Mostrando postagens com marcador crônicas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crônicas. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O vôo de Fernando


por Walter Rodrigues 


Sentado sobre um banco de concreto, isolado e compenetrado, seus grandes olhos fitavam  o vazio. Era nosso colega de classe Fernando. A noite seguia sem estrelas e sem lua. A grama estava seca. Resultado do sol intenso daquela tarde calorenta. A parca iluminação do campus nos deixava numa mescla de perplexidade e desespero. Não haveria a primeira aula, somente a segunda. Talvez a imagem daquele rapaz sentado sozinho de olhos tão grandes e brilhantes  fixados no vazio nos inserisse esse desespero e perplexidade. Talvez a ausência das estrelas, da lua e a fraca iluminação do campus. Talvez tudo isso combinado a uma voraz insatisfação pelo curso que eu levava ali.
Enquanto isso, aguardávamos por ali. Fernando também aguardava. Sem dúvida alguma ele tinha os olhos maiores e mais estranhos que eu já tinha visto. Aqueles dilatados olhos castanhos  tinham um brilho enigmático, quase diabólico. E quando ele começou a sorrir silenciosamente durante as aulas, seu sorriso não era o dos piores: dentes líneos, claros. No entanto, seu sorriso perdia em graça ao notarmos para quem ele era direcionado. E eu hei de concordar que as paredes de nossa sala, monótonas e austeras como qualquer outra parede do mundo, não tinha nada de engraçado. As garotas e os rapazes começaram a ter receios de Fernando. Talvez por isso não se aproximassem dele e não o convidassem para seus grupos de apresentação de trabalhos em classe. Mas até aí tudo bem, pois eles também não me convidavam.
No entanto, fazia alguns dias que nosso colega estava vendo alguma coisa que nos era invisível. Por certo era algo bastante engraçado e interessante dado seu sorriso cada dia mais constante. Vendo Fernando agora sentado sobre aquele banco, com os olhos fixos no nada, o sorriso na face redonda e a conversa interminável com coisa-alguma, me era impossível não ser tocado por um sentimento de compaixão. Eu sabia muito bem como era frustrado não ser aceito.
Então avancei em sua direção e sentei ao seu lado naquele rígido banco em concreto. Fernando olhou-me por alguns segundos com seus surpreendentes olhos, balançou a cabeça, lentamente, de cima para baixo e de baixo para cima, depois deu uma tragada e seu cigarro e voltou a olhar fixamente para frente.
Tentei puxar assunto, mas suas respostas eram evasivas. Eu não era um fumante, mas pedi um cigarro para ele. Ele me passou um, me olhando como se eu fosse irreal. Eu não poderia atingi-lo. Fernando estava numa outra dimensão e observava as coisas para além do convencional. Ele estava perdido dentro de si. Os outros colegas de classe nos olhavam curiosos. Deviam estar pensando: “A dupla perfeita”. E assim como Fernando, eu também estava cagando para eles. Mas Fernando estava numa dimensão superior. Eu não podia alcançá-lo. Ele estava em vôo alto.
- O que tu achas deles? – perguntei a Fernando apontando na direção dos nossos colegas, que juntos estavam conversando junto a porta da sala.
Ele não me respondeu. Apenas continuou olhando fixamente para o nada.
- Eu os acho muito imaturos – disse eu por fim achando que ele se encorajaria.
Mas ele não se encorajou, contudo.
Seu olhar estava tão desprovido de vida, embora tão brilhantes e acessos. Ele não estava drogado, era algo além disso.
Seu olhar parecia atravessar tudo, mas se você olhasse por alguns segundos que fosse dentro daqueles olhos imensos, você encontraria uma avassaladora tristeza, no entanto, não havia pedido de socorro. Ele parecia tranquilo e distante.
- O que tu estás achando do curso? – continuei insistindo. – Por que tu escolheu Geografia?
Ele respirou fundo. Seus olhos me apanharam por alguns segundos. Eram, se dúvida, olhos muito tristes e exaustos.
Então resolvi ficar calado. Não sabia mais o que dizer e nem o que fazer. Talvez eu devesse me erguer e deixá-lo ali com seus fantasmas. Mas não o fiz. Fernando e eu permanecíamos ali sentados como dois dementes a olhar fixamente e de forma perplexa o nada em absoluto. E o nada me parecia agora tão grandioso e insignificantemente significante. Eu estava me perdendo em meus pensamentos, cada vez mais abstratos e dispersos, enquanto o meu colega ao lado já esta por completo nos seus.      
Então o professor entrou na sala. Os demais colegas entraram em seguida.
- Vamos entrar? – sugerir ao meu parceiro.
- Vá lá – responde-me ele dando mais duas tragadas no cigarro que se findava. – Eu vou depois…
Nosso colega não voltou naquela noite, nem nas noites seguintes à sala de aula. A turma sentiu sua falta. Eu também senti. Até que numa certa noite o professor de Geografia Física entrou em sala de aula com a expressão pesada, olhando fixamente para sua mesa, se acomodando por fim atrás da mesma para depois nos encarar e dizer:
-  Tenho uma notícia triste para passar. O colega de vocês, o Fernando, infelizmente, ontem à noite, cometeu suicídio.  A mãe dele informou à direção que seu filho sofria de depressão profunda. Já tinha até sido internado algumas vezes.
Silêncio geral.
As garotas e os rapazes olhavam uns aos outros, boquiabertos deixando transparecer em seus olhos um estranho espanto misturado com descrença. Enquanto eu só conseguia pensar no fato de que Fernando havia conseguido voar mais alto do que qualquer um de nós. Ele voou para além das estrelas e se perdeu no vazio.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

OS ENCANTOS DO SOBRADO SOBERANO*



por Walter Rodrigues 

O sol estampava-se sobre os antigos prédios da Rua Siqueira Mendes – Cidade Velha. O sol queimava-me a pele. O sol refletia-se nos pára-brisas dos carros estacionados. O sol incendiava-se nos azulejos de estrelas menores, azuladas estrelas de oito pontas numa fachada austera e ampla.
Portas e janelas com detalhes em arcos plenos e com chanfros, um largo balcão em grade de ferro batido, faustosamente trabalhado, apoiado por bacia frisada em massa.  Dois andares decorados em relevo e com requinte, duas águias de ferro tentando bancar as ameaçadoras, no entanto, seus olhos inspiravam tristeza e melancolia. Suas asas amplamente abertas. Seus bicos pendiam a frente de forma insolente e, neles, traziam duas luminárias antigas. Tristes seres de ferro guardiões de algo deteriorado e perdido no esplendo de um tempo passado.
No topo do prédio, acima dos telhados coloniais, centralizado entre dois grandes pináculos, um medalhão em massa a trazer em si a ilustração em relevo de uma humana e graciosa face jovem rodeada pela inscrição:

“FABRICA SOBERANA HILARIO FERREIRA & CIA., LTDA”


Então, o tempo fechou-se. Nuvens cinza sufocaram e seqüestraram o sol. O céu desabou. Corri para o outro lado da rua e entrei num bar próximo.

