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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Encontro com Suzan



Por Deividy Corrêa 
e
Walter Rodrigues

Entro no ônibus. Meu destino? Encontrar ela. Lembro-me do dia em que a conheci, era para ser mais um dia típico. Foi quando encontrei pela rua um colega dos tempos nublados de igreja.
- Vai onde agora? – perguntei.
- Vou ali na casa de uma amiga – respondeu- me Charles.
Charles era magro, quase branco, estatura mediana, corpo de adolescente de uns 14 anos, apesar de termos a mesma idade: 22. Aliás, sua mente também era um garoto de 14 anos, mas era um cara legal.
- Tá a fim de ir lá? – perguntou-me ele.
- Vamos lá então!
Chegando lá decidi ficar esperando no portão. Não demorou muito para ele me chamar. Abri o portão subi um lance de escada, que finaliza em sala típica: sofás e televisão sobre uma estante. Charles apresentou-me sua amiga:
- Prazer, Davi.
- Suzan – respondeu-me ela.
Charles pediu um copo com água e no mesmo instante que ela foi buscar ele me perguntou:
- O que achou da morena?
A resposta veio em minha mente: “Lasciva”.
Acabei nem respondendo pra ele, fiquei só pra mim. Ela era morena, mais baixa do que eu, pernas torneadas, cabelos pretos e reluzentes, um sorriso arrebatador e dona de um olhar que disparava sensualidade. Única capaz de despertar em você sentimento e desejo em proporções extremas.
Quando ela voltou sentamos e conversamos sobre vários assuntos, informática foi o primeiro. Expliquei-lhe como funcionava o processador de seu computador. Depois conversamos sobre literatura, meu assunto favorito. Logo nos identificamos e Charles ficou distante na conversa. O cara nunca tinha lido um livro na vida. Situação comum em Belém, onde infelizmente o conhecimento é centralizado assim como o poder aquisitivo. E a maioria das pessoas não tinham bons incentivos em casa, na escola, na televisão.  O mais comum era que ninguém mostrava o mínimo interesse em buscar conhecimento. É mais fácil perder tempo na frente de uma TV, pensando coisas que outros querem que você pense sem que você precise pensar por si só.

No aniversário de Suzan, dei-lhe de presente um exemplar de um clássico da literatura universal Crime e castigo de Dostoievski. Afinal, por várias vezes tinha comentado sobre este livro em nossas conversas. Lembro-me de umas de nossas empolgantes conversas sobre literatura, perguntei se ela já tinha lido Dostoievski e Nietzsche. Disse que já tinha ouvido falar. Então resolvi apresentá-los a ela literatura de verdade.
Depois de alguns encontros e conversas intensas acabei gostando dela, tornou-se minha musa. Não demorou e poemas românticos foram escritos idealizando-a. Era incrível como nossos espíritos entravam em sintonia, impossível não nos agradarmos um com o outro. Falávamos de nossos relacionamentos passados que tiveram finais frustrantes, análises sociais, músicas latinas; ela gostava de italiano e eu de espanhol, mas gostava também de italiana e francesa e vice-versa, e claro, também de música clássica.
No final de uma de nossas conversas disse que ela estava no seleto grupo das mulheres interessantes, que nos enlouquecem e que nos deixam numa síndrome incurável de querê-la tanto. Sempre tive a noção de que as musas nunca ficam com os poetas, e sim com os “homens de verdade”, que as não ouvem e nem as enxergam de verdade, que geralmente não se importam com que elas pensam, as desconhecendo em absoluto. Apenas um copo bom que se sairá bem na cama. Eles não podem amá-las de verdade, pois do contrário, eles é que não serão amados de volta. As mulheres precisam de homens assim, e com eles elas se casam. Talvez elas não queiram que eles as descubram plenamente

Finalmente chego a seu encontro. Marcamos em um cinema (Cine Olímpia) que, um tempo antes estava abandonado pela prefeitura. Nos tempos faustos da borracha o cinema era a atração mais disputada pela elite local. A maioria das famílias gastava o que não tinha para comprar belos vestidos para suas moças solteiras impressionarem seus possíveis pretendentes (geralmente um cara podre de rico, ou, na pior das hipóteses, apenas um cara rico).
Ao encontrá-la a abracei e perguntei como estava. Ela me respondeu que estava bem. Eu fiquei muito melhor ao encontrá-la. Assistimos ao um filme polonês com a temática sobre perfume, o nome do filme era “Jasminum”. Sentamos um ao lado do outro. Senti vontade como sempre de abraçá-la, protegê-la do frio, sentir seu cheiro, beijá-la de um jeito que jamais foi beijada e em seu ouvido sussurrar que adorava sua companhia. Todavia, só era vontade, muita vontade... Faltava-me atitude.
Depois do filme a convidei para lanchar. Enquanto comíamos uma pizza, falávamos sobre o filme. E no meio da conversa falamos sobre o que faltava para ficarmos juntos. Era até meio difícil de entender. No final nos despedimos, tínhamos caminhos diferentes. Mas antes, eu disse em seu ouvido:
- Sabe o que faltou? Uma chance.
Suzan ficou sem resposta. Suzan é do tipo da garota que se fecha para as pessoas que se aproximam dela. E uma dessas pessoas, pode um dia ser o amor de sua vida, o que ela sempre esperou. Uma vez lhe perguntei:
- Você foi já amada de verdade?
- Não – respondeu-me ela secamente.
Não precisei nem explicar a pergunta. Eu disse, que se dependesse de mim isso mudaria. Queria amá-la de verdade como ninguém antes amou. Mas é aquela velha história… as musas nunca nos escolhem.
E lá se foi ela em direção oposta a minha. Mais uma vez fiquei me perguntando... E lembrei-me de uma das letras de Leoni, que diz assim:

“Eu tenho o gesto exato, sei como devo andar
Aprendi nos filmes pra um dia usar
Um certo ar cruel de quem sabe o que quer
Tenho tudo planejado pra te impressionar
Luz de fim de tarde, meu rosto encontra luz
Não posso compreender, não faz nenhum efeito
A minha aparição será que errei na mão
As coisas são mais fáceis na televisão...”

Sei que como a maioria dos românticos sou um fracasso. Mas ainda assim adoro ser um.
No ônibus voltando para casa, ainda sentia sua presença. Às vezes, chegava demorar um dia para eu perceber que ela já não estava mais do meu lado. Aquele encontro com Suzan não queria se desfazer de minha memória. Estava impregnado em mim. Suzan o tipo de garota que nos ensina a amar, mas não nos ensina a esquecer.
No caminho de casa decidi parar em um bar, daqueles meio decadentes e apertados, onde o banheiro era um verdadeiro pós-guerra, mas em compensação bastava eu levantar o dedo que atendente já aparecia com outra “loira e gelada”. E olha que eu já tinha bebido em bares burgueses, onde os garçons sempre demoravam em nos trazer uma cerveja. Eu queria beber e lembrar aquele meu encontro com Suzan.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Almoçando no Restaurante Popular




Era um enorme espaço. Na entrada e na saída, portas de vidro. Uma rampa dava acesso aos deficientes de cadeira de rodas e um jovem funcionário guiava os cegos. Inúmeras e idênticas cadeiras e mesas de plásticos ocupavam todo o imenso salão. Um enorme e branco forro PVC, além das habituais lâmpadas florescentes, abrigavam câmeras quase imperceptíveis. Duas grandes televisões exibiam o noticiário local, enquanto vinte ventiladores de parede lentamente negavam algo. E uma fila enorme se estendia da entrada a copa.
- Dois almoços – pediu Raimundo no caixa informatizado.
A impressora imprimiu duas notas amarelas. Passamos em uma catraca eletrônica e continuamos na fila.
- Parece que estão dando comida de graça - comentei.

