sábado, 7 de dezembro de 2013

Conheça a obra "Deus e o Estado" de Bakunin



A verdadeira escola para o povo e para todos os homens feitos é a vida. A única autoridade onipotente, simultaneamente natural e racional, a única que poderemos respeitar, será aquela do espírito coletivo e público de uma sociedade fundada no respeito mútuo de todos os seus membros. Sim, eis uma autoridade que não é de forma alguma divina, inteiramente humana, mas diante da qual nós nos inclinaremos de coração, certos de que, longe de subjugar os homens, ela os emancipará. Ela será mil vezes mais poderosa, estejais certos, do que todas as vossas autoridades divinas, teológicas, metafísicas, políticas e jurídicas, instituídas pela Igreja e pelo Estado; mais poderosa que vossos códigos criminais, vossos carcereiros e carrascos.

Aproveite e leia a obra que já está em domínio público. Se preferir ter a obra em mãos, considere essa oferta da Amazon a seguir.



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Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ler poesia é mais útil para o cérebro que livros de autoajuda, dizem cientistas


Ler autores clássicos, como Shakespeare, William Wordsworth e T.S. Eliot, estimula a mente e a poesia pode ser mais eficaz em tratamentos do que os livros de autoajuda, segundo um estudo da Universidade de Liverpool publicado nesta terça-feira (15).
Especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa da universidade monitoraram a atividade cerebral de 30 voluntários que leram primeiro trechos de textos clássicos e depois essas mesmas passagens traduzidas para a "linguagem coloquial".
Reprodução
O poeta Thomas Stearns Eliot
O poeta Thomas Stearns Eliot
Os resultados da pesquisa, antecipados pelo jornal britânico "Daily Telegraph", mostram que a atividade do cérebro "dispara" quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano.
Esses estímulos se mantêm durante um tempo, potencializando a atenção do indivíduo, segundo o estudo, que utilizou textos de autores ingleses como Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin.
Os especialistas descobriram que a poesia "é mais útil que os livros de autoajuda", já que afeta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva.
"A poesia não é só uma questão de estilo. A descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento cognitivo que já possuímos de nossas lembranças", explica o professor David, encarregado de apresentar o estudo.
Após o descobrimento, os especialistas buscam agora compreender como afetaram a atividade cerebral as contínuas revisões de alguns clássicos da literatura para adaptá-los à linguagem atual, caso das obras de Charles Dickens.
Com agências de notícias
FONTE: Folha de São Paulo de 15/01/2013. Dispon

domingo, 1 de dezembro de 2013

II Concurso de Poesia Narciso de Araújo. Inscrição até 31/01/2014



Organização: Academia Marataizense de Letras.
Inscrições: de 25 de outubro de 2013 a 31 de janeiro de 2014.
Premiação: troféus e certificados.

REGULAMENTO:

1. DA INSCRIÇÃO – As inscrições se iniciam em 25 de outubro de 2013 e se encerram, impreterivelmente, em 31 de janeiro de 2014, valendo, para registro, a data da postagem nos Correios.

1.1. Podem participar do concurso todos os cidadãos brasileiros, maiores de dezoito anos, residentes em território nacional.

1.2. O tema do concurso é livre. Cada participante pode concorrer com apenas 01 (um) poema INÉDITO, escrito obrigatoriamente em Língua Portuguesa.

2. DO ENVIO (SISTEMA DE ENVELOPES) – O trabalho deve ser digitado em 01 (uma) só face da folha, em fonte ‘arial’ ou ‘times new roman’, tamanho 12; com margens 3cm (superior e esquerda) e margens 2cm (inferior e direita); com o máximo de 02 (duas) páginas, numeradas no canto superior direito; constando apenas o título do poema, o pseudônimo do autor, e o poema concorrente.