- Uma dose de conhaque – pedi ao senhor do balcão.
- Que chuva, não? – comentou ele.
- Pois é – respondi.

Enquanto isso, eu aguardava a chuva passar, mas ela não passava. Onde estaria Dora Ruth? Com aquele aguaceiro duvidava muito que ela apareceria ali. Ficamos de nos encontrar para juntos conhecermos a Fábrica do Guaraná Soberano internamente e recolher alguns preciosos dados que pudessem nos servi de base para elaboração deste texto. Estava anoitecendo e provavelmente a fábrica fecharia daqui a alguns minutos. Então servir-me de mais doses e resolvi não pensar mais no assunto.
E a chuva escorria sobre os azulejos decorados da fábrica e sobre as faces das águias. Tive a impressão de que uma das águias me olhava. Senti um friozinho a percorrer-me a espinha e, tomado pela curiosidade sinistra que somente o medo é capaz de inspirar, resolvi corresponder aquele suposto olhar. Aquele olhar desequilibrou-me; lágrimas escorriam daqueles tristonhos olhos de ferro e desciam pelo seu bico espalhando-se sobre a luminária antiga.
Então, aquele sombrio início de noite fora clareado, instantaneamente, por um extenso e luminoso relâmpago e, quando os meus olhos novamente puderam definir contornos e profundidades, me deparei diante de uma “nova” e retrograda realidade.

… O rio Guamá aos fundos a exalar lembranças de antepassados aventureiros enquanto um crepuscular, resignado vento lasso lambia o calçamento em calcário de lioz da estreita e aportuguesada Rua Norte à Freguesia da Sé. As luminárias aguardavam mais uma arejada noite a fim de exercerem suas funções. E, de repente, a imagem daquele soberano sobrado datado do final do século XVIII. Suas medidas: 2.200m², fixado em um lote regular de aproximadamente 14 m de largura e imensa profundidade a fazer limite com o rio Guamá, uma imponente construção que se aproveita de cada milímetro do terreno, alinhando-se, impecavelmente, à via pública.
Propriedade primária de Engenheiro Olympio Leite Chermont, filho de Antônio Lacerda, o Barão e Visconde de Arary, o prédio é composto de três etapas distintas: a parte frontal, com fachada à Siqueira Mendes; a parte posterior, com fachada ao rio Guamá e a ala central, responsável pela união das duas citadas partes. A fachada principal desfila pomposa em um neoclassicismo que, apesar de tardio em Belém, fora bastante expressivo devido aos exorbitantes lucros obtidos pela borracha no mercado internacional. Inúmeros retoques foram feitos nessa fachada sem que esta perdesse sua configuração original, embora em maior escala tenhamos hoje o ecletismo. Já a fachada posterior, nos inspira sonhos de mil e uma noites com suas linhas rígidas e portas e janelas com vãos em arcos abatidos lanceolados. Observável influência mouristica.
E então, uma rica e ornamentada escada confeccionada em madeira de lei. Resolvi subi-la após alguma hesitação. Um estreito tapete velho deitava-se com luxo sobre os degraus. Já no segundo andar, no salão principal e no hall da escada, o assoalho trabalhado em madeira de acapú e pau-amerelo, dispostos de tal modo a formar figuras geométricas assim como estrelas de várias pontas. O forro, igualmente ornamentado com tais imagens, embora menores, entretanto, com maior variedade de cores: branco, amarelo, cinza.

Entre conversas animadas, lavavam-se e rotulavam-se garrafas. Um amplo e iluminado salão, divido em várias secções, exibiam, em fileira, o mais moderno maquinário de então. A presteza e a eficiência do trabalho e, a luz natural que emanava das imensas janelas de duas folhas, derramava-se sobre os semblantes de funcionários satisfeitos. E, presidindo tudo isso, lá estava ele, bem ao centro da fábrica, com suas mãos firmes a apoiar-se no gradil ornamentado e, daquela retangular abertura no segundo andar comunicava-se com o coração da fábrica, no primeiro andar. Era o Sr. Hilário Augusto Ferreira, pioneiro na exploração industrial do guaraná no Pará e fundador da Fábrica Soberano. Nascido em Melgaço do Minho, Portugal em 1898, Hilário mudou-se para o Pará quando contava com seus 14 anos. De garrafeiro a industrial de sucesso, a vida desse industrial fora dedicada a sua fábrica.
E o sucesso do Guaraná Soberano da Fábrica Soberana fora tão estrondoso que a mesma passou a ser chamada de a Fábrica do Guaraná Soberano. Embora ainda viesse contar com as marcas: Kola, Laranjada, Genebra Soberano, Vermouth, Água Soda, Água Tônica, Ginger-Ale e ainda: Cachaça, Vinagre e Álcool Soberano.

A voz que fala e canta para planície.
(…)
A sorte encontrou seu endereço.

Pude apanhar no ar estas frases numa esquina estreita. Era noite, entretanto, a rua estava movimentada. Moradores atentos diante dos rádios.

E a casa premiada é… 150!

Gritos histéricos vindo de uma casa próxima. Alguém havia faturado algo. Antônio Rocha a apresentar nas noites de Domingo o programa “A sorte encontrou seu endereço”. Um caminhão cedido pelo patrocinador a servir como palco, onde artistas da terra e até de outros estados apresentam seus shows. A Rádio Clube cuida da organização estrutural como a montagem da iluminação e aparelhagem.   
E lá estava a sorteada desse Domingo recebendo sua caixa de Guaraná Soberano e outros prêmios, agradecendo a PRC-5 e ao patrocinador do evento, o Guaraná Soberano.
 Era o guaraná na boca do povo. Os jornais paraenses e periódicos de outros estados a comentar a qualidade da bebida: sim! O único guaraná genuinamente “fabricado com o puro guaraná de Maués”, a tribo indígena do Alto Amazonas. Refrigerante saudável capaz de solucionar problemas cardíacos, digestivos além de funcionar como um excelente estimulante e afrodisíaco. Era o que ressaltava os versos de poetas como Bruno de Menezes e Jacques Flores.
De repente, década 70. As fábricas de refrigerantes paraenses tentam permanecer de pé frente à desigual força das transnacionais. Dificuldades financeiras, a morte de Hilário Ferreira em 1982, os grupos estrangeiros como a Coca-cola e a Pepsi a devorar com gula todo o mercado local, a inexperiência dos novos administradores, Hilário Filho e Jaime Ferreira, resultado, fecham-se as portas em 1986, da Fábrica Guaraná Soberano.