Raimundo sorriu.
Quando éramos crianças, Raimundo nos aterrorizava com seus porres. Eu devia ter por volta de meus quatorze anos quando Raimundo chegou em casa caindo de bêbado. Ele sempre fazia a maior confusão por besteira. Eu o odiava por isso.
- Carmem! – gritava ele atirando o prato de comida contra a parede. – Esta comida está uma porcaria! Parece que tu nem sabes cozinhar!
Durante meus onze, doze e até treze anos eu suportei os excessos de Raimundo. Eu sempre torci para que minha velha encontrasse alguém capaz de fazê-la esquecer meu pai. Então pareceu Raimundo. Ele não era um cara de todo mal, mas não podia colocar o primeiro copo de cachaça na boca. Depois disso se tornava insuportável e violento. Vovó Conceição já havia avisado que o deixaria com mais furos do que um crivo. Ela provavelmente teria coragem para isso.
Certa tarde Raimundo apareceu como de costume bêbado e valente. Disse ser o Satanás encarnado, e que estava sedento por sangue. O hijo de puta queria nada mais nada menos do que o meu sangue. Mamãe lhe deu uma cagada segura na cabeça, e ele respondeu lançando uma panela de pressão que fervia ao fogo em sua direção. Mamãe recolheu-se para dentro do banheiro e a panela se chocou com força na parede espalhando feijão para todo lado. Ele nos deixaria com fome naquele dia. Caminhei com passos firmes em sua direção e lhe apliquei uns socos seguros na cara. Ele ia recuando em direção a porta à medida que eu lhe aplicava uma série de chutes a altura do abdome. Eu naquela época tinha um chute alto e potente. Então eu o encurralei à porta e lhe apliquei um chute com a palma do pé bem no meio de sua cara bêbada, no que ele chocou-se contra a porta fechada a arrancando do lugar e caindo pesadamente sobre ela na calçada de casa. Certamente o Satanás que estava encarnado em seu corpo havia se transportado para o meu. Eu queria ver o crânio de Raimundo esmagado, e por isso cuidei de ajuntar uma enorme pedra e quando ia lançá-la em sua cabeça, fui impedido por um vizinho que me agarrou pela cintura e me lançou dentro de sua casa me trancando em seguida. E eu andava de um lado para outro gritando para me saltarem, dando chutes na grade que me impedia de liquidar Raimundo que me olhava com um sorriso de escárnio na cara.
Depois daquele episódio, minha velha resolveria mudar-se do bairro. Ela me explicava que Raimundo era um digno de pena, que a culpa não fora dele e sim de Tia Maria por ficar inventando fofocas a respeito dele. Que a panela de pressão ele não jogou para pegar nela, que deveríamos oferecer uma segunda chance para as pessoas, que Raimundo mudaria, ele estava arrependido e até estava freqüentando as reuniões do A.A. Quanto mais ela falava mais ódio eu sentia dele e mágoa dela. E numa manhã ela arrumou suas coisas e de Vitória num caminhão e partiu para nunca mais voltar a morar ali. 

Restaurante do Povo assim se chamava o lugar. O programa que visava erradicar a fome no país não obteve os resultados esperados, e ainda havia muita gente passando fome. Aquele restaurante popular fazia parte do programa. De qualquer forma, ele diariamente erradicava a fome de milhares de trabalhadores do comércio. Para todos os lados se via gente com seus uniformes. Uns usavam vermelho, outros amarelo, outros azuis. Enfim, cores demais para meus olhos.
Dois reais e alguns minutos na fila eram o preço. Com dez reais se dava pra comer cinco dias ali. Eu não gostei de ficar na fila.
E as pessoas comiam e conversavam, mais conversavam do que comiam. Vozes velozes vagamente decifráveis violentavam meus ouvidos. Por que as pessoas falavam tanto? Talvez para dar escape a alguma forma de pressão.
O lugar era terrivelmente asséptico. Você poderia beber água nos sanitários sem problema algum. Eu não estava com sede.
Então seguimos até a copa, vagarosamente. A fome aumentava, e eu observava. Entreguei minha nota e peguei uma bandeja de alumínio, os talheres e um copo plástico. Pousei minha bandeja num balcão de alumínio e caminhei de atendente a atendente.
Duas colheres de picadinho com batata, uma de macarrão e uma banana. Raimundo tentou pegar uma banana a mais. Não conseguiu.
- É uma pra cada – disse-lhe a atendente, rispidamente.
Raimundo trajava uma camisa branca de botões amarelados, calça jeans e um par de sapatos preto. A barba por fazer, os cabelos cortados rente ao couro cabeludo e sua pele escura tinha um aspecto patologicamente amarelada. Ele estava se recuperando de uma enfermidade. E eu não ia de forma alguma com sua cara. Na realidade eu não ia com a cara de quase ninguém. Mas, no caso dele eu tinha motivos de sobra para não ir. Encontramos-nos por acaso naquela manhã. Ele estava tentando uma indenização por acidente de trabalho, e eu estava tentando conseguir um emprego. Sim, um emprego. Uma amiga de Vovó Conceição trabalhava na casa do dono de uma empresa de informática como doméstica. E como eu tinha cursos relacionados, minha avó pediu para que sua amiga levasse o meu currículo e desse uma “forcinha” junto ao seu patrão. Ela garantiu que conseguiria alguma coisa ainda naquela semana. Pois, a esposa de seu patrão, era-lhe uma grande amiga, uma coração sem tamanho.
Então Raimundo convidou-me para almoçar. Eu aceitei.
Sentamos e comemos em silêncio, enquanto as vozes mescladas soavam como milhares de abelhas dentro de minha cabeça.
- Já vou, Raimundo – disse-lhe após a refeição.
- Já?!
- Já. Obrigado.
- E o emprego?
- Volto lá depois... o patrão não tava no escritório... Disseram-me que ele retornaria depois do almoço.
- Ainda é cedo.
- Eu sei... Vou matar o tempo na biblioteca.

Na avenida Presidente Vargas o movimento era intenso. Muitas pessoas indo. Muitas pessoas vindo. Eu ia pra uma entrevista de emprego e vinha da Biblioteca Pública do Estado. O sol nos dissolvia e as mangueiras compensavam com suas frondosas sombras. Havia túneis de mangueiras em muitas vias de Belém. Para todos os lados havia olhos, olhos que não enxergavam. Olhos civilizados.
Então eu enxerguei um senhor sentado na frente de uma loja. Ele parecia absolutamente concentrado em uma caixinha de papelão pousada sobre suas pernas. Constantemente ele arrumava algo no fundo da caixa. Aproximei-me e vi dois cachorrinhos. Eram dois belos cachorrinhos: um branco e um bege. Ignorava a raça dos dois. Deviam ser da mesma raça.
- O jovem quer compra um? – perguntou-me o senhor moreno e grisalho de olhos amendoados.
- Estou liso – respondi.
- Hum...
- São lindos.
- E são mesmo. A mãe deles teve sete! Uma bela barrigada. Quase todos machos. Estes dois aqui são fêmeas... Ninguém quase compra as fêmeas.
- Dão trabalho.
- Mas é só vacinar e aí elas não embucham.
- De qualquer forma dão trabalho. Eu gosto muito de cachorros, mas não gosto de ter trabalho.
- E quem é que gosta?
- Até mais, senhor.
- Até.
E subi, lentamente, a Presidente Vargas rumo ao escritório para mais uma de minhas entrevistas de emprego. Dessa vez eu havia sido indicado e falaria direto com o patrão. Entretanto, eu não tinha a menor esperança de conseguir. Talvez por não querer conseguir.

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Capítulo 24 extraído do romance "Correndo atrás", Walter Rodrigues. Ed. Multifoco, RJ, 2009 

quinta-feira, 31 de março de 2011

Viagem à Reserva Indígena Alto Rio Guamá em ocasião da Festa da Moça Tembé



Acertou-se para o dia 27 de setembro de 2010 a viagem para a Reserva Indígena Alto Rio Guamá, noroeste paraense no limite do Estado do Pará com o de Maranhão, em territórios dos municípios paraenses Garrafão do Norte, Santa Luzia do Pará, Nova Esperança do Piriá e Paragominas. A turma noturna do Curso de Geografia, a princípio, estava toda convidada pelo graduando indígena Aldo, que muito embora tenha tentado conseguir o ônibus, esbarrou em problemas de ordem financeira para o transporte. Ficando desse modo a viagem da nossa turma adiada para uma outra oportunidade.
Clique sobre o mapa para ampliar a imagem
A notícia foi recebida com muita frustração por parte da maioria dos alunos, que já haviam até arrumado as malas, contudo, Aldo, Rebeca, Daniel e eu estávamos com vagas garantidas na van da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, como convidados de Aldo para viajar um dia antes, 26 de setembro de 2010, juntamente com Klaus Schmidt (etnógrafo alemão) e sua esposa Carla Schmidt (Geógrafa carioca), ambos equipados com modernas câmeras de vídeo e câmeras digitais para catalogar imagens e depoimentos da tradicional Festa da Moça para um projeto de pesquisa.

Em todo caso, os Tembé mantêm algumas práticas religiosas tradicionais, sendo a mais importante delas, na atualidade, a chamada Festa da Moça, que tradicionalmente faz parte dos ritos de puberdade de meninos e meninas (wiraohawo) e que antes era realizada como parte da festa do milho. A partir do início do primeiro ciclo menstrual, as meninas são isoladas do grupo e passam a observar certas prescrições alimentares (Márcio Couto Henrique).