Programa de Afiliados Cursos 24 Horas

2.1. O trabalho deverá ser remetido em 4 (quatro) vias, em envelope grande; o qual trará também, em seu interior, outro envelope menor, contendo sobrecarta fechada, com a identificação do candidato: título do poema; pseudônimo do autor; nome completo do autor; endereço completo; telefones com DDD; e-mail e breve biografia (no máximo, 5 linhas). Na parte externa do envelope menor, deverá constar apenas o título do poema e o pseudônimo do autor. Na parte externa do envelope maior deverá constar o seguinte endereço do ‘destinatário’:

ACADEMIA MARATAIZENSE DE LETRAS.
II CONCURSO DE POESIAS ‘NARCISO ARAÚJO’.
Rua Pedro Sousa Maia, n.º 263 – Ap. 101 – Bairro: Arraias.
Praia da Cruz – Marataízes (ES) – CEP: 29.345-000.

2.2. O endereço do ‘destinatário’ deverá ser repetido no lugar do endereço do ‘remetente’, usando-se, no lugar do ‘nome do remetente’, o nome do patrono do concurso: NARCISO DA COSTA ARAÚJO.

2.3. Qualquer forma de identificação do autor, diferente da estipulada neste edital, tornará nula a inscrição do poema.
2.4. No interior do mesmo envelope grande deverá conter, ainda, um CD, no qual estará gravado o poema concorrente, em Word for Windows ou equivalente (*.doc); cabendo ressaltar que a comissão organizadora não se responsabiliza por eventuais danos que possam ocorrer à mídia.

3. DA AUTENTICIDADE – Para todos os efeitos legais, os participantes se declaram legítimos autores dos poemas inscritos, garantindo o ineditismo dos mesmos, bem como isentando a Academia Marataizense de Letras de quaisquer reclamações, em juízo ou fora dele; podendo os infratores sofrer as penalidades previstas na Lei n.º 9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais).


4. DA COMISSÃO JULGADORA – A comissão julgadora será constituída a convite da comissão organizadora e seus nomes serão anunciados somente após o término do período de inscrições.

4.1. Os membros da Academia Marataizense de Letras, da comissão organizadora e da comissão julgadora, bem como seus parentes, não poderão participar do concurso.
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4.2. A decisão da comissão julgadora é soberana, não sendo passível de recurso.


5. DO RESULTADO E PREMIAÇÃO – Os nomes dos vencedores serão divulgados no mês de março de 2014, em data ainda a ser definida.

5.1. Aos 03 (três) primeiros colocados serão concedidos: troféus e certificados.

5.2. Os vencedores serão previamente informados via correspondência eletrônica, em tempo que lhes permita comparecer à cerimônia de premiação. Quem não comparecer à cerimônia receberá o prêmio via Correios.

5.3. Os vencedores, residentes ou não no Estado do Espírito Santo, terão direito a passagens, hospedagem e alimentação gratuitas.
5.4. A entrega dos prêmios se fará (em local, data e horário ainda a combinar) em sessão solene, a se realizar em Marataízes (ES).

6. DOS TRÂMITES FINAIS – Qualquer descumprimento das normas deste edital, bem como qualquer ofensa à comissão julgadora ou aos organizadores do concurso, implicará na imediata desclassificação do candidato.

6.1. Ao fazer a inscrição o concorrente estará aceitando, naturalmente e na íntegra, os termos deste edital, ficando sujeito à desclassificação pelo não cumprimento do mesmo.

6.2. Ao final do concurso, os trabalhos não serão devolvidos.

6.3. Os casos omissos serão resolvidos pela comissão organizadora.

Marataízes (ES), 15 de outubro de 2013.

Bárbara Pérez – Presidente.
André Luis Soares – Tesoureiro e Diretor Literário.

Academia Marataizense de Letras.
Apoio cultural: comércio local.