… 1996. Produção incipiente embora constante. 400 caixas da Kola Soberano por dia enquanto a concorrência produz 1000 por hora. As portas se abrem após 14 anos. A distribuição conta apenas com um caminhão e é feita pelos proprietários da fábrica que, com recursos próprios vão tocando a indústria de seu avô.

“A fábrica experimentou seus melhores momentos nos anos quarenta e cinqüenta, mas não resistiu à concorrência das multinacionais que se assenhorearam do mercado de refrigerantes. Agora, vai reagir.”
   
-… Rapaz, rapaz – uma voz distante me chamava – tu adormeceste aí?!
- O quê…? – levantei minha cabeça de cima do balcão.
- A bela adormecida acordou? – comentou jocoso um velho de aspecto zombeteiro que bebia ao meu lado.
- Por sorte tu não és meu príncipe encantado – disse eu em tom amistoso.
- O diabo que te carregue! Querer eu acordar macho com um beijinho?
Eu sorri sonolento. O cara do balcão também, enquanto o velho esvaziava sua dose de cachaça pura.

A instalação industrial da Empresa Soberano surpreende à primeira vista com seu maquinário moderno e importado. Entretanto, o sabor e a popularidade dos atuais refrigerantes e, principalmente do guaraná ainda deixam muito a desejar. No entanto, a importância dessa indústria para o Estado, tanto no aspecto social, econômico, cultural é inquestionável. No ano de 2007, Hilário Ferreira fora homenageado pela Assembléia Legislativa do Estado com o título “Cidadão do Pará Pós-mortem” em reconhecimento ao importante papel que exerceu a indústria local.


________________

* O texto foi inicialmente publicado no livro CIDADE VELHA - CIDADE VIVA, Belém-PA 2008. O livro foi editado pelo jornalista e professor Oswaldo Coimbra, responsável pelo Grupo de Memória da Universidade Federal do Pará – UFPA, ministrante da oficina e condutor dos trabalhos de preparação dos textos e das ilustrações.
 


OUTRAS INFORMAÇÕES A RESPEITO



  • SOBRE O LIVRO "CIDADE VELHA - CIDADE VIVA" leia o artigo  do Jornal Beira do Rio no link abaixo:    





  • SAIBA MAIS SOBRE A FÁBRICA NO SITE DA FUNDAÇÃO HILÁRIO FERREIRA

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Pitiú também é ser humano!


Entre boas acusações de não entender as imperfeições dos outros e de querer sempre enfeitar o boato do dia. Fui perseguida! É nessas horas que se diz com orgulho “O inferno São os outros” (Sartre)… Desconfio que pago por meus olhos que vivem uma patifaria literária.

Como é que pode perder de vista, um parágrafo bem pontuado e não se esquecer de ficar atento no universo do Ônibus?!

Para vencer o foco do pitiú, durante minhas coleções de caminhadas recomendo-me: eles procuram algo que não perderam.

O pit (mais intimamente) já se tornou uma atividade garantida, prazerosa e sem cerimônia. Obviamente que para obter uma boa cena, como a princesinha da América quebrando carros de paparazzo. É preciso perder a noção de eternidade e nunca hesitar, na hora de “roubar” um depoimento.

Simplificar a minha região conhecida por sua cultura e tradição de cheiro forte, seria conflitar com o meu bom mercado. Aí procuro negociar com o meu próprio espaço.

Giro a chave, ainda que signifique correr mais riscos, já existe que crie a minha história vigorosa e ate moderna. Passando por dez em dez gargalhadas, vejo o retrato de seus entes, que acusa uma saída para essa solidão absurda do Pitiú humano e logo condiciono que só os mortos fiquem de plantão nas ruas.

Caroline Chaves sobre o “EU”

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Conhecendo-nos a partir do outro



O presente texto foi retirado dos rascunhos de minhas considerações finais do artigo “Conhecendo-me a partir do outro”, referente à avaliação final da disciplina Antropologia cultural do curso de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará, baseado nas bibliografias propostas pela professora e a partir do documentário “Diário de bordo” do DVD “Leoni &Ashaninkas – Outro Futuro Ao Vivo em Paris”.

Pareceu-me interessante narrar nestas considerações finais um episódio ocorrido há alguns dias atrás em que em companhia de minha mãe, irmã e meu sobrinho de um pouco mais de um ano fomos a um shopping da cidade. Muitas crianças na faixa etária de meu sobrinho e outras um pouco mais velhas aguardavam numa fila para sentar-se junto a um homem vestido de papai-noel para tirar uma simples foto que após vinte segundos estaria pronta e entregue no valor de dez reais para o interessado.
O movimento no ambiente era intenso, muito embora estivéssemos a três semanas do Natal.  Uma “árvore” imensa estava posta no meio do hall de entrada e ao redor da mesma fora montada um cenário com duendes, outras “árvores” menores, um trenzinho em verde e vermelho, com algumas crianças dentro, movimentando-se circularmente ao redor da dita “árvore” agigantada. Enquanto isso, muitos tiravam fotos de suas câmeras digitais e celulares, encantados tais como às crianças, com as pequenas lâmpadas coloridas, que piscavam em um jogo de luz programado e ritmado.
O papai-noel estava dentro de um cercado branco, sentado em uma imensa poltrona vermelha, auxiliado por belas assistentes, enquanto pais e filhos se acotovelando numa fila por uma foto de sua criança junto a um símbolo. O fotografo se posicionava da melhor forma possível para enquadrar a criança, que geralmente estava aos berros ou muito assustadas com tudo aquilo, numa fotografia que valesse os dez reais pagos e que de alguma forma perpetuasse aquela determinada cultura.
Aquilo tudo não era natural como as pessoas supunham. Não mesmo! Éramos de fato um amontoado de conceitos de culturas absorvidas no decorrer de nossa existência em determinada sociedade. Ah, como Laplantine estava correto!
Ninguém nasce consciente do significado do Natal, compras nas lojas enfeitadas de coisas aparentemente ilógicas, mas que só adquire lógica a partir do momento em que damos significados as mesmas. Esses significados são resultados de uma bagagem cultural que reproduzimos sem sequer nos questionarmos o porquê da coisa em si, incondicionalmente. As crianças pareciam saber disso, mas os pais não. Na essência não existe diferença entre os homens. O que existe são diferentes formas de cultura. 