Saímos de Belém no dia 26 de setembro de 2010, às 17:00 horas (horário de Brasília) pela BR-316, depois seguimos pela BR-010 até o município de São Miguel do Guamá e entramos por fim na PA-233, que nos levou até o município de Capitão Poço, onde ficamos pernoitando num posto da CASAI, sigla que não me recordo exatamente, mas é algo como Casa de Saúde Indígena ou Casa de Assistência à Saúde Indígena. Lá havia muitos remédios, uma dessas cadeiras que os dentistas usam para tratar seus pacientes estava inoperante e alguns cartazes do Ministério da Saúde fixados na parede. Daniel dormiria na cadeira odontológica, pois não havia trazido rede. O casal  Schmidt acomodou suas redes na varada, assim como Rebeca e eu. Carla estava muito contrariada por estar perdendo a festa na aldeia, mas não havia jeito de chegarmos lá naquela mesma noite. Sendo que, por volta das 22:00 horas, todos saímos para a praça de Capitão Poço para tomar umas cervejas e jogar bilhar. Ficamos até às 2:00 horas, depois voltamos para CASAI discutindo a respeito da mobilização acadêmica dos estudantes da UFPA, já em nosso alojamento, a conversa se centrou entre Daniel, o casal Schmidt e eu. Falávamos principalmente de filosofia e literatura. Discutíamos a obra de Nietzsche e queríamos saber a opinião do único alemão entre nós a respeito da obra, no original, de “Assim falava Zaratustra”, mas Klaus confessou que ainda não tinha lido a obra, apenas trabalhos sobre. Depois de muito bate boca intelectual, fomos todos dormir.  

 Na manhã seguinte, 27 de setembro de 2010, aguardávamos o transporte que viria da RIARG para nos levar até a aldeia, já que a van da FUNAI estava com um problema na suspensão para encarar o ramal que ligava Capitão Poço a reserva indígena. Sendo que por volta das 9:00 horas uma caminhonete da Secretária de Estado de Meio Ambiente - SEMA, apareceu dirigida pelo cunhado de Aldo. Então seguimos por cerca de 17 km até a margem do Rio Guamá. Atravessamos imensos pastos verdejantes onde se via criação de bovinos e grandes plantações de maracujá, limão entre outras culturas. A caminhonete seguia em alta velocidade pelo ramal recentemente raspado pela prefeitura. A morfologia do terreno variava bastante no que diz respeito a altitude, sendo que ora descíamos e ora subíamos como que querendo alcançar as nuvens mais altas. A poeira ficava em nuvens atrás de nós, e o céu estava de um azul espetacular sobre o verde vivo da vegetação circundante.
Mais adiante estava a aldeia Frasqueira, o alto rio Guamá já nos acompanhava a esquerda do veículo.
Por fim, chegamos.
No alto dos barrancos junto ao rio, se via algumas casinhas de madeira, outras de barro. Era a aldeia Frasqueira. No meio do rio de águas turvas, vinha se aproximando uma lancha de alumínio a fim de nos atravessar até a outra margem do rio. Uma grossa e comprida corda se estendia de uma margem a outra amarrada nas árvores mais grossas em suas extremidades. Por ela, um índio guiava a embarcação de uma margem à outra sem precisar de remos ou motor. Bastava apenas puxar a corda e a leve embarcação deslizava facilmente sobre as águas calmas.


A aldeia Frasqueira tinha uma unidade de saúde que estava fechada por falta de médicos, sendo preciso que os Tembé se deslocassem das aldeias até Capitão Poço para um atendimento. Nossos colegas pesquisadores ficaram por lá mesmo. Aldo queria que eu ficasse na aldeia Itaputyr, pois era lá que estava acontecendo a Festa da Moça. Aldo queria que eu colhesse todo o material possível para a redação de um livro sobre os Tembé do Alto Rio Guamá a partir de sua experiência de vida antes e durante a universidade. Era um projeto difícil de ser levado a cabo por um calouro, mas que ele confiava que eu pudesse fazer em consequência de minha experiência na área da literatura em prosa. Por isso, Rebeca, Daniel e eu não ficamos na aldeia Frasqueira e sim na aldeia Itaputyr, que ficava cerca de 1 km por uma trilha em meio à mata.
Contudo, não seguimos direto para Itaputyr, pois Carla pediu para Aldo, que retornaria até a cidade de Capitão Poço, comprar 15 kilos de peixes e outras coisas menores. Dissemos que queríamos acompanhá-lo. E assim seguimos o caminho de volta até o município. Fomos até um sítio onde se vendia peixes vivos tirados diretamente de um tanque artificial através de tarrafa lançada quando os peixes vinham comer a ração jogada pelo funcionário do local. Por volta das 13:30 horas fomos almoçar em um restaurante no centro de Capitão Poço. Alguns amigos de Aldo apareceram e começaram a conversar e a beber cervejas. Resultado: por ali ficamos até aproximadamente 15:00 horas. Depois uma outra caminhonete apareceu. Era um veículo da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, dirigido pelo primo de Aldo, o cacique Kohay da aldeia São Pedro. Logo em seguida fomos até um mercadinho, que ficava logo no início do ramal que dava acesso a reserva. Aldo comprou os cigarros de Carla e outras coisas mais, o cacique Kohay fez a sua compra e seguimos de volta à aldeia. O que mais me surpreendeu nas compras do cacique foi uma caixa de cachaça.

  
Regulava por volta das 17:00 horas e de longe se podia ouvir e ver a aldeia em clima de festa. Um barracão coberto de palha assentava-se no centro da aldeia, rodeado de casas de todos os tipos, incluindo alvenaria. Era o penúltimo dia de uma festa que havia sido iniciada há 12 dias.

a Festa da Moça tem duração de vários dias e reúne índios de todas as aldeias Tembé, além dos vizinhos Kaapor. Trata-se de um importante momento de reafirmação da identidade étnica, em que os índios se orgulham de afirmar que durante dias cantam em sua própria língua e dançam sem repetir uma música sequer (Márcio Couto Henrique).

Todos exibiam pinturas corporais e adereços de penas e plumas tais como braceletes e cocas. Havia muitas pessoas espalhadas pelo terreiro e o cheio de ervas queimadas e os tauaris (espécie de lasca de algum vegetal) fumados pelos indígenas mais velhos deixavam-nos como em um estado de torpor. Era muito estranho aquilo tudo para nós. Ali verdadeiramente houve o choque entre nossa cultura e a cultura deles.
Então Aldo nos levou até o barracão coberto de palha. Lá estavam reunidas as principais lideranças Tembé. Todos muito bem pintados de jenipapo, enfeitados de plumas e penas coloridas. Suas expressões eram graves e solenes. Fomos chamados para o centro do barracão e nos colocamos, ombro colado no outro, diante daqueles homens. Aldo nos apresentou como alunos da UFPA e seus convidados especiais para assistir a Festa da Moça. Depois ele passou a palavra para quem quisesse dizer alguma coisa. Basicamente, todos parabenizamos e agradecemos a oportunidade de estar prestigiando o evento junto deles. Carla nos encontrou e perguntou o motivo de temos demorado tanto para e logo em seguida perguntar se Aldo havia comprado os seus cigarros. O peixe ela aguardava comer assado noutro dia à beira do Rio Guamá.

Ao cair da noite os maracás começaram a soar juntamente com os cantos dos pássaros da floresta. Dentro do barracão o ritmo seguia cadenciado e marcado com precisão pelos vários maracás usados nas “canturias”, que falavam de coisas da floresta como os animais do dia e da noite. Os Tembé tinha um dos mais ricos repertórios musical do Brasil. As vozes acompanhavam os maracás numa combinação perfeita e emocionante. Enquanto o ritmo dos maracás seguiu firme e ritmado, as vozes poderosas dos homens se combinavam com os contraltos das mulheres num harmônico e inesquecível coro. No meio do barracão homens e mulheres aos pares dançavam de braços dados, girando e dando fortes pisadas ao chão em determinado tempo, formando uma roda. Uma dança tradicional do povo Tembé.
As “canturias” e danças seguiriam pela madrugada adentro. Agora havia mais gente dançando do lado de fora do barracão. A lua cheia estava coberta por uma densa nevoa e a única lâmpada que pretendia iluminar o terreiro parecia devorada pela nevoa esparsa. E eles giravam e davam pisadas ao chão conforme o ritmo dos maracás. Depois aconteceu um movimento naquela dança que eu ainda não tinha reparado: uma “barreira” formada por alguns indivíduos dançava ao centro da roda: ora avançando, ora recuando, ora girando e depois se recompondo em pares para logo depois se ajuntar à roda enquanto outro grupo formava outro “muro” de indivíduos, que executavam os mesmos passos.

Enquanto eu observava a dança, o jovem indígena Alan, que havia entrado naquele mesmo ano, assim como Aldo, na UFPA no curso de Direito, aproximou-se e ofereceu uma bebida feita do sumo da mandioca.
“Beba a bebida de nosso povo”, disse-me ele a passar para minhas mãos uma grande cuia cheia de um líquido amarelo. Eu tomei um bom gole.