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sábado, 30 de novembro de 2013

Poema "ANOITECER" de Carlos Drummond de Andrade


A Dolores


É a hora em que o sino toca,
Mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.
É  a  hora  do  descanso,
mas   o  descanso  vem  t ar de,
o  corpo  não  pede  sono,
depois  de  t anto  rodar;
pede  paz   —  morte   —  mergulho
no  poço  mais   ermo  e  quedo;
desta  hora  tenho  medo.
Hora de delicadeza,
gasalho,   sombra,   silêncio.
Haverá  disso  no  mundo?
Ê  antes  a  hora  dos  corvos,
bicando  em  mim,   meu  passado,
meu  futuro,   meu  degredo;
desta  hora,   sim,   tenho  medo.

(Carlos Drummond de Andrade - in a Rosa do Povo,  Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 23-24.).



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Baixe e assista o filme "Paulo Freire Contemporâneo (Parte 2)" de Toni Venturi


Freire implantou um sistema de alfabetização em Angicos, na Bahia, no entanto, o processo que foi interrompido pela ditadura. Mostra ainda a concepção antropológica de Paulo Freire e as atividades da escola rural de Jaguaquara, na Bahia. A escola baseou-se na teoria educacional de Paulo Freire para reformular o seu sistema de ensino. O filme apresenta o Instituto Paulo Freire e suas várias associações espalhadas pelo mundo. (Acervo digital UNESP). 
Baixar arquivo


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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Baixe e assista o filme "Paulo Freire Contemporâneo (Parte 1)" de Toni Venturi


O filme aborda a critica de Paulo Freire ao sistema de ensino brasileiro. Freire implantou um sistema de alfabetização em Angicos, na Bahia, no entanto, o processo que foi interrompido pela ditadura. Mostra ainda a concepção antropológica de Paulo Freire e as atividades da escola rural de Jaguaquara, na Bahia. A escola baseou-se na teoria educacional de Paulo Freire para reformular o seu sistema de ensino. O filme apresenta o Instituto Paulo Freire e suas várias associações espalhadas pelo mundo. (Acervo digital UNESP).
Baixe gratuitamente no link a baixo:

Baixar arquivo


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Fontes consultadas
http://acervodigital.unesp.br/

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

III Prêmio de Poesia Portal Amigos do Livro 2013 - Inscrições online até 31 DEZ/2013




Portal Amigos do Livro abre inscrições até 31 de dezembro de 2013 do III Prêmio de Poesia Portal Amigos do Livro.

O Concurso tem por objetivo descobrir novos talentos e promover a literatura brasileira.

Na edição de 2013 contemplará o gênero POESIA. Tema é livre e a inscrição grátis.

Poderão participar autores brasileiros, residentes ou não no País, maiores de 16 anos. Cada Autor poderá participar com 1 (uma) POESIA INÉDITA, em língua portuguesa, contendo obrigatoriamente um título.

Inscrições: AQUI 

PREMIAÇÃO
Os 50 (cinquenta) trabalhos selecionados pela Comissão Julgadora serão publicados em antologia pela Scortecci Editora, no formato 14 x 20,7 cm, sem custo, taxa ou qualquer despesa para o AUTOR.
A título de Direito Autoral, cada autor receberá como premiação, além da publicação da obra na antologia, 5 (cinco) exemplares da obra, pelos Correios (Encomenda Normal).
A publicação será em ordem alfabética, por nome de AUTOR, com Ficha Catalográfica, número de ISBN e selo editorial da Scortecci Editora.
CARACTERISTICAS DA OBRA
300 (trezentos) exemplares, formato 14 x 20,7 cm, miolo P&B, capa 4 cores em papel 250 gramas, sendo: 250 (duzentos e cinquenta) exemplares para os AUTORES vencedores e 50 (cinquenta) exemplares para a Livraria Asabeçacomercializar ao preço de R$ 30,00 cada.
AUTORES vencedores do III Prêmio Literário de Poesia Portal Amigos do Livro 2013 poderão adquirir exemplares extras (não obrigatório) diretamente com a editora com 40% de desconto sobre o preço de capa.
CRONOGRAMA
Inscrições: até 31 de dezembro de 2013.
Divulgação do Resultado: fevereiro de 2014 através do Portal Amigos do Livro e do Portal Concursos e Prêmios Literários.
Edição e Publicação: março de 2014.
Envio da obra para os AUTORES Vencedores: abril de 2014.
DISPOSIÇÕES FINAIS
Ao fazer a inscrição, o AUTOR estará concordando com as regras do concurso, inclusive autorizando a publicação de sua POESIA e BIOGRAFIA em antologia publicada pela Scortecci Editora e responderá por plágio, cópia indevida e demais crimes previstos na Lei do Direito Autoral.