“Ou seja, aquilo que os seres humanos têm em comum é sua capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos profundamente diversos; pois se há algo natural nessa espécie particular que é a espécie humana, é sua aptidão à variação cultural”. (LAPLANTINE, 2003, p.13).

Leoni demonstra ter entendido a si mesmo a partir do momento em que começa a entender a cultura, as diferentes concepções de mundo dos índios Ashaninkas em relação às suas. “De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas míopes quando se trata da nossa”. (LAPLANTINE, 2003).
O documentário nos leva a um questionamento quanto à maneira de como nossa sociedade (dita civilizada) estar tratando o homem relacionado à natureza. Dentre os pontos de vistas distintos das duas culturas apresentadas no documentário, qual melhor conseguiu estabelecer uma humana relação entre o homem X homem e o homem X natureza?

Ora, Lévi-Strauss considera que o estágio da partida jogada pelas sociedades ocidentais é hoje desastroso, enquanto que as que foram jogadas pelas sociedades que se insiste em qualificai de "primitivas" são infinitamente mais humanas (LAPLANTINE, 2003, p. 111-112).

Diante do catastrófico quadro atual do planeta decorrente dessas relações entre o homem-civilizado e a natureza, somos levados a nos perguntar: quem de fato era o “bárbaro”, “primitivo”, “atrasado”? Mais do que nunca, precisamos corrigir a cegueira de nossa “sociedade-civilizada” ocidental para enxergar e tentar reverter o esse quadro.


Referência

LAPLANTINE, François. “Aprender antropologia”. São Paulo: Brasiliense, 2003.
DVD “Leoni&Ashaninkas – Outro Futuro Ao Vivo em Paris”. Warner Music, 2006.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Os índios Tembé e eu na tradicional Festa do Mingau da Moça


Nos dias 27 e 28 de novembro de 2010 à convite de um amigo indígena desembarcamos mais outros amigos à aldeia Frasqueira e de lá caminhamos por cerca de 1 Km até à aldeia Itaputyr, dos índios Tembé, localizada no município de Santa Luzia do Pará.
"A festa, que dura uma semana, é um ritual de passagem que comemora a entrada das índias na adolescência. Um barracão construído num canto da aldeia era o local onde cantavam e dançavam o Caê Caê - dança tradicional daquele povo. As músicas falam dos animais da floresta, e apenas maracas são usadas para acompanhar as vozes. A dança é uma roda, que se faz aos pares em volta do centro do barracão. Algumas vezes se dançava do lado de fora, avançando de mãos dadas, formando uma longa barreira".

Uma das experiências mais marcantes da minha vida, sem dúvida. Disponibilizei dois vídeos feitos de uma câmera de celular, perdoe-me pela baixa qualidade de imagem e enquadramento. Um dia eu compro uma câmera digital.
Abraços...

Walter Rodrigues.




VÍDEOS DA FESTA DO MINGAU DA MOÇA, ALDEIA ITA PUTIR, TRIBO TEMBÉ, RESERVA INDÍGENA DO ALTO RIO GUAMÁ, SANTA LUZIA DO PARÁ







quinta-feira, 18 de novembro de 2010

OS VADIOS DO VADIÃO


 Este texto faz parte das Notas de um calouro – parte 9, postadas na comunidade do Orkut Geografia-ufpa e CAGE-UFPA.



O texto de Quaini não era para brincadeira. Impossibilidade de entendimento numa única leitura. Aquele monstro de conceitos ainda ia desgastar muito a minha já fodida visão (miopia).
Por sorte tínhamos o vadião* todas às quintas e sextas. Podíamos até não ter aula, mas o forró era garantido. Coisas de UFPA. E assim como no 1º semestre, o 2° semestre tornou-se repletos de forrós, que a bem da verdade forró é o que pouco se ouve ali. Mandamo-nos pra lá, meu “amigo” indígena e eu. Aniversário de não sei quem, amigo do meu “amigo”. Bebida farta. Som alto, melody escroto, um monte de gente se remexendo feitas cobra na areia quente e cachaça misturada com o sangue de satanás. Era preciso beber bastante para aguentar aquela farsa toda. Eu não gostava daquele amontoado de gente, no entanto, gostava das biritas, gostava do rio vizinho e do vento que vinha dele. Era bom para clarear as ideias, e de alguma forma se sentir parte de um todo que não fosse aquele todo de gente insuportavelmente pseudo-felizes, pseudo-intelectuais, mas de um todo que de alguma forma nos afastamos para torná-lo recursos naturais às necessidades do capital. Meia hora depois eu estava mais bêbedo do que todos os vadios do vadião, juntos. É claro que minha noite só poderia acabar em merda, ou melhor, eu na merda.
Resultado: meu “amigo” indígena, que só bebe cerveja, se mandou para uma festinha particular na casa do aniversariante. Enquanto a este calouro? Bom, ficou completamente doido, sem noção de espaço e tempo. Vagando pela UFPA sem saber quem era, enquanto os guardas davam um jeito de não deixá-lo se jogar dentro do rio. Eu havia bebido alguma coisa a mais que batida: eu havia bebido o meu juízo. Moral da história? Sugiro uma: nunca beba da batida de estranhos, você nunca sabe a mistura que pode haver ali. Mas você pode sugerir outras.

________________________________

* O Complexo do Vadião é o ambiente dentro da UFPA (Universidade Federal do Pará) destinado a realizações culturais e de recreação. Trata-se de um local aberto, onde os centros acadêmicos e/ou as comissões de formatura promovem os "forrós" visando angariar fundos. (Fonte: Universitários em Apuros!)


ENQUANTO ISSO EM OUTROS BLOGS...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

XXV FESTIVAL DO AÇAI. Eu estive lá.