 Eram 4:00 horas do dia 29 de setembro de 2010, domingo, quando começou um barulho de cornetas e gritarias para acordar os que dormiam. Acordamos meio atordoados e caminhamos para o barracão, onde já se iniciava os preparativos para o ritual da menina moça. Sobre a aldeia deitava-se um nevoeiro retirado de algum romance inglês, e o frio daquele horário da manhã só fazia o sono ficar ainda mais pesado e a rede irresistível. Tomamos café preto numa pequena barraca coberta de palha e depois voltamos para nossas redes.
Por volta das 8:30 horas eu já estava de pé novamente. Aldo havia sumido desde a noite anterior. Deixou-nos aos cuidados de Dona Fausta, sua tia, que nos hospedou e nos tratou muito bem em sua casa na aldeia Itaputyr. Resolvi perguntar o paradeiro de seu sobrinho no que ela me respondeu que Aldo estava na casa dele, na aldeia São Pedro, próxima dali. Logo em seguida ela me perguntou:  “Já vão vestir a moça, tu não vais ver?”. Tentei acordar Daniel para ele presenciar a cerimônia, mas meu camarada preferiu ficar dormindo. Rebeca já tinha ido. Então eu fui até lá.

No meio do terreiro ao lado do barracão, encontravam-se três meninas sentadas, uma do lado da outra, sobre o chão, pintadas completamente de jenipapo com longas saias brancas. Uma índia auxiliada por outra enfeitava as garotas com penas, colares e com o capacete (espécie de cocar com as penas para baixo), enquanto todos se reuniam ao redor do ápice da festividade da  menina moça com seus celulares e câmera digitais. Nossos colegas de viagem, casal Schmidt, não estavam por ali mais seus maquinários áudio-visual moderno, coisa que me intrigou bastante já que eles estavam ali para registrar aquele momento. Por outro lado, a equipe de reportagem do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT-Belém – com os quais estávamos dividindo a mesma casa - estava por lá já fazia três dias para montar uma reportagem de um pouco mais de 6 minutos, que seria exibida no Jornal SBT Pará do dia 30/09/2010. O que me chamou a atenção era a maneira como o repórter da emissora interrompia o cerimonial pedindo para o pajé repetir alguns gestos e palavras, como um diretor de peça teatral. Rebeca aproximou-se de mim com um celular que batia boas fotos, mas  filmava numa qualidade péssima. Ela me disse: “Walter, tu que vais ficar por ai? Então tira umas fotos pra mim”. Agora eu estava equipado e poderia fazer algumas imagens.

E assim, as meninas foram apresentadas à comunidade indígena pelo pajé como as mais novas mulheres da tribo, acompanhadas de outros três adolescentes que com elas faziam par.  O mutum, prato principal da festa, depois de assado é pilado junto com farinha até virá paçoca. Essa paçoca é distribuída pelas meninas-moça entre os participantes do evento dentro de uma cuia. Somente nesse dia as meninas podem comer das caças novamente, já que após o primeiro ciclo menstrual elas são retiradas da convivência em sociedade e passam a seguir um regime alimentar, onde caças grandes e pássaros são proibidos. Eu recebi a paçoca em forma de bolinha na palma da mão e comi e adorei o gosto, embora eu não fizesse à mínima ideia do que eu estava comendo.
Essa paçoca é distribuída pelas meninas-moça entre os participantes do evento dentro de uma cuia.
Depois trouxeram um macaco guariba esfolado e assado. Dava para ver os dentes branquíssimos do animal que mais parecia um boneco. Mas quando olhei mais de perto para tirar a foto, vi que o animal era bem real. Duas mulheres enfeitavam o guariba com cocar, uma pequena saia, plumas e um colar. Aldo Tembé me contou mais tarde que o guariba tinha uma função bastante peculiar. Segundo Aldo, a menina que olhasse para o guariba depois do mesmo arrumado e sorrisse era porque não era mais virgem. Depois houve mais danças e cantorias.


Segundo Aldo, a menina que olhasse para o guariba depois do mesmo arrumado e sorrisse era porque não era mais virgem.

Depois houve mais danças e cantorias.

Por volta das 13:00 horas, voltamos de um banho de rio para almoçarmos. Na pequena barraca coberta de palha, que servia como uma espécie de refeitório estava sendo servida, em médias cuias, carnes de porco do mato, nhambu e mutum. Um jovem índio nos pintou formas geométricas nos braços com jenipapo. Carla estava inconformada de ter perdido o rito principal da Festa da Moça, e me informou que na casa onde estava hospedada na aldeia Frasqueira mais seu marido, alguém havia mexido em sua bolsa e roubado dois litros de cachaça de Minas, presente de casamento que ela queria tomar numa ocasião especial como aquela. Também nos disse que informaram o horário errado para eles, sendo que o ritual de apresentação da menina-moça começou às 8:30 horas e eles vieram às 10:00 horas. Ela estava indignada com Aldo por ele ter os alocado naquela aldeia distante da festa. Ela estava revoltada com Aldo por ter dado dinheiro a ele para comprar 15 kilos de peixes, pois, segundo suas palavras, ela queria comer ao menos um peixinho assado na beira do rio, e até naquele momento ela não tinha visto sequer um peixe. Carla e Klaus, que diferente de sua esposa quase nada falava, estavam chateados e queriam ir embora, mas Aldo havia sumido de novo. Estava novamente para a aldeia São Pedro. E o horário que a van da FUNAI ficou de nos buscar na CASAI de Capitão Poço estava quase em cima. Precisávamos nos retirar dali algumas horas antes. Todos nós estávamos preocupados com nosso regresso, pois tínhamos compromissos na segunda feira de manhã. Então Carla e eu saímos para perguntar a um grupo de índios de meia idade se havia algum transporte disponível para nos levar até Capitão Poço, no que o único indígena com carro particular da aldeia respondeu-nos secamente: “O Bira (Aldo) trouxe vocês, o Bira leva vocês”.
O tempo ia passando e a tensão aumentando. Começávamos a cogitar a hipótese de irmos andando até Capitão Poço e de lá pegar um ônibus até Belém. Rebeca havia vindo sem dinheiro suficiente para uma passagem de ônibus. Ela estava seriamente preocupada. Falamos que daríamos um jeito. E quando já estávamos com as bolsas arrumadas e o coração saindo pela boca, mandara-nos informar que o senhor da frase: “O Bira trouxe vocês, o Bira leva vocês”, estava de saída para Capitão Poço naquele momento para levar alguns indígenas, e se nos quiséssemos ele podia nos levar até lá. O sorriso de alívio se estampou em nossos rostos.
Pajé Tembé
Todos nós estávamos realmente chateados com Aldo, que até naquele momento não dava às caras. Seguimos então pela trilha de 1 km até a aldeia Frasqueira para atravessar o Rio Guamá e por fim partir para nossas casas. Eu estava numa mescla de pavor e excitação. E para as crianças tembé a presença de Klaus Schmidt era um espetáculo devido suas características físicas peculiares: quase dois metros de altura, extremamente branco e olhos de um azul quase transparente. Ele passava as suas grandes mãos nas cabeças das crianças que se aproximavam curiosas enquanto seguíamos para atravessar aquele trecho do rio.

Foi então que surgiu Aldo andando e conversando muito tranquilamente em companhia de outro indígena. Ao nos ver a uma certa distância, Aldo parou e aguardou. Daniel e Rebeca seguiram adiante se recusando a falar com ele, os pesquisadores tomaram um rumo contrário indo bater até a porta de uma das casas para se despedir de alguém. Aldo observava essas ações com os olhos de interrogação, parado no meio do campo de futebol. Então eu resolvi ir até ele, no que meus amigos Daniel e Rebeca me censuram. “Vai lá então só tu. Eu não quero nem papo com esse cara. Eu não tô a fim de dar um soco na cara desse teu amigo otário. A gente vai te esperar pra ali”. Falou-me Daniel, que depois caminhou mais Rebeca para um barracão à margem do barranco. Aguardando-me ali.
Aldo me disse que estava dando atenção à sua família na aldeia São Pedro, e por isso não podia ficar o tempo todo conosco, e que ainda havia o agravante de sua mulher achar que nossa amiga Rebeca fosse sua amante. Segundo ele, as características físicas de nossa colega de curso eram semelhantes com as de uma mulher que ele dançou em uma festa em Capitão Poço alguns meses atrás. Também me contou que ele havia ficado muito chateado comigo pelo fato de eu ter me concentrado mais em outras coisas do que em pesquisar para o livro que eu havia combinado começar a escrever no próximo ano. Falou-me que já estava a caminho para nos buscar e que a van da FUNAI só sairia quando nós chegássemos. Já quanto aos pesquisadores, segundo ele, era problema dele.
A viagem de volta foi tranquila. Chegamos em Belém por volta das 20:00 horas.    
          
Parafraseando Malthus em sua obra “Ensaio sobre o princípio da população” o presente relatório poderia, indubitavelmente, ter sido tornado muito mais completo por uma coleta de maior número de fatos para elucidar o argumento geral, mas devido ao caráter mais recreativo do que científico dado por minha pessoa à viagem as citadas aldeias, impediram-me de dar ao assunto atenção indivisa.
De qualquer modo, o contato com a cultura indígena, seus rituais e até mesmo com o próprio Aldo, acendeu em meu espírito uma profunda percepção do outro, que me fizeram ver a mim mesmo.