Organização: Portal Amigos do Livro (www.amigosdolivro.com.br)

Apoio: Portal Concursos e Prêmios Literários e Scortecci Editora.

Mais informações: Use, por favor, o FALE CONOSCO do Portal Concursos e Prêmios Literários.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Lygia Fagundes Telles: A escrita como vocação



Numa tarde de junho de 2012, a escritora Lygia Fagundes Telles recebeu o Portal Literal em seu apartamento, no bairro dos Jardins, na capital paulista, com vinho do Porto e biscoitos amanteigados, para uma conversa sobre sua trajetória. Quando surgiu na sala, nada indicava que ali estava uma mulher de quase 90 anos. Sua força, beleza e extrema gentileza são impactantes.  “Vocês não vão beber?! Bebam!”, a todo momento incitava a equipe a beber mais vinho.
Sentada no lugar predileto, ao lado das plantas, em frente à estante repleta de fotos e lembranças de familiares, cercada por pinturas, algumas do filho Goffredo da Silva Telles Neto, Lygia relembrou, ao longo de quase duas horas, episódios do passado, recitou versos guardados na memória, falou dos queridos amigos (Clarice, Caio F., Drummond, Érico Verissimo), da sua relação com a escrita e seus personagens, do lidar com a vida e a morte. O que impressionou na força de seu depoimento é o amor pelo ofício, dedicação de vida ao “chamado” que recebeu ainda mocinha na escola.
Neste encontro, Lygia Fagundes Telles, a menina contadora de histórias que aceitou sua vocação para se tornar uma das mulheres mais respeitadas da literatura brasileira, revela-se tão grande quanto a sua prosa repleta de magia, o poder criador de suas palavras.

Portal Literal: A senhora disse recentemente em uma entrevista que, na juventude, foi pobre e subversiva. Como lidou com essas dificuldades iniciais e de que forma foi subversiva?
Lygia Fagundes Telles: Eu tive uma infância rica. Meu pai era um homem maravilhoso, mas era um jogador, então, jogou tudo. Então eu tive que trabalhar para pagar meus estudos. Era uma luta. Além da luta normal, a luta com a palavra. Como dizia o Drummond: “Lutar com a palavra é a luta mais vã, contudo lutamos mal rompe a manhã”. Além da luta pelo dinheiro, havia a luta pela palavra. Era uma luta dupla. Fiquei então uma lutadora. Só faltou botar aquelas luvas de box [risos]… Foi uma juventude muito difícil, muito complicada. Mas fui até o fim. É preciso coragem. Carlos Drummond de Andrade tem outro poema do qual eu gosto muito: “Penetra surdamente no reino das palavras, lá estão elas em estado de dicionário e te perguntam, sem interesse pelas respostas: trouxeste a chave?”. É muito bonito isso. Essa chave de abrir as palavras, de abrir a própria vida, essa chave exige uma luta, e é uma luta bonita. E assim eu fui. Então eu me acostumei desde cedo a essa imposição. “Vai, vai… trouxeste a chave?”. Essa pergunta eu fiz a mim mesma muitas vezes e a mim mesma eu respondi.