Anualmente nos dias 10 a 12 do mês de setembro em São Sebastião da Boa Vista – Ilha do Marajó/PA, acontece o Festival do Açaí. Evento que reúne diversos artistas da região. Para quem gosta de ritmos como Fórro e Tecno-Melody executados em volume ensurdecedor, o evento é uma boa pedida. Cerveja gelada, gente bonita e amontoada em um pequeno espaço público: a praça. Um grande palco montado no meio de uma rua à beira-rio com gigantescas caixas de som de madeira em ambos os lados. E como que já não fosse suficiente tão parafernália sonora, soma-se mais uma daquelas aparelhagens de festas de Tecno-Brega, Tecno-Melody e todos os tecnos que por acaso ainda possa existir. Resultado: barulheira doida avançando pela bela madrugada marajoara somando-se a confusão, quebra-pau, que frequentemente ocorrem em ambientes dessa magnitude intelectual.
Tive a oportunidade de estar em São Sebastião da Boa Vista duas vezes neste ano de 2010. Primeiro em fevereiro pelo carnaval, que achei muito divertido e criativo, inclusive escrevi a respeito no link Carnaval em São Sebastião da Boa Vista – Marajó-PA. Já na segunda foi agora pelo Festival do Açaí.
Eu nunca tinha ido ao citado festival por justamente a data ser um pouco ingrata para nos deslocarmos de Belém. Cresci viajando no mês janeiro com meu pai, que é boavistense, para as Festividades de São Sebastião, que durante muito tempo foi referência de festividade de bom gosto e diversão na Ilha do Marajó. Eu sabia o que tinha sido e o que hoje era o Festival de São Sebastião, mas era-me desconhecido o tão falado Festival do Açaí. Por isso, resolvi mudar a rotina: faltei um dia de aula na universidade e embarquei para minha amada Veneza do Marajó. E o que presenciei não foi muito diferente do que observamos aqui em Belém nas abarrotadas casas de shows que organizam as famosas festas de aparelhagem, ou seja, barulheira infernal com ritmo e letra de mal-gosto, pessoas altamente embriagadas a fim de confusão e, claro, a porrada comendo solta aqui e ali.
A respeito do açaí, suposto grande homenageado da festa, eu só pude perceber no nome pintado no painel-frontal do palco e no cartaz a cima.
O Festival do Açaí não me passou a melhor das imagens. Pouco criativo, desorganizado e perigoso. Lembro-me de um antigo poema que escrevi sob o pseudônimo de Nautilus Karavelas para homenagear esse belo e município marajoara intitulado:

BRINCO DO MARAJÓ
Para São Sebastião da Boa Vista – Marajó-PA

Janeiro entrou rasgante, de súbito.
E no tricotar dos dias vagabundos
surges forte e entorpecente.
Exalando em cada sol poente
teu aroma vivo e quente.

O plangente crepúsculo arrebata-nos
ais no trapiche da praça.
Logo mais sobre o luar bisbilhoteiro
nos envolveremos por inteiro
ao som do rio-mar seresteiro.

De crista tu és o brinco do Marajó.
Festival do açaí e do Santo Padroeiro.
Tu és amor à primeira vista!
Paixão desmedida.
Presa a nós por um laço de fita.

Cidade de efêmeros amores fatais,
onde o sagrado é profano
e nossos gestos mais que insanos.
Lá somos mais que humanos.
Somos tudo e nada no iniciar do ano.

No vento o odor aliciador das matas
labirínticas excita a imaginação.
Desembarquem, meus amigos!
Pois chegastes a São Sebastião!

abraços , walter rodrigues!

====================================================================
Mais sobre São Sebastião da Boa Vista - Marajó - PA em Versos Rascunhos clicando aqui:

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Batidas na porta


by Walter

Mais
uma noite vencida. Sonhos vários, embora nenhum me viesse fazer sentido. Coisas de sonhos. Debatia-me de um lado para o outro da cama. O ventilador a berrar, o sol a aquecer minhas malditas telhas de amianto, ainda não era nem dez horas da manhã, e me era difícil continuar dormindo e sonhando. Então algumas batidas contínuas em minha porta de madeira.
Abro a janela, sonolento. Por certo só poderia ser meu amigo Daniel, em plena nove horas da manhã. Esfrego os olhos e o que vejo me enche de boas sensações. Sim, era Rebeca. E como ela estava maravilhosa com aquele jeans colado em sua esplendorosa bunda. Vôo imediatamente até a porta.
- Nossa! Quanto tempo... Que bom te ver novamente, Rebeca.
- Não vai me convidar pra entrar, pequeno?
- Sim! Entre!
E assim ela entrou. Depois nos abraçamos. Senti uma ereção imediata. Rebeca também sentiu algo crescendo rigidamente contra sua cintura estreita. Eu estava tomado de tesão e não queria me desgrudar daquele rabo abençoado. Então agarrei os cabelos longos e ondulados de Rebeca, avancei com determinação meus lábios aos fartos e rígidos seios dela. Eu era um bebê a mamar a sua própria subsistência. No entanto, eu queria mais.
E assim avançamos para minha cama e nos envolvemos inteiramente. Rebeca era incrível. Não havia camisinhas que agüentassem intactas dentro dela. Sua boceta dissolvia e misturava tudo e a todos, dentro dela, éramos e não éramos simultaneamente. Seu cheiro, o calor de seu corpo, seus beijos famintos, seus olhos escuros que nos levavam aos mais claros e límpidos cenários e aquela sua maneira de morder sutilmente o lábio inferior...
Rebeca...
E ela vai por baixo e por cima, de lado e de quatro. Rebeca conhecia todos os caminhos pelo simples fato de que todos os caminhos pertenciam a ela.
E ela se vai porta a fora. Não me permite que a acompanhe até o ponto de ônibus. Eu só queria que ela me quisesse em tempo integral. Mas Rebeca conhece-me o suficiente para não cometer tal equivoco.
E assim ela vai e eu fico.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Depois do feriadão, todo mundo peladão