O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única. (LAPLANTINE, 2003, p.13)

Os conhecimentos empíricos obtidos dessa viagem e do contato com Aldo, viriam se mesclar no semestre seguinte aos conhecimentos antropológicos numa disciplina chamada Antropologia Cultural, conhecimentos que me serviriam de base para redação desse relatório e reforçar minha maneira de ver o outro com menos etnocentrismo e preconceito. Do trajeto de 1 km da aldeia Frasqueira até a Itaputyr, notei alguns trechos com a vegetação devastada em processo de recuperação, e vim entender depois o histórico de lutas que esse povo trava com sacrifício e coragem há décadas para preservar seu território, sua cultura e identidade contra invasores carregados de preconceitos e interesses econômicos. Observei o quanto nossa cultura dita civilizada ainda tem que aprender com esse bravo povo, que a cada dia vem reafirmando suas tradições e o orgulho de ser Tenetehara. “De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas míopes quando se trata da nossa” (LAPLANTINE, 2003).
Seja como for, este relatório teve como objetivo fundamental evidenciar a experiência empírica do autor para futuros fins científicos que esta temática vier a suscitar.


    
CONSULTAS PARA ESTA POSTAGEM:

LAPLANTINE, François. “Aprender antropologia”. São Paulo: Brasiliense, 2003.
MALTHUS, Thomas Robert. “Malthus: economia”  São Paulo: Ática, 2005, p.51-52.
HENRIQUE, Márcio Couto. “Populações indígenas e a Terra do Alto Rio Guamá”. Atlas socioambiental: municípios de Tomé-Açú, Ipixuna do Pará, Paragominas e Ulianópolis / Maurílio de Abreu Monteiro, Maria Célia Nunes Coelho, Estêvão José Silva Barbosa; organizadores. Belém: NAEA, 2009.

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SÓ PRA SABER

O relato que você acabou de ler é totalmente real, assim como os personagens envolvidos, entretanto, os nomes das  pessoas envolvidas nessa aventura foram modificados a fim de preservar suas identidades.


MAIS SOBRE O ASSUNTO DENTRO DE VERSOS RASCUNHOS SEGUINDO OS LINKS ABAIXO:

  1. http://versosrascunhos.blogspot.com/2010/07/por-uma-mudanca-de-paradigmas-sobre.html
  2. http://versosrascunhos.blogspot.com/2010/11/os-indios-tembe-e-eu-na-tradicional.html
  3. http://versosrascunhos.blogspot.com/2010/12/conhecendo-nos-partir-do-outro.html


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O vôo de Fernando


por Walter Rodrigues 


Sentado sobre um banco de concreto, isolado e compenetrado, seus grandes olhos fitavam  o vazio. Era nosso colega de classe Fernando. A noite seguia sem estrelas e sem lua. A grama estava seca. Resultado do sol intenso daquela tarde calorenta. A parca iluminação do campus nos deixava numa mescla de perplexidade e desespero. Não haveria a primeira aula, somente a segunda. Talvez a imagem daquele rapaz sentado sozinho de olhos tão grandes e brilhantes  fixados no vazio nos inserisse esse desespero e perplexidade. Talvez a ausência das estrelas, da lua e a fraca iluminação do campus. Talvez tudo isso combinado a uma voraz insatisfação pelo curso que eu levava ali.
Enquanto isso, aguardávamos por ali. Fernando também aguardava. Sem dúvida alguma ele tinha os olhos maiores e mais estranhos que eu já tinha visto. Aqueles dilatados olhos castanhos  tinham um brilho enigmático, quase diabólico. E quando ele começou a sorrir silenciosamente durante as aulas, seu sorriso não era o dos piores: dentes líneos, claros. No entanto, seu sorriso perdia em graça ao notarmos para quem ele era direcionado. E eu hei de concordar que as paredes de nossa sala, monótonas e austeras como qualquer outra parede do mundo, não tinha nada de engraçado. As garotas e os rapazes começaram a ter receios de Fernando. Talvez por isso não se aproximassem dele e não o convidassem para seus grupos de apresentação de trabalhos em classe. Mas até aí tudo bem, pois eles também não me convidavam.
No entanto, fazia alguns dias que nosso colega estava vendo alguma coisa que nos era invisível. Por certo era algo bastante engraçado e interessante dado seu sorriso cada dia mais constante. Vendo Fernando agora sentado sobre aquele banco, com os olhos fixos no nada, o sorriso na face redonda e a conversa interminável com coisa-alguma, me era impossível não ser tocado por um sentimento de compaixão. Eu sabia muito bem como era frustrado não ser aceito.
Então avancei em sua direção e sentei ao seu lado naquele rígido banco em concreto. Fernando olhou-me por alguns segundos com seus surpreendentes olhos, balançou a cabeça, lentamente, de cima para baixo e de baixo para cima, depois deu uma tragada e seu cigarro e voltou a olhar fixamente para frente.
Tentei puxar assunto, mas suas respostas eram evasivas. Eu não era um fumante, mas pedi um cigarro para ele. Ele me passou um, me olhando como se eu fosse irreal. Eu não poderia atingi-lo. Fernando estava numa outra dimensão e observava as coisas para além do convencional. Ele estava perdido dentro de si. Os outros colegas de classe nos olhavam curiosos. Deviam estar pensando: “A dupla perfeita”. E assim como Fernando, eu também estava cagando para eles. Mas Fernando estava numa dimensão superior. Eu não podia alcançá-lo. Ele estava em vôo alto.
- O que tu achas deles? – perguntei a Fernando apontando na direção dos nossos colegas, que juntos estavam conversando junto a porta da sala.
Ele não me respondeu. Apenas continuou olhando fixamente para o nada.
- Eu os acho muito imaturos – disse eu por fim achando que ele se encorajaria.
Mas ele não se encorajou, contudo.
Seu olhar estava tão desprovido de vida, embora tão brilhantes e acessos. Ele não estava drogado, era algo além disso.
Seu olhar parecia atravessar tudo, mas se você olhasse por alguns segundos que fosse dentro daqueles olhos imensos, você encontraria uma avassaladora tristeza, no entanto, não havia pedido de socorro. Ele parecia tranquilo e distante.
- O que tu estás achando do curso? – continuei insistindo. – Por que tu escolheu Geografia?
Ele respirou fundo. Seus olhos me apanharam por alguns segundos. Eram, se dúvida, olhos muito tristes e exaustos.
Então resolvi ficar calado. Não sabia mais o que dizer e nem o que fazer. Talvez eu devesse me erguer e deixá-lo ali com seus fantasmas. Mas não o fiz. Fernando e eu permanecíamos ali sentados como dois dementes a olhar fixamente e de forma perplexa o nada em absoluto. E o nada me parecia agora tão grandioso e insignificantemente significante. Eu estava me perdendo em meus pensamentos, cada vez mais abstratos e dispersos, enquanto o meu colega ao lado já esta por completo nos seus.      
Então o professor entrou na sala. Os demais colegas entraram em seguida.
- Vamos entrar? – sugerir ao meu parceiro.
- Vá lá – responde-me ele dando mais duas tragadas no cigarro que se findava. – Eu vou depois…
Nosso colega não voltou naquela noite, nem nas noites seguintes à sala de aula. A turma sentiu sua falta. Eu também senti. Até que numa certa noite o professor de Geografia Física entrou em sala de aula com a expressão pesada, olhando fixamente para sua mesa, se acomodando por fim atrás da mesma para depois nos encarar e dizer:
-  Tenho uma notícia triste para passar. O colega de vocês, o Fernando, infelizmente, ontem à noite, cometeu suicídio.  A mãe dele informou à direção que seu filho sofria de depressão profunda. Já tinha até sido internado algumas vezes.
Silêncio geral.
As garotas e os rapazes olhavam uns aos outros, boquiabertos deixando transparecer em seus olhos um estranho espanto misturado com descrença. Enquanto eu só conseguia pensar no fato de que Fernando havia conseguido voar mais alto do que qualquer um de nós. Ele voou para além das estrelas e se perdeu no vazio.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Batidas na porta


