Se o sol nos faz arde a pele e a presença de uma mulher sensual nos encaminhar para as mais variadas sensações, não se observa o mesmo diante de uma tarde cinza que trás em seu bojo um pau d’água pai d’égua. Finais de tarde às margens de qualquer rio da nossa região sem a ilustre presença do sol morrendo dramaticamente no firmamento se é desolador. Não seria diferente às margens do Guamá.
Dias cinza nos arremete a sonos bons e a vigílias melancolicamente contemplativas.
Algumas semanas atrás, numa tarde semelhante, um jovem afogou-se nas águas desse rio, perdeu uma vida ainda por viver. Enquanto isso, à orla do “Vadião”, seus amigos choravam, os bombeiros iniciavam as buscas, a TV Liberal filmava e o dj do Super Tony ligava as caixas de sua aparelhagem para mais um forró universitário. A vida uma humana não valia merda alguma! Estávamos sempre preocupados com nossos rabos politicamente, religiosamente, socialmente, universitariamente corretos.
Meu amigo e eu ouvíamos o som das potentes caixas e olhávamos para rio. A noite já dominava absoluta e o céu não sangrou naquele dia, pois estava chorando em finas e constantes lágrimas. Certamente as cervejas e caipirinhas não desceriam por nossas goelas naquele dia. Tudo parecia cru e cruel demais. Em momento algum em senti orgulho de fazer parte daquela comunidade, aliás, o que eu sentia era nojo. Meu amigo e eu pensávamos na mãe daquele jovem ao mesmo tempo em que pensávamos nas nossas. As lágrimas, quando não se é céu, às vezes não se materializam facilmente. No entanto, por dentro a gente estar em pedaços.
Caminhávamos pelos corredores para mais uma aula de Geociências enquanto por nós passava alunos comentado o caso com uma euforia constrangedora. Era como se estivessem excitados com aquilo. O forró com o rio Guamá sangrento aos fundos teria uma atração a mais para eles naquela noite. Universitários otários.
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* Jovem morto na tarde do dia 06 de maio de 2010 à orla da Universidade Federal do Pará.
Leia mais sobre o caso no Jornal Diário do Pará Online:
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