PL: A senhora chegou a ser afetada pelas ditaduras que testemunhou?
Lygia: Muito. Vou contar uma história para vocês. Eu era uma mocinha, com pulôveres fechados, cabelo escorrido. Durante uma manifestação, ia segurando a bandeira brasileira com outras moças do Largo São Francisco, e, atrás, o estandarte da Faculdade de Direito. Então o Getúlio Vargas mandou ordem para São Paulo para que não permitissem que os estudantes falassem. Então eu fui a uma casa de tecidos e pedi uma tela preta, essas que cobrem os defuntos, porosas, para pormos na boca. Já que o Getúlio tinha proibido falarmos, então íamos com aquele tira para a rua. Eu cheguei na loja e disse: “Me veja um tecido preto poroso, desses que cobrem os defuntos”. Ele trouxe a peça e eu pedi: “Por favor, uns 3 ou 4 metros”. Ele me olhou e perguntou: “Mas o defunto é grande assim?” [risos]. Saímos todos com a tira na boca, em protesto. Justamente nessa nossa caminhada havia um rapaz ao meu lado, também com um pano preto. De repente ele caiu no chão, vomitando sangue. Por detrás vinha a Polícia Militar metralhando. As lojas fecharam as portas. Um horror.  Foram arrancados os livros de vários poetas e prosadores das vitrines. Foram proibidos vários poetas e prosadores que eram considerados ofensivos à ditadura de Getúlio Vargas. Eu sei que tem gente que ama o Getúlio, e eu respeito esse amor. Mas eu tinha horror a ele. Os estudantes também, incluindo o que morreu do meu lado, vomitando sangue. Eu fui para o hospital e quando cheguei em casa minha mãe estava tendo um ataque, porque não tinha televisão nessa época, só o rádio, e ela escutou pelo rádio que os estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco tinham sido alvejados pela PM e que um dos estudantes ou uma estudante, estava morrendo no hospital. A minha mãe pensou: é a minha filha!
Agora, depois… Durante a ditadura militar eu estava escrevendo o romance “As meninas”. E nesse romance há uma jovem que é justamente a subversiva. Tem a mocinha, que é a Lorena, bonitinha e tal, família rica, tudo em ordem. Tem a outra que é a Ana Clara, que chamam de Ana Turva, a drogada. E tem a terceira que é justamente a subversiva, a Lia. Eu penso sempre que o escritor tem que ser testemunha do seu tempo e da sua sociedade. Nesse romance eu quis testemunhar aquele tempo e aquela sociedade através de três jovens, a burguesa, a subversiva e a drogada.

PLE quanto ao panfleto que incluiu nesse livro?
Lygia: Eu estava com Paulo Emilio Salles Gomes, meu segundo marido, na minha casa, na Rua Sabará quando recebemos um panfleto extraordinário de um homem torturado pelo DOI-CODI, pela Polícia Militar. Recebi esse panfleto e disse: “Paulo, que panfleto terrível, está dizendo coisas horrendas, ele está contando coisas horrendas que ele viveu”. E então perguntei: “O que eu faço com isso?”. Ele respondeu: “Coloca no seu livro”. E eu coloquei, está lá em “As Meninas” a tortura que esse homem sofreu no DOI-CODI, o sapato enfiado na boca, ele dependurado no pau de arara, os choques elétricos nas partes… Ditadura Militar… Por isso que a Comissão da Verdade é da maior importância, porque é a nossa história, não pode ser omitida, tem que ser trazida ao público para todos saberem o que aconteceu.

PL: A senhora costuma ter algum ritual para escrever?
Lygia: Ausência, silêncio… Eu, de um certo modo, me fecho com meus personagens e fico com eles ao meu redor. Eu levo uma vida muito fechada comigo mesma, gosto muito de música, ouvir Wagner, Beethoven, Chopin, ouço muito concertos, gosto muita da TV Cultura, eles têm programas excelentes… Fico fechada comigo mesma porque, embora eu não seja uma companhia maravilhosa para mim mesma, acabo me divertindo comigo. Então fecho a porta.