by Walter

Mais
uma noite vencida. Sonhos vários, embora nenhum me viesse fazer sentido. Coisas de sonhos. Debatia-me de um lado para o outro da cama. O ventilador a berrar, o sol a aquecer minhas malditas telhas de amianto, ainda não era nem dez horas da manhã, e me era difícil continuar dormindo e sonhando. Então algumas batidas contínuas em minha porta de madeira.
Abro a janela, sonolento. Por certo só poderia ser meu amigo Daniel, em plena nove horas da manhã. Esfrego os olhos e o que vejo me enche de boas sensações. Sim, era Rebeca. E como ela estava maravilhosa com aquele jeans colado em sua esplendorosa bunda. Vôo imediatamente até a porta.
- Nossa! Quanto tempo... Que bom te ver novamente, Rebeca.
- Não vai me convidar pra entrar, pequeno?
- Sim! Entre!
E assim ela entrou. Depois nos abraçamos. Senti uma ereção imediata. Rebeca também sentiu algo crescendo rigidamente contra sua cintura estreita. Eu estava tomado de tesão e não queria me desgrudar daquele rabo abençoado. Então agarrei os cabelos longos e ondulados de Rebeca, avancei com determinação meus lábios aos fartos e rígidos seios dela. Eu era um bebê a mamar a sua própria subsistência. No entanto, eu queria mais.
E assim avançamos para minha cama e nos envolvemos inteiramente. Rebeca era incrível. Não havia camisinhas que agüentassem intactas dentro dela. Sua boceta dissolvia e misturava tudo e a todos, dentro dela, éramos e não éramos simultaneamente. Seu cheiro, o calor de seu corpo, seus beijos famintos, seus olhos escuros que nos levavam aos mais claros e límpidos cenários e aquela sua maneira de morder sutilmente o lábio inferior...
Rebeca...
E ela vai por baixo e por cima, de lado e de quatro. Rebeca conhecia todos os caminhos pelo simples fato de que todos os caminhos pertenciam a ela.
E ela se vai porta a fora. Não me permite que a acompanhe até o ponto de ônibus. Eu só queria que ela me quisesse em tempo integral. Mas Rebeca conhece-me o suficiente para não cometer tal equivoco.
E assim ela vai e eu fico.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Depois do feriadão, todo mundo peladão


A vizinhança estava enfiada dentro de suas casas. Vestindo suas roupas novas, certamente. O beco enlameado só não estava deserto por causa dos moleques endiabrados, que estouravam bombinhas potentes em frente de casa. Malditos fedelhos! Eles deviriam ser alistar como moleques-bombas em alguma rede terrorista. Paciência. Na minha infância eu conseguia ser pior. As minhas bombinhas tinham a mania de repousarem nas salas dos meus vizinhos mais hostis. Eu definitivamente não havia sido uma criança normal, e não apanhei o suficiente.
Uma gigantesca caixa de som trabalhava os ritmos do povão: Melody, Tecno-Melody... Dentre em pouco teríamos reunidos ali todos os bandidos do bairro mais os vizinhos viciados e não viciados como era tradição todos os Dia do Trabalhador. A porrada com o passar das horas comeria soltar até o raiar do dia. Embora naquele feriadão não tivéssemos pessoas esfaqueadas e ou baleadas, as brigas de socos, pontapés, cadeiradas e até pauladas se faria presente ali. Isso era sinal que as coisas estavam ficando menos agressivas, melhorando.
A bebedeira continuava na média. Os traficantes de drogas e os assaltantes da área se exibiam com suas muitas caixas de cervejas. Uma jovem gorda dançava alegremente com os pés descalços sobre o chão de terra molhada. Os Melody continuavam, se repetiam e voltavam a tocar ciclicamente. Como eles não se enjoavam daquelas batidas iguais e letras idiotizantes?
Pedrão quase despacha aos cuidados de Lúcifer um jovem arruaceiro que anualmente acabava com a festa. Pedrão era metido a valente, ainda mais quando embriagado.
O dia vinha raiando. O sol revelava a decadência de pessoas e ambiente.
Um rapaz pálido vomitava apoiando-se num muro, uma jovem seguia costurando enquanto se namorado seguia um pouco atrás, pois havia parado para mijar na frente de uma casa. O esgoto a céu aberto e seu fedor acre e seus malditos ratos gigantes. O beco mais enlameado do que nunca.
- Álvares – falou-me Elizabeth, ex-prostituta e agora empregada doméstica. – Tu estás parecendo um zumbi com estes teus olho perdidos. E eu nem te vi puxando um fumo nem nada.
Fiquei calado. Depois segui para o meu quarto de aluguel, abri a porta e fui até a geladeira. Destampei uma garrafa de vinho barato, coloquei algumas músicas em espanhol para tocar em meu aparelho DVD ligado à televisão, que só me tinha esta finalidade: ouvir músicas. E sentei-me a ouvir e a beber. Passou-se, eu creio, uns quinze minutos até aqueles baques macios à minha porta.
- Quem é? – perguntei.
- É o Daniel.
Abri a porta e lá estava o meu único amigo de uma vida toda. A única pessoa sem ser minha família que eu poderia contar. Ele também gostava de músicas em espanhol e de beber aquelas porcarias que chamávamos de vinho. Logo-logo a garrafa de um litro e meio estava vazia. Sair para comprar mais.
No bar eu encontrei algumas pessoas bebendo e jogando bilhar. Elizabeth ainda estava por ali na companhia de algumas amigas. Bêbada, ela narrava para as citadas amigas os casos mais hilários de trepadas quando em seu tempo de prostituta nos puteiros do Ver-o-Peso. Contava também das investidas de seu novo patrão.
- Por que tu não trepas logo com ele? – perguntou uma das amigas.
- Por que se fosse pra eu continuar vendendo minha boceta eu continuava lá no Ver-o-Peso – respondeu Elizabeth muito ofendida se levantando para sair.
- Foi só uma brincadeira – tentou apaziguar a outra garota que bebia com elas.
- Vão tomar no cu!
Elizabeth era uma jovem na casa dos 25 anos. Entrara na vida da prostituição aos 19 por motivos dos mais variados possíveis: falta de trabalho, rebeldia, busca de novas sensações, a bebida farta, a liberdade do julgo da mulher casada... enfim. Ela tinha seus motivos. No entanto, ainda havia dignidade nela. Seus pequeninos olhos negros, quando irritada do jeito que estava, ficavam praticamente fechados, sua baixa estatura, sua boca de lábios grossos numa face comprida e estreita se tornava mais atraente quando o batom vermelho lhe emprestava aquele ar de sexualidade. Seu corpo era exato, exceto pela sua bunda que era um tanto arrebitada demais. Mais isso não era um defeito para a mulher brasileira. Era uma bunda de respeito e não havia macho que não olhasse para ela quando Elizabeth passava se requebrando toda rumo a parada de ônibus.
- Elizabeth – a chamei antes dela sair.
- Oi, Álvares – respondeu ela levemente surpresa. – Eu nem tinha te visto aí.
- É que eu só vim comprar este vinho.
- Hum... Posso beber ele contigo?
- Claro.
E assim seguimos para o meu quarto de aluguel.
Chegando lá, Daniel e Elizabeth foram uma eternidade de apertos de mãos e beijinhos no rosto. Elizabeth queria ouvir Melody. Eu não tinha nem um CD desse ritmo em casa. Então ela foi buscar um em sua casa. Daniel havia ficado muito impressionado com Elizabeth e sua bela bunda.
- Será que ela volta, Álvares?
- Volta sim.
E ela voltou acompanhada de uma outra garota e mais uma garrafa de vinho. Ela estava a fim de curtição.
A outra garota não tinha a bunda como a de Elizabeth, mas tinha um belo par de seios. Ela se chamava Camila e não gostava de usar saias, no entanto, vivia de saia, pois sua mãe, evangélica das fanáticas, a obrigava.
- Só a minha mãe é crente – dizia-nos ela. – Eu não.
- Mas eu te vejo indo pra igreja com ela todos os domingos, Camila – observou Elizabeth.
- É que ela me obriga. Se fosse por mim mesma, eu estaria era curtindo por aí aos domingos.
- Quantos anos tu tens? – perguntou Daniel.
- 18 eu fiz início deste ano.
- Já és de maior e vacinada. Tens é que aproveitar a vida, pois com certeza na tua idade a tua mãe não era nenhuma santa – replicou Daniel.
- Pior – assentiu Camila.
E assim seguimos bebendo. O sono não me incomodava nem um pouquinho. Eu estava legal e vertiginosamente feliz. Camila queria aprender dançar Melody. Daniel não sabia e eu tão pouco. O jeito foi Elizabeth ensiná-la. Daniel e eu apenas observávamos sentados. Camila era um pouco dura, não conseguia mexer direito seu sinuoso quadril. Então Elizabeth resolveu ensinar a garota a primeiro mexer o quadril para só depois ensiná-la dançar o Melody.
- Peraí, Elizabeth! – reagiu Camila ao toque das mãos da outra e seu quadril.
- Mas tu tens que primeiro aprender a rebolar, garota! – ralhou Elizabeth.
- Mas eu vou tentar agora. Vamos dançar de novo.
E assim Elizabeth voltou a guiar Camila em seus primeiros passos no Melody. Uma ex-prostituta tentando ensinar uma evangélica de fachada a dançar. Isso era o tipo de coisa que os rapazes solteiros não viam todos os dias em seus quartos aluguel. Entretanto, alguma coisa estava acontecendo entre as duas garotas. Talvez fosse o efeito do vinho, talvez fosse o calor ali dentro, mas Elizabeth e Camila começaram a dançar mais colada uma na outra. Camila estava remexendo muito bem agora, esfregando sua frente a frente de Elizabeth. Elas suavam e resfolegavam. Olhavam-se olhos nos olhos a menos de um palmo estando suas faces vermelhas. Bom, aquilo já não era Melody, no mínimo seria a Lambada. Daniel e eu olhamos um para o outro. Depois nos erguemos e fomos até as meninas e dissemos:
- Queremos dançar com vocês agora.
E os pares foram formados. Daniel ficou com Camila e eu fiquei com Elizabeth. O som ia rolando e o que fazíamos era atracar peitos e bundas, pernas e cinturas. Enquanto nos chupávamos com as garotas. Meu quarto tinha uma parede divisória. Do lado que nós estávamos ficava a sala, e do outro, o lugar onde eu dormia juntamente com a pia e o banheiro. Daniel seguiu com Camila para parte de trás. Eu fiquei mais Elizabeth na parte na sala onde estávamos desde o início.
- Eu sempre quis foder contigo, Álvares – confessou-me Elizabeth após arriar a calça. – Mas tu sempre pareceste me desprezar.
- Era que eu tinha quase certeza que tu não me darias chance alguma.
E ela agarrou-me por trás da cabeça e me chupou a língua com força. Aquilo me deu um tesão imenso. Apertei sua bunda com força e a ergui do chão esfregando meu cacete duríssimo por cima de sua calcinha sentindo a quentura de sua boceta pulsante. Estávamos muito excitados. Elizabeth ajoelhou-se diante de mim e me chupou legal. Meu pau estava quase para estourar. Como aquela filha da mãe chupava legal. Depois ela colocou as palmas das mãos na parede e arrebitou bem aquela maravilhosa bunda.
- Me fode agora, Álvares – falou-me ela por sobre os ombros.
Curvei bem o joelhos, ajeitei o meu pau na direção daquela boceta quentíssima e enfiei bem devagar. Degustando aquela racha divina. À medida que o tesão ia aumentando, minha estocadas iam tornando-se mais fortes e rápidas, no que Elizabeth ia gemendo conforme a intensidade.
- Aiiiii, caralho! Issooo faz a tua amiguinha gemer. Bate na minha bunda!
Não demoraria muito para o gozo vim. Gozei sobre a bela bunda de Elizabeth.
- Nossa! – respondi resfolegante. – Que foda maravilhosa.
Elizabeth e eu sentamos no sofá, pelados, e nos servimos de mais vinho. Enquanto ouvíamos o chuveiro e víamos Daniel, de cueca, surgi na sala com o seu copo vazio pedindo mais vinho.
Enquanto eu enchia o copo de Daniel ele não parava de olhar para o imenso rabo de Elizabeth. Ela notou isso, é claro, e ficou logo excitada. Meu pau já estava duro de novo. E quando Elizabeth começou a acariciar a perna de Daniel olhando para o pau dele com lasciva, bom, eu comecei a chupar o peito dela. Logo a mão dela estaria acariciando as bolas dele. Daniel ficou parado durante dois goles de tempo, depois foi para cima dela. Ele a beijava na boca e eu a agarrava por trás esfregando bem o meu pau em sua bunda. Elizabeth gemia enquanto meu amigo enfiava os dedos na boceta dela arrebitando mais e mais a sua bunda. Então, Camila apareceu à sala enrolada na minha toalha.
- Vocês viram onde eu...?
Fui até Camila com o pau que era um osso, deixando a bunda de Elizabeth para as mãos gulosas de Daniel. A beijei sem rodeios. Ela não ofereceu nenhuma resistência. Arranquei a toalha fora deixando aqueles belos seios durinhos para fora. Levei Camila até o sofá. Sentei-me primeiro, ela montou por cima de mim com as pernas bem abertas e cavalgou gostoso. Daniel havia colocado Elizabeth de quatro sobre a lajota e a penetrava alucinado. Vez ou outra eu olhava pelo lado de Camila e apreciava aquela bunda levando tapas até ficar vermelha. Camila mexia bem. Havia aprendido com Elizabeth ainda pouco. Nossa! Que bocetinha apertada.
E assim entramos pela tarde. Ninguém era de ninguém ali. Transamos até não suportarmos mais. Depois veio a fome. Não havia comida em casa. E eu estava duro. Camila foi embora almoçar em sua casa. Daniel me deu algum dinheiro para comprar ovos com mortadela. E assim foi feito. E assim almoçamos.