A vizinhança estava enfiada dentro de suas casas. Vestindo suas roupas novas, certamente. O beco enlameado só não estava deserto por causa dos moleques endiabrados, que estouravam bombinhas potentes em frente de casa. Malditos fedelhos! Eles deviriam ser alistar como moleques-bombas em alguma rede terrorista. Paciência. Na minha infância eu conseguia ser pior. As minhas bombinhas tinham a mania de repousarem nas salas dos meus vizinhos mais hostis. Eu definitivamente não havia sido uma criança normal, e não apanhei o suficiente.
Uma gigantesca caixa de som trabalhava os ritmos do povão: Melody, Tecno-Melody... Dentre em pouco teríamos reunidos ali todos os bandidos do bairro mais os vizinhos viciados e não viciados como era tradição todos os Dia do Trabalhador. A porrada com o passar das horas comeria soltar até o raiar do dia. Embora naquele feriadão não tivéssemos pessoas esfaqueadas e ou baleadas, as brigas de socos, pontapés, cadeiradas e até pauladas se faria presente ali. Isso era sinal que as coisas estavam ficando menos agressivas, melhorando.
A bebedeira continuava na média. Os traficantes de drogas e os assaltantes da área se exibiam com suas muitas caixas de cervejas. Uma jovem gorda dançava alegremente com os pés descalços sobre o chão de terra molhada. Os Melody continuavam, se repetiam e voltavam a tocar ciclicamente. Como eles não se enjoavam daquelas batidas iguais e letras idiotizantes?
Pedrão quase despacha aos cuidados de Lúcifer um jovem arruaceiro que anualmente acabava com a festa. Pedrão era metido a valente, ainda mais quando embriagado.
O dia vinha raiando. O sol revelava a decadência de pessoas e ambiente.
Um rapaz pálido vomitava apoiando-se num muro, uma jovem seguia costurando enquanto se namorado seguia um pouco atrás, pois havia parado para mijar na frente de uma casa. O esgoto a céu aberto e seu fedor acre e seus malditos ratos gigantes. O beco mais enlameado do que nunca.
- Álvares – falou-me Elizabeth, ex-prostituta e agora empregada doméstica. – Tu estás parecendo um zumbi com estes teus olho perdidos. E eu nem te vi puxando um fumo nem nada.
Fiquei calado. Depois segui para o meu quarto de aluguel, abri a porta e fui até a geladeira. Destampei uma garrafa de vinho barato, coloquei algumas músicas em espanhol para tocar em meu aparelho DVD ligado à televisão, que só me tinha esta finalidade: ouvir músicas. E sentei-me a ouvir e a beber. Passou-se, eu creio, uns quinze minutos até aqueles baques macios à minha porta.
- Quem é? – perguntei.
- É o Daniel.
Abri a porta e lá estava o meu único amigo de uma vida toda. A única pessoa sem ser minha família que eu poderia contar. Ele também gostava de músicas em espanhol e de beber aquelas porcarias que chamávamos de vinho. Logo-logo a garrafa de um litro e meio estava vazia. Sair para comprar mais.
No bar eu encontrei algumas pessoas bebendo e jogando bilhar. Elizabeth ainda estava por ali na companhia de algumas amigas. Bêbada, ela narrava para as citadas amigas os casos mais hilários de trepadas quando em seu tempo de prostituta nos puteiros do Ver-o-Peso. Contava também das investidas de seu novo patrão.
- Por que tu não trepas logo com ele? – perguntou uma das amigas.
- Por que se fosse pra eu continuar vendendo minha boceta eu continuava lá no Ver-o-Peso – respondeu Elizabeth muito ofendida se levantando para sair.
- Foi só uma brincadeira – tentou apaziguar a outra garota que bebia com elas.
- Vão tomar no cu!
Elizabeth era uma jovem na casa dos 25 anos. Entrara na vida da prostituição aos 19 por motivos dos mais variados possíveis: falta de trabalho, rebeldia, busca de novas sensações, a bebida farta, a liberdade do julgo da mulher casada... enfim. Ela tinha seus motivos. No entanto, ainda havia dignidade nela. Seus pequeninos olhos negros, quando irritada do jeito que estava, ficavam praticamente fechados, sua baixa estatura, sua boca de lábios grossos numa face comprida e estreita se tornava mais atraente quando o batom vermelho lhe emprestava aquele ar de sexualidade. Seu corpo era exato, exceto pela sua bunda que era um tanto arrebitada demais. Mais isso não era um defeito para a mulher brasileira. Era uma bunda de respeito e não havia macho que não olhasse para ela quando Elizabeth passava se requebrando toda rumo a parada de ônibus.
- Elizabeth – a chamei antes dela sair.
- Oi, Álvares – respondeu ela levemente surpresa. – Eu nem tinha te visto aí.
- É que eu só vim comprar este vinho.
- Hum... Posso beber ele contigo?
- Claro.
E assim seguimos para o meu quarto de aluguel.
Chegando lá, Daniel e Elizabeth foram uma eternidade de apertos de mãos e beijinhos no rosto. Elizabeth queria ouvir Melody. Eu não tinha nem um CD desse ritmo em casa. Então ela foi buscar um em sua casa. Daniel havia ficado muito impressionado com Elizabeth e sua bela bunda.
- Será que ela volta, Álvares?
- Volta sim.
E ela voltou acompanhada de uma outra garota e mais uma garrafa de vinho. Ela estava a fim de curtição.
A outra garota não tinha a bunda como a de Elizabeth, mas tinha um belo par de seios. Ela se chamava Camila e não gostava de usar saias, no entanto, vivia de saia, pois sua mãe, evangélica das fanáticas, a obrigava.
- Só a minha mãe é crente – dizia-nos ela. – Eu não.
- Mas eu te vejo indo pra igreja com ela todos os domingos, Camila – observou Elizabeth.
- É que ela me obriga. Se fosse por mim mesma, eu estaria era curtindo por aí aos domingos.
- Quantos anos tu tens? – perguntou Daniel.
- 18 eu fiz início deste ano.
- Já és de maior e vacinada. Tens é que aproveitar a vida, pois com certeza na tua idade a tua mãe não era nenhuma santa – replicou Daniel.
- Pior – assentiu Camila.
E assim seguimos bebendo. O sono não me incomodava nem um pouquinho. Eu estava legal e vertiginosamente feliz. Camila queria aprender dançar Melody. Daniel não sabia e eu tão pouco. O jeito foi Elizabeth ensiná-la. Daniel e eu apenas observávamos sentados. Camila era um pouco dura, não conseguia mexer direito seu sinuoso quadril. Então Elizabeth resolveu ensinar a garota a primeiro mexer o quadril para só depois ensiná-la dançar o Melody.
- Peraí, Elizabeth! – reagiu Camila ao toque das mãos da outra e seu quadril.
- Mas tu tens que primeiro aprender a rebolar, garota! – ralhou Elizabeth.
- Mas eu vou tentar agora. Vamos dançar de novo.
E assim Elizabeth voltou a guiar Camila em seus primeiros passos no Melody. Uma ex-prostituta tentando ensinar uma evangélica de fachada a dançar. Isso era o tipo de coisa que os rapazes solteiros não viam todos os dias em seus quartos aluguel. Entretanto, alguma coisa estava acontecendo entre as duas garotas. Talvez fosse o efeito do vinho, talvez fosse o calor ali dentro, mas Elizabeth e Camila começaram a dançar mais colada uma na outra. Camila estava remexendo muito bem agora, esfregando sua frente a frente de Elizabeth. Elas suavam e resfolegavam. Olhavam-se olhos nos olhos a menos de um palmo estando suas faces vermelhas. Bom, aquilo já não era Melody, no mínimo seria a Lambada. Daniel e eu olhamos um para o outro. Depois nos erguemos e fomos até as meninas e dissemos:
- Queremos dançar com vocês agora.
E os pares foram formados. Daniel ficou com Camila e eu fiquei com Elizabeth. O som ia rolando e o que fazíamos era atracar peitos e bundas, pernas e cinturas. Enquanto nos chupávamos com as garotas. Meu quarto tinha uma parede divisória. Do lado que nós estávamos ficava a sala, e do outro, o lugar onde eu dormia juntamente com a pia e o banheiro. Daniel seguiu com Camila para parte de trás. Eu fiquei mais Elizabeth na parte na sala onde estávamos desde o início.
- Eu sempre quis foder contigo, Álvares – confessou-me Elizabeth após arriar a calça. – Mas tu sempre pareceste me desprezar.
- Era que eu tinha quase certeza que tu não me darias chance alguma.
E ela agarrou-me por trás da cabeça e me chupou a língua com força. Aquilo me deu um tesão imenso. Apertei sua bunda com força e a ergui do chão esfregando meu cacete duríssimo por cima de sua calcinha sentindo a quentura de sua boceta pulsante. Estávamos muito excitados. Elizabeth ajoelhou-se diante de mim e me chupou legal. Meu pau estava quase para estourar. Como aquela filha da mãe chupava legal. Depois ela colocou as palmas das mãos na parede e arrebitou bem aquela maravilhosa bunda.
- Me fode agora, Álvares – falou-me ela por sobre os ombros.
Curvei bem o joelhos, ajeitei o meu pau na direção daquela boceta quentíssima e enfiei bem devagar. Degustando aquela racha divina. À medida que o tesão ia aumentando, minha estocadas iam tornando-se mais fortes e rápidas, no que Elizabeth ia gemendo conforme a intensidade.
- Aiiiii, caralho! Issooo faz a tua amiguinha gemer. Bate na minha bunda!
Não demoraria muito para o gozo vim. Gozei sobre a bela bunda de Elizabeth.
- Nossa! – respondi resfolegante. – Que foda maravilhosa.
Elizabeth e eu sentamos no sofá, pelados, e nos servimos de mais vinho. Enquanto ouvíamos o chuveiro e víamos Daniel, de cueca, surgi na sala com o seu copo vazio pedindo mais vinho.
Enquanto eu enchia o copo de Daniel ele não parava de olhar para o imenso rabo de Elizabeth. Ela notou isso, é claro, e ficou logo excitada. Meu pau já estava duro de novo. E quando Elizabeth começou a acariciar a perna de Daniel olhando para o pau dele com lasciva, bom, eu comecei a chupar o peito dela. Logo a mão dela estaria acariciando as bolas dele. Daniel ficou parado durante dois goles de tempo, depois foi para cima dela. Ele a beijava na boca e eu a agarrava por trás esfregando bem o meu pau em sua bunda. Elizabeth gemia enquanto meu amigo enfiava os dedos na boceta dela arrebitando mais e mais a sua bunda. Então, Camila apareceu à sala enrolada na minha toalha.
- Vocês viram onde eu...?
Fui até Camila com o pau que era um osso, deixando a bunda de Elizabeth para as mãos gulosas de Daniel. A beijei sem rodeios. Ela não ofereceu nenhuma resistência. Arranquei a toalha fora deixando aqueles belos seios durinhos para fora. Levei Camila até o sofá. Sentei-me primeiro, ela montou por cima de mim com as pernas bem abertas e cavalgou gostoso. Daniel havia colocado Elizabeth de quatro sobre a lajota e a penetrava alucinado. Vez ou outra eu olhava pelo lado de Camila e apreciava aquela bunda levando tapas até ficar vermelha. Camila mexia bem. Havia aprendido com Elizabeth ainda pouco. Nossa! Que bocetinha apertada.
E assim entramos pela tarde. Ninguém era de ninguém ali. Transamos até não suportarmos mais. Depois veio a fome. Não havia comida em casa. E eu estava duro. Camila foi embora almoçar em sua casa. Daniel me deu algum dinheiro para comprar ovos com mortadela. E assim foi feito. E assim almoçamos.


