Gabriela Mistral (1889-1957) |
A professora e poetisa chilena Gabriela Mistral - pseudônimo de Lucila María del Perpetuo Socorro (1889-1957), nasceu numa pequena comunidade do Chile por nome Vicuña no Vale de Elqui.
Sua obra literária transmite muito de sua trajetória, como professora, nas salas de aula das escolas rurais aos arredores da província de La Serena, onde vivia. Gabriela Mistral atuava no magistério desde seus 15 anos de idade, o que veio refletir em seus poemas um caráter bastante pedagógico. Sua obra é uma verdadeira lição para quem pretende um dia trabalhar em sala de aula, principalmente, com crianças.
O reconhecimento definitivo da obra de Mistral veio, em 1945, com o Prêmio Nobel de Literatura, que reconhecia em sua autora um símbolo das aspirações idealistas de todo o mundo latino-americano. Esta foi a primeira vez que a homenagem foi prestada a um autor(a) latino-americano(a).
Dentre sua produção literária selecionamos o poema “La maestra rural” (A professora rural). Inspirada na imagem humana e lírica da irmã, sua verdadeira educadora e guia com quem aprendeu a ler e escrever. Seus versos a caracterizam como professora pura, pobre, alegre, um ser “doce”. Esses versos são da obra “Desolación” (Desolação), publicado nos Estados Unidos da América, em 1922.
A seguir os belos versos de A professora rural de Gabriela Mistral, traduzidos para o português por Luis Marcos Sander:
A PROFESSORA RURAL
Para Federico de Onís
A professora era pura “Os suaves hortelãos”,
dizia, “deste prédio, que é prédio de Jesus,
hão de conservar puros os olhos e as mãos,
guardar claros seus óleos, para dar clara luz
A professora era pobre. Seu reino não é humano.
(Assim no doloroso semeador de Israel).
Vestia saias pardas, não enjoiava sua mão
e todo o seu espírito era uma imensa joia!
A professora era alegre. Pobre mulher ferida!
Seu sorriso foi um modo de chorar com bondade.
Por sobre a sandália rota e avermelhada,
este sorriso, a insigne flor de sua santidade.
Doce ser! Em seu rios de méis caudaloso,
longamente dava de beber a seus tigres a dor.
Os ferros que lhe abriram o peito generoso
mais largas lhe deixaram as bacias do amor!
Oh lavrador, cujo filho de seu lábio aprendia
o hino e a prece, viste o fulgor
do luzeiro cativo que em suas carnes ardia:
passaste sem beijar seu coração em flor!
Camponesa, lembras que alguma vez prendeste
seu nome a um comentário brutal ou fútil?
Cem vezes olhaste, nenhuma vez a viste
e no solar de teu filho dela há mais do que ti!
Passou por ele sua fina, sua delicada esteva,
abrindo sulcos onde alojar perfeição.
A alvorada de virtudes de que lentamente se neva
é sua. Camponesa, não lhe pedes perdão?
Dava sombra por uma selva seu carvalho fendido
no dia em que a morte a convidou para partir.
Pensando em que sua mãe a esperava adormecida,
À dos olhos Profundos se entregou sem resistir.
E em seu Deus adormeceu, como em coxim de lua;
Travesseiro de suas fontes, uma constelação;
canta o Pai para ela suas canções de berço
e a paz chove longamente sobre seu coração!
Como um repleto vaso, trazia a alma feita
para derramar aljôfares sobre a humanidade;
essa era sua vida humana a dilatada fenda
que costuma abrir o Pai para lançar a claridade
Por isso ainda pó de seus ossos sustenta
púrpura de roseiras de violento chamejar.
E o cuidador de túmulos, como aroma, me conta,
os mapas daquele que marca seus ossos, ao passar!
Outros poemas de caráter pedagógico de Gabriela Mistral são: “La oración de la maestra” (A oração da professora), “Palabras a los maestros” (Palavras aos professores), “Pensamientos pedagógicos” (Pensamentos pedagógicos), “Llamada por el niño” (Chamamento pela criança) “Pasión de ler” (Paixão de ler) e “Contar”.
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Fontes consultadas: ADAMS, Telmo. "Gabriela Mistral e a educação das nossas crianças" e POET SEERS. "Gabriela Mistral (1945)" Disponível em: http://www.poetseers.org/nobel-prize-for-literature/gabriela-mistral-1945/ Acesso em: 21/10/12.
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