FIM

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quarta-feira, 9 de junho de 2010

DESCONTANDO O CHEQUE

foto e texto: walter rodrigues


Álvares desce do ônibus afetado por uma ressaca colossal. Avenida Presidente Vargas, Belém do Pará. Os dias de fevereiro na cidade seguem nublados e chuvosos. Ele caminha vencendo os panfleteiros e vendedores ambulantes tão caros naquele logradouro. Na mente as coisas circulam vagarosamente, ele apenas segue com passos lentos no rumo do Banco da Amazônia.
Duzentos e setenta reais e quarenta centavos para serem descontados de um cheque assinado por seu mais ex-recente patrão. Novamente desempregado e desiludido, Álvares Rocha sente que as coisas estão voltando a se normalizar.
O cheque é pago após muito tempo na fila. O rapaz sente fome e principalmente angústia. Deseja beber. Entra num supermercado e compra litro e meio de vinho e segue para os Correios. Tenta enviar quatro cópias de seu manuscrito para um concurso literário em São Paulo, mas o peso da correspondência ultrapassa os 500 gramas. Para ser exato: 530g.
- Só dá pra enviar por SEDEX, ou, o senhor pode dividir o volume em dois envelopes – informa-lhe a atendente.
- Obrigado, mas o SEDEX é o olho da cara - responde ele recolocando o material em sua sacola de pano.
Então Álvares resolve comprar alguns shorts e camisetas. E antes dele entrar numa loja, ele abre sua sacola, senta-se na calçada, destampa sua garrafa de vinho e bebe um pouco.

- O senhor pode experimentar ali nos fundos – fala-lhe a vendedora após conferir as roupas escolhidas pelo rapaz.
Álvares segue para o vestiário. Os shorts e camisetas caíram legal em seu corpo largo. Ele olha-se no espelho e por alguns instantes percebe-se um sujeito não tão feio com se julga frequentemente.
Depois ele segue no rumo do Ver-o-Peso, pensa em tomar uma cerveja no mercado de ferro, cartão postal da cidade, mas acha pouco conveniente dado que levava ainda muito vinho em sua sacola. Por isso, ele resolve entrar no Solar da Beira.
O Solar da Beira tratava-se de um solar construído em estilo colonial, assentado rente a Avenida Castilho França tendo os seus fundos voltados para a imensa Baía do Guajará. O lugar abrigava o Museu do Índio. Álvares gostava de beber ali. Uma escada dava acesso ao segundo piso, lá onde o pessoal da limpeza pública tirava uma soneca e jogava cartas em seu horário de almoço. O espaço era amplo, silencioso e limpo.
Álvares senta-se junto à imensa janela de arco pleno com gradil trabalhado em ferro, e observa a sua amada Baía do Guajará “como se fosse gente viva”, segundo suas palavras. O mercado cartão postal ao lado com suas formas retas lhe passa uma certa sensação de amparo, companheirismo.
Os barcos atravessam para Barcarena, turistas com suas câmeras digitais e com a pele excessivamente vermelha, observam achando tudo exótico sem perceberem que única coisa exótica ali são eles próprios. Alguns velhos estão sentados bebendo conhaque e conversando. Álvares observa tudo do alto de sua janela como se fosse um deus onipresente. Aquilo o distrai e ele sente vontade escrever. As palavras bailam em sua cabeça. Ele gosta da sensação. Há tempo não se sentia assim. Bebi mais um pouco.
Passando-se algumas horas ele tenta se levantar de sua cadeira e acaba caindo. Os garis, que estavam jogando baralho, caem na gargalhada. Ele se ergue naturalmente, olha para os garis e segue com sua postura esguia rumo a Academia Paraense de Letras a fim de inscrever sua obra no concurso anual.
Para sua frustração, a Academia estava fechada. Ele senta-se na calçada junto a uma mangueira e fica bebendo por algum tempo enquanto observa a ampla fachada do Corpo de Bombeiros. Ainda não seria dessa vez que ele conseguiria inscrever sua obra em um concurso.
- Outro dia eu volto – ele diz erguendo-se e seguindo em direção a uma boate, onde havia strip-tease a cada meia hora durante o dia toda.
Para sua surpresa a boate havia fechado suas portas fazia alguns meses. Só restava o lugar de onde um dia fora o Club’s Show Drink’s, ou melhor, o Clube C, conhecido também como o Novo Chuá. Tudo acaba um dia, ele pensa. Ainda bem que ele escrevera e publicara um artigo em um livro sobre a memória da cidade a respeito daquele lugar.
Então um grupo de homens de meia-idade surge na esquina. Eles também estavam procurando pela boate.
- Não acredito que fechou... a gente nem teve tempo de conhecer – um dos homens disse.
- Infelizmente – lamentou Álvares. – Era um lugar muito agradável. Shows a todo o momento e muita puta bonita. Mas vocês já foram à boate B Vermelho?