FIM

------------------------------------------------
Não esqueça:
Faça sexo com segurança: USE CAMISINHA!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

DESCONTANDO O CHEQUE

foto e texto: walter rodrigues


Álvares desce do ônibus afetado por uma ressaca colossal. Avenida Presidente Vargas, Belém do Pará. Os dias de fevereiro na cidade seguem nublados e chuvosos. Ele caminha vencendo os panfleteiros e vendedores ambulantes tão caros naquele logradouro. Na mente as coisas circulam vagarosamente, ele apenas segue com passos lentos no rumo do Banco da Amazônia.
Duzentos e setenta reais e quarenta centavos para serem descontados de um cheque assinado por seu mais ex-recente patrão. Novamente desempregado e desiludido, Álvares Rocha sente que as coisas estão voltando a se normalizar.
O cheque é pago após muito tempo na fila. O rapaz sente fome e principalmente angústia. Deseja beber. Entra num supermercado e compra litro e meio de vinho e segue para os Correios. Tenta enviar quatro cópias de seu manuscrito para um concurso literário em São Paulo, mas o peso da correspondência ultrapassa os 500 gramas. Para ser exato: 530g.
- Só dá pra enviar por SEDEX, ou, o senhor pode dividir o volume em dois envelopes – informa-lhe a atendente.
- Obrigado, mas o SEDEX é o olho da cara - responde ele recolocando o material em sua sacola de pano.
Então Álvares resolve comprar alguns shorts e camisetas. E antes dele entrar numa loja, ele abre sua sacola, senta-se na calçada, destampa sua garrafa de vinho e bebe um pouco.