PL: E quando um livro chega ao fim?
Lygia: Quando eu estava terminando “As meninas”, eu estava em Barra de São João, província do Rio de Janeiro, numa chácara onde eu ouvia o mar. Era madrugada quando terminei. E de repente comecei a chorar porque eu estava me despedindo das minhas personagens, não ia tê-las mais comigo, era o adeus. Aí  uma personagem veio, sentou no meu colo e disse: “Eu sou tão interessante, você não vai me aproveitar outras vezes?”. Eu disse: “Vamos ver…”. Ela disse: “Eu voltarei com máscara”. As personagens são como nós mesmos, elas querem viver mais tempo, elas não querem ser encerradas no livro.  Elas criam digamos que vida própria e exigem um tempo. Oswald de Andrade escreveu uma coisa engraçada. Ele disse que um personagem já atormentou tanto ele, toda hora vinha, “Olha eu aqui!”, então ele pegou e jogou a personagem no mar, afundou e nunca mais. Mas eu queria dizer o seguinte, as personagens ficam em torno do escritor, conversam com o escritor, exigem vida própria. São como nós mesmos, não querem morrer. Querem continuar, então, nessa vontade de continuação eles voltam mascarados. Você tira aquela máscara e vê: “Ah, mas você é aquele lá!”.

PL: A senhora e Clarice Lispector foram amigas. Como começou essa amizade? E por que ela lhe mandou não sorrir nas fotografias?
Lygia: A Clarice gostava muito dos meus livros, eu estava no Rio de Janeiro, passando lá  uma temporada. Ela me procurou e disse: “Lygia, precisamos nos impor porque na literatura do Brasil não levam a sério as mulheres. Fica séria não ria, você ri demais, não pode, tem que manter a cara fechada.” Ficamos amigas. Depois fomos juntas pra Colômbia, para um congresso de escritores.

PL: E a senhora também era uma leitora da Clarice?
Lygia: Eu tinha grande admiração pela Clarice. Já tinha lido os primeiros livros, os contos, “O Lustre”, os primeiros livros dela, e nós tínhamos muitos amigos em comum. A Clarice era muito amiga do Erico Verissimo, que gostava muito dela. Eu era muito amiga dele também, então falávamos sobre o Erico e os nossos amigos comuns, sobre a vida, sobre a morte, sobre o amor, as nossas conversas eram muito longas e ela repetia [imitando Clarice]: “Eu creio, Lygia, que nós mulheres estamos muito pouco consideradas no Brasil, mulher não é ouvida nem lida no Brasil, vamos nós duas nos impor! Não ria, fica como eu, brava mesmo!”.

PL: Certa vez um jornalista perguntou para Clarice por que ela escrevia, e ela respondeu com outra pergunta: “Por que você bebe água?”. Você mesma já se fez essa pergunta? E se há uma resposta, é uma resposta que tem se mantido com o passar do tempo?
Lygia: A vida inteira, desde menina, eu contava historias. Quando não sabia escrever, inventava histórias de lobisomem, de alma penada, histórias horríveis. Um dia comecei a escrever nos meus cadernos de escola as histórias que eu contava. Foi assim, o começo foi esse. Uma professora viu no meu caderno, nas paginas no final do caderno, uma história minha e disse: “Menina, vem cá”. Era uma professora de História. “Por que você está escrevendo essas bobagens aí?”.  E eu, pela primeira vez assumi a minha vocação: “Não é bobagem, é uma história que eu inventei”. Vocatio, vocação; vocare, chamado.
Desde sempre eu contei histórias. Não me vejo em outra situação a não ser contando histórias quando criança. Não considero meus primeiros livros, apaguei da minha história, da minha vida, os primeiros contos, que considero “juvenilidades”. Começo, isto sim, a considerar meu trabalho a partir do livro “Ciranda de Pedra”, o resto, como diria Shakespeare, o resto é silêncio.

