disse seguindo em direção à frente da loja, onde estavam Daniel e as putas.
- Oi – respondi seguindo no mesmo sentindo.
Daniel continuava a negociar. A puta estava ficando irritada. Eu olhei para outro lado da rua e a puta conhecida estava cochichando alguma coisa com os demais. À medida que os demais captavam a mensagem, lançavam um olhar furtivo em nossa direção e balançavam a cabeça positivamente. Estávamos seguros. Eu deveria tentar um concurso para Polícia Militar. Lembrei-me que já havia tentado, e tinha sido eliminado na minha entrevista com a psicóloga gostosona.
- Você não quer ir com nós dois pra cama, né? – perguntei passando levemente as mãos em sua face.
- Tem um monte de puta ali que adoraria ir – respondeu ela.
- Mas a gente escolheu você – falei sedutor.
- Só vou com um – arremeteu ela.
- Se você não quer, tudo bem, meu amor. Apesar de eu ter adorado o seu lindo rostinho.
E virando para Daniel eu disse:
- A menina não quer. Vamos embora daqui.
E seguimos até a Pedro Álvares Cabral. Depois descemos pela Avenida Dalva no rumo da Almirante Barroso. Na Almirante Barroso, nenhuma condução que nos pudesse levar para o Ver-o-Peso. Tiramos a garrafa de vinho da minha sacola de pano e bebemos um gole. Daniel estava irritado. Ele queria foder com as putas da Prainha. E ele reclamou pra caralho. Eu deixei ele reclamar sozinho. A Prainha não era a minha praia. Eu sentia saudades do Ver-o-Peso. Mas sabíamos que se era impossível arrumar uma condução até lá. Belém, no Carnaval, virava uma cidade fantasma. Nessas horas eu sentia vontade de voltar para minha antiga casa. De lá eu poderia ir andando para o Ver-o-Peso. Mas o Ver-o-Peso também deveria estar morto.
Caminhamos para Augusto Montenegro. Sentamos num dos carros de lanches da Feira do Entroncamento e pedimos uma cerveja. Um feirante me saudou. Eu o saudei de volta. Uma atendente magra e morena nos trouxe uma cerveja gelada. Ela era tão bonitinha. Senti vontade de transar com ela ali mesmo. Eu ainda não tinha visto ela por ali. Não conseguimos beber toda cerveja. Eu não me sentia legal. Pegamos uma van e voltamos para casa.
- Tu já estás bêbado, caralho? – perguntou-me ele a entrar.
- Um pouco, afinal, hoje é Carnaval! – respondi animado.
- Isso aí é verdade... Me dá um copo, aí!
O vinho terminou. Daniel comprou outro. E seguimos conversando e bebendo. Daniel me falou do seu novo emprego. De como não conseguia assimilar a ideia de ser um trabalhador. Trabalhador era um adjetivo que não casava bem com sua pessoa. E ele contou a respeito das funcionárias da loja. Só gostosas. Ele estava muito atraído por uma delas. Uma garota de longos cabelos dourados e uma bunda de respeito com uma tatuagem gravada bem acima. E ele tinha quase certeza de que ela também estava a fim. O problema era que a jovem estava atravessando uma crise com o namorado. Namorado que era muito influente dentro da loja. E que se quisesse queimá-lo o queimaria com certeza. Ele me falou também que já estava com o projeto de um romance. Ele também queria ser escritor. Pelo menos eu não era o único porra-louca da cidade. Enquanto isso, ele continuava no depósito de uma loja no Comércio, e eu numa infernal feira-livre.
Quando demos por nós, três garrafas de litro e meio de vinho já tinham se despedido. Eram onze horas da noite. Daniel foi dá um telefonema para sua casa.
- Mãe – falou ele no inevitável idioma “cachacês”. – Vou dormir na casa de um amigo. Já tá muito tarde pra eu ir pra casa.
...
- N-ão! Eeeeeu n-ão tô porre.
Condenou-se.
Voltamos para o setor. Estávamos sem vinho e saímos atrás de mais. Um grupo de jovens sem camisas e mal-encarados estava em pé na esquina. Passamos por eles. Eles não falaram nada. Compramos a bebida e resolvemos beber na casa de Tio João. Tio João tinha uma casa enorme e cheia de quartos. Entretanto, Daniel percebeu que precisávamos de algumas bocetas ali. Não havia viva alma na rua e uma fina garoa prometia até de manhã. Lembrei-me do Entroncamento. Lá havia o Bar do Ruy. Se déssemos sorte ainda poderíamos assistir alguns shows de strip-tease e comer alguma puta de quinze reais. E assim deixamos a casa de Tio João e seguimos no rumo da Augusto Montenegro. A cidade de fato estava morta. Nem Kombis, vans ou ônibus na rua. Pegamos um táxi. Daniel estava estribado. Havia saído vale para os empregados no final de semana.