- O senhor pode experimentar ali nos fundos – fala-lhe a vendedora após conferir as roupas escolhidas pelo rapaz.
Álvares segue para o vestiário. Os shorts e camisetas caíram legal em seu corpo largo. Ele olha-se no espelho e por alguns instantes percebe-se um sujeito não tão feio com se julga frequentemente.
Depois ele segue no rumo do Ver-o-Peso, pensa em tomar uma cerveja no mercado de ferro, cartão postal da cidade, mas acha pouco conveniente dado que levava ainda muito vinho em sua sacola. Por isso, ele resolve entrar no Solar da Beira.
O Solar da Beira tratava-se de um solar construído em estilo colonial, assentado rente a Avenida Castilho França tendo os seus fundos voltados para a imensa Baía do Guajará. O lugar abrigava o Museu do Índio. Álvares gostava de beber ali. Uma escada dava acesso ao segundo piso, lá onde o pessoal da limpeza pública tirava uma soneca e jogava cartas em seu horário de almoço. O espaço era amplo, silencioso e limpo.
Álvares senta-se junto à imensa janela de arco pleno com gradil trabalhado em ferro, e observa a sua amada Baía do Guajará “como se fosse gente viva”, segundo suas palavras. O mercado cartão postal ao lado com suas formas retas lhe passa uma certa sensação de amparo, companheirismo.
Os barcos atravessam para Barcarena, turistas com suas câmeras digitais e com a pele excessivamente vermelha, observam achando tudo exótico sem perceberem que única coisa exótica ali são eles próprios. Alguns velhos estão sentados bebendo conhaque e conversando. Álvares observa tudo do alto de sua janela como se fosse um deus onipresente. Aquilo o distrai e ele sente vontade escrever. As palavras bailam em sua cabeça. Ele gosta da sensação. Há tempo não se sentia assim. Bebi mais um pouco.
Passando-se algumas horas ele tenta se levantar de sua cadeira e acaba caindo. Os garis, que estavam jogando baralho, caem na gargalhada. Ele se ergue naturalmente, olha para os garis e segue com sua postura esguia rumo a Academia Paraense de Letras a fim de inscrever sua obra no concurso anual.
Para sua frustração, a Academia estava fechada. Ele senta-se na calçada junto a uma mangueira e fica bebendo por algum tempo enquanto observa a ampla fachada do Corpo de Bombeiros. Ainda não seria dessa vez que ele conseguiria inscrever sua obra em um concurso.
- Outro dia eu volto – ele diz erguendo-se e seguindo em direção a uma boate, onde havia strip-tease a cada meia hora durante o dia toda.
Para sua surpresa a boate havia fechado suas portas fazia alguns meses. Só restava o lugar de onde um dia fora o Club’s Show Drink’s, ou melhor, o Clube C, conhecido também como o Novo Chuá. Tudo acaba um dia, ele pensa. Ainda bem que ele escrevera e publicara um artigo em um livro sobre a memória da cidade a respeito daquele lugar.
Então um grupo de homens de meia-idade surge na esquina. Eles também estavam procurando pela boate.
- Não acredito que fechou... a gente nem teve tempo de conhecer – um dos homens disse.
- Infelizmente – lamentou Álvares. – Era um lugar muito agradável. Shows a todo o momento e muita puta bonita. Mas vocês já foram à boate B Vermelho?


A boate B Vermelho só abriria a partir das 19h00min. Ainda eram 14h00min. Então eles seguiram até as boates da Rua Gaspar Viena. Mas havia apenas uma boate aberta. Lá entraram. Beberam algumas cervejas e seguiram para outra boate do Comércio. Havia belas putas ali. Muitas se chegavam faceiras. Um dos coroas seguiu com uma das putas para o quarto. Álvares só queria beber. E nisso ele estava se saindo muito bem.
Após as putas perceberem qual era a intenção deles, a de apenas beber, elas apenas se chegavam para pedir cigarros vez ou outra. Depois o coroa voltou aliviado. Havia fodido muito conforme suas palavras. Seus parceiros apenas sorriram.
Depois de algumas horas emborcando copos e ouvindo música brega, eles resolveram deixar o recinto. A tarde já ia embora. Todos já iam alto na bebida e muito bem com os seus sentimentos. Ainda pararam em um bar e tomaram mais duas. Depois seguiram adiante. Eles queriam beber no Ver-o-Peso.
A noite já havia dominado por completo. O grupo se desfaz. Era hora de apanhar um ônibus e voltar para suas vidas.
FIM
------------------------------- ------------- ------------------ --
Leia mais histórias de Álvares Rocha no blog Cachaça na Xícara

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Prólogo

Por que ainda se escrevem livros de poesias? A cada verso escrito, a cada rima traçada (de forma ingênua ou sátira) esvai o eterno dizer-se dizendo o que de outra forma não poderia ser dito. Exceto por suspiros e olhares perdidos. O despir-se de inumeráveis máscaras marcadas nesse incessante procurar da verdadeira face. Possível? Catarse, talvez exorcismo.
Mas para que se escrevem livros de poesias? Para gritar nas linhas e entre linhas, cuspir para o alto, mesclar-se. Correr em desespero para chegar primeiro a lugar nenhum e, estando lá, executar o plangente e sofredor tango argentino e dançar sozinho. Comer estrelas sujas e vomitar inúmeros gnomos endoidecidos, buscando colher as flores de um jardim ensangüentado de desejos pré-moldados, enquanto os anjos trepam, às escondidas, em asteróides peregrinos.
Para fazer sentir, sentindo-se…

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A leitura de Clarice Lispector













Clarice Lispector
10/12/1920 - 09/12/1977
A leitura de Clarice Lispector, ao primeiro contanto, nos parece estranha e demasiada. Pois seus textos exigem do leitor uma atenção concentrada e a metade da alma. Um mergulho nas profundezas das personagens tão iguais ao leitor e que talvez por isso indigestos e repulsantes para alguns. A história é o que menos importa nos romances de Clarice, os cenários reproduzem o espírito das personagens e a descrição vaga solta no ar. Leitura trabalhosa, ação letárgica, quase parada embora todo um turbilhão de sentidos nos revolva integralmente. Impopular para muitos; idolatrada por outros. Clarice Lispector vêm inserindo na alma de seus leitores um “quê” de feitiço que os absorve para além dos sentidos fazendo com que uma cotidiana leitura se transforme numa viagem alucinógena, altamente irreal e ilógica na medida que mais nos parece familiar. A leitura de Clarice Lispector é mágica, sua escrita monumental. Por isso, vamos lê-la. Pois, meus caros amigos da Web, vale a pena.
Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à América. Tendo publicado vários livros veio se tornar um dos grandes nomes da Literatura Brasileira.