PL: Fale-nos de sua amizade com Caio Fernando Abreu e Carlos Drummond de Andrade.
Lygia: Caio era meu querido amigo, conversávamos muito sobre a nossa profissão, de mãos dadas, conversávamos muito sobre essa paixão comum que nos levava a escrever, e que nos fazia feliz escrevendo. O Carlos Drummond de Andrade foi um amigo que me ajudou muito… Ele disse: “Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra”. Um dia eu vi escrito num mural, na rua: “Tinha um caminho meio da pedra”.  Que bonito isso! Se o Carlos Drummond fosse vivo eu mandaria pra ele essa mensagem: No meio na pedra tinha um caminho: a esperança.
É engraçada uma coisa… Na realidade os meus maiores amigos sempre foram homens. Desde a faculdade de direito, homens. Boas amigas e tal, mas os homens eram meus amigos maiores, não só na juventude como depois. Até um padre! Tenho um amigo padre. De vez em quando eu olho pra ele e digo: eu preciso me confessar! E ele diz, “Você não precisa”. É engraçado isso, a minha proximidade com o sexo masculino foi muito profunda sempre. Mas claro que também tive boas amigas. Mulheres fortíssimas, boas escritoras, sem a menor… sem aquele sentimento de inveja, rivalidade.

PL: A morte é um tema, uma questão recorrente em sua escrita. Como a senhora se relaciona com essa questão?
Lygia: É um tema difícil… Você teria que acreditar na imortalidade da alma, que você vai continuar…  Às vezes eu acredito muito na imortalidade da alma nesse sentido. Tem um filósofo, cujo nome eu agora esqueci, que dizia: “Já fui um mancebo, já fui uma donzela, já fui um pássaro azul nas florestas e já fui um peixe mudo do mar”. Eu acredito na reencarnação, acredito… Se você for decente, honesto consigo mesmo e com os outros nesta encarnação, você vai ser uma coisa boa na próxima. Ser bom agora, porque você vai ser recompensado pela sua vida reta e justa atual.

PL: Como a senhora vê a situação do escritor atualmente, no Brasil?
Lygia: Principalmente no Brasil, os nossos livros não são lidos. Nós estamos num país onde seus os maiores e melhores escritores, um Manuel Bandeira, um Carlos Drummond de Andrade,  ou mais lá atrás, um Machado de Assis, não são lidos. Se alguém aqui for amigo da nossa presidente, da qual  eu gosto muito, mandaria um recado pra ela, um recado com o coração na mão: O dia em que o Brasil tiver mais creches e mais escolas, terá menos hospitais e menos cadeias. Outro recado que eu trago pra Dona Dilma, é um recado que vem lá da China, das antigas dinastias chinesas: Antes de sair para melhorar e consertar o mundo, dê três voltas dentro da sua casa. Ela tem muita coisa pra fazer aqui, a Dona Dilma pode ficar mais aqui conosco, ela vai encontrar muita coisa pra fazer e vai fazer muito bem porque ela é muito boa.

PL: A Clarice costumava perguntar aos seus entrevistados: “O que é o mais importante na vida?” Gostaríamos de repetir a pergunta dela para a senhora.
Lygia: Há varias coisas muito importantes, eu creio que seria injustiça da minha parte fazer uma classificação. A vida é dificílima, eu acho a vida muito difícil, então o melhor é você se aproximar de quem você ama, se puder, ficar com esse amor, amar a sua profissão, que é a sua vocação. Em latim, vocatioVocare, chamado. Você precisa obedecer ao seu chamado. Se você ama escrever, você tem que escrever, se você ama dançar, vai dançar. É tocar piano? Vai, pega o seu piano, se não tem piano, venda sua roupa, o seu sapato, venda o que tem, compra um piano e toca piano. Você tem que se aproximar, tem que se entregar à sua vocação, como o coração na mão, aí você fica feliz, aí você faz feliz a sua mulher, o seu homem, seja quem for, mas você precisa se entregar, obedecer a vocação. A vocação é um chamado que diz: “faz isso, não aquilo!”. Eu sempre obedeci a minha vocação, então,  cheguei a essa idade avançada, como dizia mamãe, já dobrei o cabo da boa esperança [risos], mas obedecendo a minha vocação, que é escrever. Essa é a minha felicidade. Diante de deus eu posso dizer: “Eu cumpri minha vocação, aqui estou.”
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Texto: Ramon Mello e Manoela Sawitzki