Instituto de Artes do Pará |
Conheci a pessoa Vicente Franz Cecim numas das minhas oficinas e cursos do Instituto de Artes do Pará - IAP. Seus passos leves e pausados, suas voz sensível e suave, seu jeito simples em contraste com a complexidade de seus pensamentos, que muito embora pudesse se expostos de maneira tão límpida e fluente, ainda sim, nos deixava com aquela sensação de que precisávamos ler, ler, ler e ler mais e muito mais para tentar compreender que não poderemos compreender tudo. Seus olhos eram duas bússolas perdidas em algum lugar onde poucos poderiam chegar, mas que queríamos alcançar a qualquer custo. Lembro-me da última vez que falei com Cecim lá no IAP. Ele estava trabalhando na Gerência Geral de Artes Literárias e Expressão de Identidades. Eu havia bebido durante toda a amanhã daquele dia e passei pelo Instituto para pegar um certificado de participação. Eu exalava a álcool e a suor, mas mesmo assim Cecim me atendeu com muito respeito e atenção. Eu havia acabado de entrar em contato com um pouco da obra dele e estava muito arrependido de não ter o feito antes. Ver e ouvir um talento daquele todas as semanas ali e nem sequer saber disso. Naquela última ocasião eu fiz elogios rasgados aos textos do livro que postarei aqui Viagem a Andara oO livro invisível, e como eu estava bastante bêbado, as palavras fluíram fáceis, embora com um leve sotaque cachacês. Ainda pude vê-lo numa certa tarde no banheiro do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará, em ocasião de um evento sobre mulheres escritoras paraenses. Mas não houve diálogo.
Segue alguns poemas e uma breve biografia de VICENTE FRANZ CECIM:
Fonte das constelações
Sem semear ossos no fim da tarde
e vindo ao encontro dos teus olhos nos Caminhos das espreitas,
eu busco
o segredo luminoso
da
Tua
Água
Soprando as cinzas,
mais humano que o Limo
Este é o Passo de Sombras
Esta é a Noite em que o céu virá beber nosso rumor de terra
Aqui
Eu espero
Como uma Construção erguida para baixo
rio em Silêncio, e serpentes: A Palavra
interminável
mente
calada
mente de Aves Profundas
e um Carrilhão de Luz
soando na Penumbra dos Seus Olhos,
dAquilo que escurece
as manhãs de cinzas
as pedras dos dedos da Oração
quando o mais Alto se ergue
e depõe o Muro Branco das Idades
como Transparência
no deserto Inundado
dos Teus sonhos: Cílio
da Carne,
e Rumor de Bosque Escuro
Curva dos Lábios
que não dizem - Rio
lá, onde
a Água Escura de um Abismo
Aquele que teve os olhos Selados
já não aguarda a Aurora das Virtudes: o Guardião de Sombras
Aurora das virtudes
Quando a terra se abre aos nossos pés,
quando a terra se abriu aos nossos pés
e vindo a ausência da Ausente, veio a Ausência
do ausente
e A que devorávamos na Sombra estava atrasada, e vindo
a que esperávamos estava atrasada
Caminho lento
que a terra ainda não abrira aos nossos pés
ainda Tantas vezes O teu silêncio e a Pálpebra
que não quis nos ver
Tantas vezes o Conselho: Soluça sem espreitas
Tu me nutriste de Escombros,
como uma construção erguida para baixo
não era os passos
Vocação de Olhos mais Escuros
quando a mão se abriu
para tocar O céu
Não eram os Passos dos que vieram antes
O que passou na Noite e não foi visto
Nada,
e Mais Além
Uma Esperança de Murmúrios
pequena BIOGRAFIA
Vicente Cecim se diz marcado pela obra de Kafka (Foto: Anderson Coelho) |
VICENTE FRANZ CECIM nasceu e vive em Belém do Pará, na Amazônia, Brasil.Desde que iniciou em 1979 a invenção de Viagem a Andara oO livro invisível, se devota unicamente a essa obra imaginária, que chama de literatura fantasma e diz escrever com tinta invisível. Os livros visíveis que escreve emergem dessa Viagem, ou, segundo o autor, não-livro, ambientados no território metafísico e físico de Andara, transfiguração da Amazônia em região-metáfora da vida. Em 1980, recebeu o prêmio Revelação de Autor da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte, por sua segunda obra, Os animais da terra. Ao longo dos sete primeiros livros de Andara prosseguiu abolindo as fronteiras entre prosa e poesia. Publicados inicialmente pela Iluminuras no volume Viagem a Andara, receberam, em 1988, o Grande Prêmio da Crítica da APCA, nessa década somente atribuído também a Hilda Hilst, Cora Coralina, Mario Quintana e, na seguinte, a Manoel de Barros. Em novas versões, transcriados pelo autor e reunidos nos volumes A asa e a serpente e Terra da sombra e do não, foram reeditados em edição comemorativa, pela Cejup, em 2004. Em 1994, Silencioso como o Paraíso, lançado pela Iluminuras com mais quatro livros de Andara, em que o autor reafirma sua disposição de converter a literatura em pura escritura, foi aclamado por Leo Gilson Ribeiro como “um dos mais perfeitos livros surgidos no Brasil nos últimos dez anos.” Desde então, suas novas obras passaram a ser publicados apenas em Portugal.
Em 2001, a Íman lançou Ó Serdespanto, livro duplo, em que a palavra cada vez mais aprofunda o seu dialogo com o silêncio, aqui reeditado em 2006 pela Bertrand Brasil. Apontado pela crítica portuguesa, no jornal Público, como o segundo melhor lançamento do ano, Cecim foi saudado por Eduardo Prado Coelho como “Uma revelação extraordinária!” K O escuro da semente, que saiu em Portugal pela Ver o Verso em 2005 e tem lançamento previsto, no Brasil, pela Bertrand, inaugurou uma outra fase em sua linguagem, que o autor denomina Iconescritura. Fase que se prolonga em seu livro mais recente, lançado em 2008 pela Tessitura, de 22 Minas Gerais: oÓ: Desnutrir a pedra. Nesta obra, o autor aprofunda sua demanda de uma nova escritura, mesclando palavra, silêncio da página em branco e imagem. Diz que durante esses anos todos, Andara lhe desvelou que “o natural é sobrenatural, o sobrenatural é natural.” Em 2009, a invenção de Andara atingiu 30 anos de criação.
Veja alguns livros do autor Vicente Cecim
FONTE: VIAGEM A ANDARA O LIVRO INVISÍVEL, FONTE DOS QUE DORMEM, Vicente Franz Cecim. E-book (PDF). DOL - Diário Online. "Vicente Cecim fala sobre a relação com a Amazônia". ttp://www.diarioonline.com.br/noticias-interna.php?nIdNoticia=116330. Acessado em: 17/05/2011.
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