Chegando em frente ao Bar do Ruy, a decepção: fechado. Um silêncio gritante na rua da Feira da Prainha. Resolvemos descer um pouco mais. Com certeza, estávamos brincando com a sorte.
Então encontramos um cafetão parado em frente a uma boate fechada. Um homem de meia idade, alto e gordo. Os óculos que ele trazia na cara lhes davam a impressão de gente inofensiva.
- Como é o esquema aí dentro? – adiantou-se Daniel.
- A boate não está funcionando hoje. Só os quartos – respondeu categoricamente o cafetão. - O esquema é escolher a puta e ir direto para o quarto.
Olhei para o lado e vi algumas garotas em frente de uma loja fechada. Ao lado dessa loja havia uma estreita entrada delimitada com um muro oposto e uma grade de ferro adjacente.
- E quanto é o serviço? – continuou Daniel. Ele realmente estava a fim de foder.
- Falem com as meninas – disse o cafetão se retirando em seguida para junto da estreita entrada enquanto uma puta estacionava junto a nós.
Daniel seguiu na negociação. Daniel falava demais quando bêbado. Eu observava calado. Percebi um movimento estranho ao nosso redor. Um homem muito mal encarado nos observava indiscretamente do outro lado da rua. Depois o tal homem se aproximou e sentou-se na frente da loja. Ele tentava disfarçar, embora já tivesse notado que eu o tirava. Depois apareceram mais putas. O cafetão andava de um lado para o outro. Daniel queria marca um programa a três. A puta não quis. Então Daniel propôs um swing. Ela também não quis. Queria ir apenas com um de nós dois. Daniel mandou ela escolher. Ela me olhou e apontou. “Ele”. Daniel tentou me convencer a ir com a puta. Mas eu não estava disposto a foder naquela noite. O lugar estava por demais carregado e não me inspirava a menor confiança. Eu pedi licença e sair para mijar. Daniel continuou com sua negociação enjoada.
E quando eu guardava o pirulito na cueca, vi uma jovem puta conhecida. Ela era a puta titular de um dos feirantes do Entroncamento. E todos nós, da feira, a conhecíamos. Conhecíamos no sentindo de saber quem ela era vestida, somente.
- Oi, sobrinho do João – ela disse seguindo em direção à frente da loja, onde estavam Daniel e as putas.
- Oi – respondi seguindo no mesmo sentindo.
Daniel continuava a negociar. A puta estava ficando irritada. Eu olhei para outro lado da rua e a puta conhecida estava cochichando alguma coisa com os demais. À medida que os demais captavam a mensagem, lançavam um olhar furtivo em nossa direção e balançavam a cabeça positivamente. Estávamos seguros. Eu deveria tentar um concurso para Polícia Militar. Lembrei-me que já havia tentado, e tinha sido eliminado na minha entrevista com a psicóloga gostosona.
- Você não quer ir com nós dois pra cama, né? – perguntei passando levemente as mãos em sua face.
- Tem um monte de puta ali que adoraria ir – respondeu ela.
- Mas a gente escolheu você – falei sedutor.
- Só vou com um – arremeteu ela.
- Se você não quer, tudo bem, meu amor. Apesar de eu ter adorado o seu lindo rostinho.
E virando para Daniel eu disse:
- A menina não quer. Vamos embora daqui.
E seguimos até a Pedro Álvares Cabral. Depois descemos pela Avenida Dalva no rumo da Almirante Barroso. Na Almirante Barroso, nenhuma condução que nos pudesse levar para o Ver-o-Peso. Tiramos a garrafa de vinho da minha sacola de pano e bebemos um gole. Daniel estava irritado. Ele queria foder com as putas da Prainha. E ele reclamou pra caralho. Eu deixei ele reclamar sozinho. A Prainha não era a minha praia. Eu sentia saudades do Ver-o-Peso. Mas sabíamos que se era impossível arrumar uma condução até lá. Belém, no Carnaval, virava uma cidade fantasma. Nessas horas eu sentia vontade de voltar para minha antiga casa. De lá eu poderia ir andando para o Ver-o-Peso. Mas o Ver-o-Peso também deveria estar morto.
Caminhamos para Augusto Montenegro. Sentamos num dos carros de lanches da Feira do Entroncamento e pedimos uma cerveja. Um feirante me saudou. Eu o saudei de volta. Uma atendente magra e morena nos trouxe uma cerveja gelada. Ela era tão bonitinha. Senti vontade de transar com ela ali mesmo. Eu ainda não tinha visto ela por ali. Não conseguimos beber toda cerveja. Eu não me sentia legal. Pegamos uma van e voltamos para casa.
Um comentário:
boa sorte parabens pelo livro
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