A boate B Vermelho só abriria a partir das 19h00min. Ainda eram 14h00min. Então eles seguiram até as boates da Rua Gaspar Viena. Mas havia apenas uma boate aberta. Lá entraram. Beberam algumas cervejas e seguiram para outra boate do Comércio. Havia belas putas ali. Muitas se chegavam faceiras. Um dos coroas seguiu com uma das putas para o quarto. Álvares só queria beber. E nisso ele estava se saindo muito bem.
Após as putas perceberem qual era a intenção deles, a de apenas beber, elas apenas se chegavam para pedir cigarros vez ou outra. Depois o coroa voltou aliviado. Havia fodido muito conforme suas palavras. Seus parceiros apenas sorriram.
Depois de algumas horas emborcando copos e ouvindo música brega, eles resolveram deixar o recinto. A tarde já ia embora. Todos já iam alto na bebida e muito bem com os seus sentimentos. Ainda pararam em um bar e tomaram mais duas. Depois seguiram adiante. Eles queriam beber no Ver-o-Peso.
A noite já havia dominado por completo. O grupo se desfaz. Era hora de apanhar um ônibus e voltar para suas vidas.
FIM
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Leia mais histórias de Álvares Rocha no blog Cachaça na Xícara

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

CARNAVAL EM BELÉM

foto: walter rodrigues

Daniel aparece por volta da cinco horas da tarde. Vou até a porta com meu copo cheio.
- Tu já estás bêbado, caralho? – perguntou-me ele a entrar.
- Um pouco, afinal, hoje é Carnaval! – respondi animado.
- Isso aí é verdade... Me dá um copo, aí!
O vinho terminou. Daniel comprou outro. E seguimos conversando e bebendo. Daniel me falou do seu novo emprego. De como não conseguia assimilar a ideia de ser um trabalhador. Trabalhador era um adjetivo que não casava bem com sua pessoa. E ele contou a respeito das funcionárias da loja. Só gostosas. Ele estava muito atraído por uma delas. Uma garota de longos cabelos dourados e uma bunda de respeito com uma tatuagem gravada bem acima. E ele tinha quase certeza de que ela também estava a fim. O problema era que a jovem estava atravessando uma crise com o namorado. Namorado que era muito influente dentro da loja. E que se quisesse queimá-lo o queimaria com certeza. Ele me falou também que já estava com o projeto de um romance. Ele também queria ser escritor. Pelo menos eu não era o único porra-louca da cidade. Enquanto isso, ele continuava no depósito de uma loja no Comércio, e eu numa infernal feira-livre.
Quando demos por nós, três garrafas de litro e meio de vinho já tinham se despedido. Eram onze horas da noite. Daniel foi dá um telefonema para sua casa.
- Mãe – falou ele no inevitável idioma “cachacês”. – Vou dormir na casa de um amigo. Já tá muito tarde pra eu ir pra casa.
...
- N-ão! Eeeeeu n-ão tô porre.
Condenou-se.

Voltamos para o setor. Estávamos sem vinho e saímos atrás de mais. Um grupo de jovens sem camisas e mal-encarados estava em pé na esquina. Passamos por eles. Eles não falaram nada. Compramos a bebida e resolvemos beber na casa de Tio João. Tio João tinha uma casa enorme e cheia de quartos. Entretanto, Daniel percebeu que precisávamos de algumas bocetas ali. Não havia viva alma na rua e uma fina garoa prometia até de manhã. Lembrei-me do Entroncamento. Lá havia o Bar do Ruy. Se déssemos sorte ainda poderíamos assistir alguns shows de strip-tease e comer alguma puta de quinze reais. E assim deixamos a casa de Tio João e seguimos no rumo da Augusto Montenegro. A cidade de fato estava morta. Nem Kombis, vans ou ônibus na rua. Pegamos um táxi. Daniel estava estribado. Havia saído vale para os empregados no final de semana.
Chegando em frente ao Bar do Ruy, a decepção: fechado. Um silêncio gritante na rua da Feira da Prainha. Resolvemos descer um pouco mais. Com certeza, estávamos brincando com a sorte.
Então encontramos um cafetão parado em frente a uma boate fechada. Um homem de meia idade, alto e gordo. Os óculos que ele trazia na cara lhes davam a impressão de gente inofensiva.
- Como é o esquema aí dentro? – adiantou-se Daniel.
- A boate não está funcionando hoje. Só os quartos – respondeu categoricamente o cafetão. - O esquema é escolher a puta e ir direto para o quarto.
Olhei para o lado e vi algumas garotas em frente de uma loja fechada. Ao lado dessa loja havia uma estreita entrada delimitada com um muro oposto e uma grade de ferro adjacente.
- E quanto é o serviço? – continuou Daniel. Ele realmente estava a fim de foder.
- Falem com as meninas – disse o cafetão se retirando em seguida para junto da estreita entrada enquanto uma puta estacionava junto a nós.
Daniel seguiu na negociação. Daniel falava demais quando bêbado. Eu observava calado. Percebi um movimento estranho ao nosso redor. Um homem muito mal encarado nos observava indiscretamente do outro lado da rua. Depois o tal homem se aproximou e sentou-se na frente da loja. Ele tentava disfarçar, embora já tivesse notado que eu o tirava. Depois apareceram mais putas. O cafetão andava de um lado para o outro. Daniel queria marca um programa a três. A puta não quis. Então Daniel propôs um swing. Ela também não quis. Queria ir apenas com um de nós dois. Daniel mandou ela escolher. Ela me olhou e apontou. “Ele”. Daniel tentou me convencer a ir com a puta. Mas eu não estava disposto a foder naquela noite. O lugar estava por demais carregado e não me inspirava a menor confiança. Eu pedi licença e sair para mijar. Daniel continuou com sua negociação enjoada.
E quando eu guardava o pirulito na cueca, vi uma jovem puta conhecida. Ela era a puta titular de um dos feirantes do Entroncamento. E todos nós, da feira, a conhecíamos. Conhecíamos no sentindo de saber quem ela era vestida, somente.
- Oi, sobrinho do João – ela disse seguindo em direção à frente da loja, onde estavam Daniel e as putas.
- Oi – respondi seguindo no mesmo sentindo.

Daniel continuava a negociar. A puta estava ficando irritada. Eu olhei para outro lado da rua e a puta conhecida estava cochichando alguma coisa com os demais. À medida que os demais captavam a mensagem, lançavam um olhar furtivo em nossa direção e balançavam a cabeça positivamente. Estávamos seguros. Eu deveria tentar um concurso para Polícia Militar. Lembrei-me que já havia tentado, e tinha sido eliminado na minha entrevista com a psicóloga gostosona.
- Você não quer ir com nós dois pra cama, né? – perguntei passando levemente as mãos em sua face.
- Tem um monte de puta ali que adoraria ir – respondeu ela.
- Mas a gente escolheu você – falei sedutor.
- Só vou com um – arremeteu ela.
- Se você não quer, tudo bem, meu amor. Apesar de eu ter adorado o seu lindo rostinho.
E virando para Daniel eu disse:
- A menina não quer. Vamos embora daqui.
E seguimos até a Pedro Álvares Cabral. Depois descemos pela Avenida Dalva no rumo da Almirante Barroso. Na Almirante Barroso, nenhuma condução que nos pudesse levar para o Ver-o-Peso. Tiramos a garrafa de vinho da minha sacola de pano e bebemos um gole. Daniel estava irritado. Ele queria foder com as putas da Prainha. E ele reclamou pra caralho. Eu deixei ele reclamar sozinho. A Prainha não era a minha praia. Eu sentia saudades do Ver-o-Peso. Mas sabíamos que se era impossível arrumar uma condução até lá. Belém, no Carnaval, virava uma cidade fantasma. Nessas horas eu sentia vontade de voltar para minha antiga casa. De lá eu poderia ir andando para o Ver-o-Peso. Mas o Ver-o-Peso também deveria estar morto.
Caminhamos para Augusto Montenegro. Sentamos num dos carros de lanches da Feira do Entroncamento e pedimos uma cerveja. Um feirante me saudou. Eu o saudei de volta. Uma atendente magra e morena nos trouxe uma cerveja gelada. Ela era tão bonitinha. Senti vontade de transar com ela ali mesmo. Eu ainda não tinha visto ela por ali. Não conseguimos beber toda cerveja. Eu não me sentia legal. Pegamos uma van e voltamos para casa.